23/01/2016

RICARDO ARAÚJO PEREIRA

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Poupança, mothafucka!

Talvez seja altura de mães de todo o mundo actualizarem as suas advertências às crianças. Em vez de “não aceites doces de ninguém”, mudar para “não aceites contas-poupança de ninguém”
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De vez em quando, um grupo de publicitários tem a incumbência de criar uma campanha dirigida àquele grupo que certas pessoas costumam designar por "a malta nova".
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O uso dessa expressão costuma excluir imediatamente aqueles que a proferem desse mesmo grupo. Curiosamente, a malta nova nunca diz "a malta nova". Esse é um dos primeiros equívocos: as pessoas que desejam dirigir-se à malta nova cuidam falar a linguagem da malta nova, e acabam por fazer uma figura tão trágica como um espanhol que cuida falar inglês.
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A estratégia habitual dos publicitários que pretendem seduzir a malta nova consiste na transmissão de uma mensagem aborrecida através de música rap.
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O efeito costuma ser involuntariamente humorístico, porque não é habitual que as músicas rap se debrucem sobre as características de um produto. Mas a mais recente campanha publicitária que recorre à música rap talvez seja a primeira em que o género musical se acomoda perfeitamente ao conteúdo. Refiro-me ao tema "A dança da poupança", com o qual um banco tenciona atrair o dinheiro das crianças.
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Há um subgénero do rap chamado gangsta rap, que descreve o estilo de vida dos bandidos. Creio que qualquer rap sobre actividades bancárias deve ser incluído neste subgénero. Jay Z canta fugas à polícia e 50 Cent faz rimas acerca dos gandulos que lhe deram uns tiros. Tendo em conta o que aconteceu no BPP, BPN, BES e BANIF, qualquer movimentação bancária parece ser hoje uma actividade de risco, muitas vezes até criminosa. Faz sentido, portanto, que seja publicitada através de um gangsta rap.
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O rapper do anúncio chama-se Silver MC. É um porquinho mealheiro, mas em vez de ser cor-de-rosa, é cor de prata metalizada. Ou seja, trata-se de um porquinho pimp. Vê-se que é um desses porquinhos que bebem vodka Grey Goose pela garrafa, usa uma corrente de ouro ao pescoço e tem um tigre de estimação. É ele que canta a dança da poupança. Sabendo o que tem sido o comportamento da banca nos últimos anos, é possível que a dança da poupança produza os mesmos resultados que a dança da chuva. De uma coisa, porém, os depositantes podem ter a certeza: estamos perante verdadeira poupança. Aquele dinheiro não vai ser mal gasto. Pelo menos, pelo seu legítimo proprietário.
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Talvez seja altura de mães de todo o mundo actualizarem as suas advertências às crianças. Em vez de "não aceites doces de ninguém", mudar para "não aceites contas-poupança de ninguém."

IN "VISÃO"
21/01/16


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