“Costa Concórdia”
Como defendi na semana passada,
António Costa venceu as legislativas. E diz o povo: ele agora tem a
faca e o queijo na mão. Costa pode cortar quando e como quiser. O
problema vai ser a partilha. A quem irá ele dar mais queijo?
À coligação PSD/CDS ou à esquerda? Afinal, estamos a falar do líder
de um partido que fez o “Orçamento do Queijo Limiano” com um deputado do
CDS. É possível que agora seja o “Orçamento do Costa Concórdia” com o
BE. Sou da opinião de que o PS beneficiou com as eleições gregas, pois
foi graças ao facto do Syriza se ter revelado um partido “responsável” e
ter conseguido manter a Grécia no Euro que houve uma transferência de
votos do PSD para o… BE.
Graças a essa transferência, a coligação perdeu a maioria absoluta,
logo Costa beneficiou com o crescimento do BE, uma vez que dificilmente
esses eleitores iriam votar PS. A lógica do voto “extra” no BE reside,
na minha opinião pessoal, num factor: são eleitores cansados e
esclarecidos que acham que PSD, CDS e PS são todos “farinha do mesmo
saco” e votaram no BE porque sabiam que, apesar de radicais, são menos
organizados e menos “perigosos” do que o PCP. Não votaram, por exemplo,
no Livre de Rui Tavares porque ainda se lembram do que este partido fez a
monárquicos como eu: não lhes deu liberdade.
O BE tem ainda aquele condão de poder “irritar” os poderes há muito
estabelecidos. Fundamental neste último caso foi a prestação da deputada
Mariana Mortágua no embate com Zeinal Bava na comissão do BES. Aquilo
arrancou sorrisos em capitalistas que depois não se importaram de votar
BE no dia 4 de outubro. António Costa pode fazer de conta que não está a
fazer “bluff” nas negociações com BE.
Mas, calcula-se o mais provável: Costa quer concórdia e vai negociar
até ao limite. Se não entrar num governo de “salvação nacional” com PSD e
CDS, não vai inviabilizar o governo de coligação e mantém a “rolha” à
esquerda. Se arriscar um governo com o apoio do BE, vai arriscar muito
mais. Assim, espera-se até janeiro, altura da eleição de Marcelo para
Belém – que aproveita assim com a divisão do PS entre Nóvoa e Maria de
Belém.
Depois dessa eleição, há que esperar pela tomada de posse do novo
Presidente da República, o que está previsto para Março. Como Marcelo
não pode convocar novas eleições nos primeiros meses do seu mandato e
como estas têm de ser convocadas com antecedência, logo só poderemos ter
eleições antecipadas lá para o fim do Verão de 2016. Há assim todo um
tempo de espera e de jogos políticos que têm de mobilizar outros
partidos.
A campanha eleitoral para as próximas eleições já começou. Acredito
que PSD, CDS e PS estão esgotados de soluções. Não há mais imaginação
nem pessoas capazes de transmitir moral política. A Nação está exaurida
nas finanças e nos homens e mulheres que poderiam permitir a recuperação
social.
Esta é a melhor hora para acordar. Este período de “Costa Concórdia”
pode ser um autêntico “Titanic” para os partidos que beneficiaram com o
golpe de teatro da NATO que ficou conhecido entre nós como 25 de Abril e
foi ratificado a 25 de Novembro de 1975. Entre os partidos que precisam
de começar a trabalhar para atrair futuros políticos capazes de
produzir soluções credíveis e viáveis, sérias e ponderadas,
concretizáveis e benéficas, nacionais e não nacionalistas, patrióticas e
não separatistas, está o MPT.
Este partido aguentou o embate da polémica de Marinho Pinto.
Conseguiu limpar-se da imagem deixada pelo triste exemplo cívico do
ex-bastonário da Ordem dos Advogados – e que lhe valeu não conseguir
eleger um único deputado. Acredito que, nas próximas eleições, aqueles
votos do PSD que foram para o BE podem ir para o MPT. Trabalhe-se para
isso enquanto se assiste ao naufrágio do “Costa Concórdia”.
Jornalista e escritor
IN "OJE"
13/10/15
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