26/12/2015

JOSÉ DIOGO QUINTELA

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Portugal e a homeobanca

Celebrámos ontem o nascimento de um homem que sacrificou a vida para salvar a humanidade. Passados 2000 anos, impõem sacrifícios à nossa vida para salvar empresas. Salvar já foi uma ocupação mais digna.

Há um dilema moral lançado em conversas de café (e às vezes em cursos de filosofia) que consiste em perguntar a alguém se, para salvar 5 pessoas presas numa linha de comboio, está disposta a atirar um gordo para a frente da locomotiva, parando-a e salvando os outros. O dilema é difícil de responder e, por vezes, não se chega sequer a uma escolha categórica. A não ser que pergunte a um político português e em cima da linha do comboio esteja um banco. Aí, não há hesitação. Empurra-se logo o gordo e, se for preciso, o próprio político joga-se para cima do comboio e salva o banco. Que, provavelmente, até é dono do comboio e, de qualquer maneira, ia fazê-lo parar.

É esquisito. No Google encontram-se 55 300 "salvem os pandas" e 14 400 "salvem as baleias", mas apenas 2260 "salvem os bancos". Há um desfasamento entre aquilo que os portugueses desejam salvar e aquilo que os seus representantes eleitos efectivamente salvam. Os portugueses preferiam salvar pandas, mas quem manda opta por bancos. Para um governante português, os bancos são mais fofinhos. Este Natal houve um político que ofereceu a uma criança um BANIF de peluche. Comprado no espectáculo ‘O BANIF e Os Caricas’.

É altura de aceitar que não temos jeito para isto. Os alemães não têm jeito para o humor. Os ingleses, para a culinária. Os russos, para a abstinência. Os portugueses não têm talento para a banca. O que existe em Portugal é um sistema de culto da carga bancário: bancos iguais aos bancos lá de fora, que usam a palavra spread como os bancos lá de fora. Só que não funcionam como os bancos lá de fora. Copiamos a aparência de um sistema bancário e esperamos que funcione. Tal como a medicina alternativa, que imita a medicina, mas não é medicina, assim é a nossa banca.

Em Portugal temos banca alternativa. Temos homeobanca.

Já agora: "Há claramente um problema de supervisão"
Disse Maria Luís Albuquerque. É algo que não se espera ouvir da ex--ministra das Finanças. Só, talvez, do oftalmologista do Super- -Homem. "Sr. Super-Homem, não identifica as letras da 5ª fila do cartaz do consultório de Tóquio? É claramente um problema de supervisão. Tome as supergotas".

E mais: Isto dos bancos escangalhados começa a inquietar
Começou com um a esmigalhar-se contra pessoas. Passado um pedaço, já estava outro a assustar. Logo depois, mais dois. Agora, estamos cercados de bancos ameaçadores. Uma espécie de ‘Os Pássaros’, só que com instituições bancárias em vez de aves agressivas.

Só para terminar: Em caso de dúvida, não escolher a alínea ‘b’ 
Confirma-se uma das regras que me norteiam: não dar crédito a organizações cujo nome dê uma sigla que inclui a letra ‘B’. A minha vida é muito mais tranquila por não ter nada a ver com BPN, BES, BANIF, BPP, BdP, KGB, BdE, FB ou SLB.

IN "CORREIO DA MANHÃ"
26/12/15

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