21/12/2015

JOANA PETIZ

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Brincar com o fogo

Aos 18 meses, Andrew Rios começou a tomar Risperdal, um medicamento usado para tratar adultos com esquizofrenia e doença bipolar. O antipsicótico foi-lhe receitado pelo médico para combater o comportamento agressivo - provocado pelo antiepilético que tomava para aplacar as horríveis convulsões de que sofria desde antes de fazer 6 meses.

A história de Andrew, que vive na Califórnia, é contada pelo The New York Times, mas o seu caso não é único. Nos Estados Unidos, foram passadas no ano passado 20 mil receitas deste tipo de medicamento a bebés de 2 anos ou menos. Por cá, ainda não se chegou a esse extremo, mas o problema existe: há cada vez mais médicos a receitar antipsicóticos a crianças. Não é à toa, são miúdos a quem é diagnosticado défice de atenção e hiperatividade. Mas a própria Direção-Geral da Saúde reconhece que há um excesso de medicamentação e que os médicos são muitas vezes pressionados por pais, psicólogos ou professores para receitarem antipsicóticos aos miúdos. O objetivo é acalmá-los, ajudá-los a concentrar-se - tanto mais quanto evoluem na escola e na exigência de obter bons resultados. Mas estes remédios são feitos para adultos, para casos de saúde mental - imagine-se o que poderão fazer a cérebros ainda em formação. Os efeitos colaterais, esses são conhecidos: insónias, apatia, alucinações, tiques.

No caso de Andrew, mais alguns - ataques de pânico quando adormecia, falar com pessoas que não estavam lá, pegar em objetos que não existiam. A mãe não demorou muito a procurar mais informação sobre o medicamento e a retirar-lho. Em Portugal, no ano passado foram dispensadas 276 mil embalagens de metilfenidato (conhecido como ritalina) - usado em crianças e adolescentes entre os 5 e os 19 anos -, em 2010 não chegavam nem a metade. Estamos mesmo dispostos a arriscar brincar com os cérebros dos nossos filhos desta maneira?

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
14/12/15


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