13/01/2016

MANUEL BARROS MOURA

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Joguem (só) à bola!

A primeira volta do campeonato confirma Jorge Jesus como personagem central pelo brilhantismo com que levou o Sporting à liderança. Mas também por falar (eventualmente) demais

A primeira volta da Liga de futebol confirmou aqueles que eram os prognósticos no início da prova: Jorge Jesus ia ser a figura central da competição e que a luta pelo título ia durar até ao fim e seria a três.

A mudança de Jorge Jesus da Luz para Alvalade foi a peça-chave para o desenrolar da competição. Com a sua contratação, o Sporting entrou definitivamente e desde a primeira hora na disputa do título. Como fizera na Luz, há sete anos, o técnico da Reboleira revolucionou o futebol do clube e construiu uma equipa poderosa, que pratica (sobretudo nos jogos com os principais adversários) um futebol brilhante, avassalador e, por isso, vencedor.

De igual modo, tal como no início da sua passagem na Luz, Jesus assume e amplifica (e vai, por vezes, além) o discurso "bélico" dos dirigentes do clube. Há sete anos, quando Vieira e seus pares ainda disputavam o volume dos decibéis na luta contra a hegemonia do FC Porto, o discurso franco, popular e destemido de Jesus foi uma das peças que ajudou a construir o puzzle da renascença benfiquista. Agora acontece exatamente o mesmo no Sporting. O treinador é o aliado ideal na estratégia confrontacional do presidente Bruno de Carvalho (reforçada ainda pela sintervenções constantes de Octávio Machado e Inácio) tendente a recolocar o Sporting no mesmo patamar em que, na última década, só constavam Benfica e FC Porto. Os resultados estão à vista e são brilhantes: o Sporting lidera isolado com todo o mérito, joga um futebol empolgante e eficaz e (mesmo queixando-se com enorme frequência) não tem razões de queixa de arbitragens ou questões disciplinares.

Ultimamente, porém, Jesus excedeu-se, no que é também, reconheça-se, algo comum na carreira do técnico. A forma como, depois de voltar a humilhar o rival Lopetegui, quis demonstrar ser magnânimo, defendendo o treinador derrotado e, de passagem, dando mais uma bicada em Rui Vitória, correu-lhe mal. Primeiro porque pode ter acelerado o despedimento de Lopetegui, correndo o risco de ver chegar ao Dragão quem consiga fazer bem melhor do que o espanhol. E, depois, porque ao insistir no desmerecimento do seu sucessor no Benfica fez com que, como nunca até agora na Luz, todos (estrutura, jogadores e adeptos) se unissem em torno de Rui Vitória. Para além de ter deixado entender que, afinal, aquilo que o move pode não ser só a vontade de ganhar pelo Sporting mas também (ou sobretudo) a esperança de que ninguém faça melhor do que ele no Benfica...

Partimos, perante isto, para a segunda volta do campeonato com um cenário de luta claramente a três. Com o Sporting a assumir o papel de claro favorito pela posição que ocupa e pelo futebol que pratica, mas com dois rivais com alma reforçada. Um FC Porto que se livrou do treinador que teimava em emperrar uma máquina que tem quase tudo para ser demolidora e um Benfica recentrado e coeso em torno de um treinador que parece ter encontrado o seu espaço e um rumo.
Isto promete!

IN "VISÃO"
12/01/16

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