17/10/2015

FREDERICO DUARTE CARVALHO

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“Costa Concórdia” 

Como defendi na semana passada, António Costa venceu as legislativas. E diz o povo: ele agora tem a faca e o queijo na mão. Costa pode cortar quando e como quiser. O problema vai ser a partilha. A quem irá ele dar mais queijo?

À coligação PSD/CDS ou à esquerda? Afinal, estamos a falar do líder de um partido que fez o “Orçamento do Queijo Limiano” com um deputado do CDS. É possível que agora seja o “Orçamento do Costa Concórdia” com o BE. Sou da opinião de que o PS beneficiou com as eleições gregas, pois foi graças ao facto do Syriza se ter revelado um partido “responsável” e ter conseguido manter a Grécia no Euro que houve uma transferência de votos do PSD para o… BE.

Graças a essa transferência, a coligação perdeu a maioria absoluta, logo Costa beneficiou com o crescimento do BE, uma vez que dificilmente esses eleitores iriam votar PS. A lógica do voto “extra” no BE reside, na minha opinião pessoal, num factor: são eleitores cansados e esclarecidos que acham que PSD, CDS e PS são todos “farinha do mesmo saco” e votaram no BE porque sabiam que, apesar de radicais, são menos organizados e menos “perigosos” do que o PCP. Não votaram, por exemplo, no Livre de Rui Tavares porque ainda se lembram do que este partido fez a monárquicos como eu: não lhes deu liberdade.

O BE tem ainda aquele condão de poder “irritar” os poderes há muito estabelecidos. Fundamental neste último caso foi a prestação da deputada Mariana Mortágua no embate com Zeinal Bava na comissão do BES. Aquilo arrancou sorrisos em capitalistas que depois não se importaram de votar BE no dia 4 de outubro. António Costa pode fazer de conta que não está a fazer “bluff” nas negociações com BE.

Mas, calcula-se o mais provável: Costa quer concórdia e vai negociar até ao limite. Se não entrar num governo de “salvação nacional” com PSD e CDS, não vai inviabilizar o governo de coligação e mantém a “rolha” à esquerda. Se arriscar um governo com o apoio do BE, vai arriscar muito mais. Assim, espera-se até janeiro, altura da eleição de Marcelo para Belém – que aproveita assim com a divisão do PS entre Nóvoa e Maria de Belém.

Depois dessa eleição, há que esperar pela tomada de posse do novo Presidente da República, o que está previsto para Março. Como Marcelo não pode convocar novas eleições nos primeiros meses do seu mandato e como estas têm de ser convocadas com antecedência, logo só poderemos ter eleições antecipadas lá para o fim do Verão de 2016. Há assim todo um tempo de espera e de jogos políticos que têm de mobilizar outros partidos.

A campanha eleitoral para as próximas eleições já começou. Acredito que PSD, CDS e PS estão esgotados de soluções. Não há mais imaginação nem pessoas capazes de transmitir moral política. A Nação está exaurida nas finanças e nos homens e mulheres que poderiam permitir a recuperação social.

Esta é a melhor hora para acordar. Este período de “Costa Concórdia” pode ser um autêntico “Titanic” para os partidos que beneficiaram com o golpe de teatro da NATO que ficou conhecido entre nós como 25 de Abril e foi ratificado a 25 de Novembro de 1975. Entre os partidos que precisam de começar a trabalhar para atrair futuros políticos capazes de produzir soluções credíveis e viáveis, sérias e ponderadas, concretizáveis e benéficas, nacionais e não nacionalistas, patrióticas e não separatistas, está o MPT.

Este partido aguentou o embate da polémica de Marinho Pinto. Conseguiu limpar-se da imagem deixada pelo triste exemplo cívico do ex-bastonário da Ordem dos Advogados – e que lhe valeu não conseguir eleger um único deputado. Acredito que, nas próximas eleições, aqueles votos do PSD que foram para o BE podem ir para o MPT. Trabalhe-se para isso enquanto se assiste ao naufrágio do “Costa Concórdia”.

Jornalista e escritor

IN "OJE"
13/10/15


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