Os húngaros são o mesmo povo
que acolheu os refugiados da
Alemanha do Leste há 25 anos
Os húngaros lembram-se bem do tratamento que os refugiados de 1956 receberam em todo o mundo. Até hoje continuamos a gratos por isso. Mas também todos eles queriam integrar-se nas suas novas pátrias.
Os meios de comunicação internacionais estão repletos de imagens de
Röszke, uma pequena aldeia na fronteira servo-húngara. Certamente, os
habitantes dessa pequena terra nunca aspiraram a essa fama. Quando os
migrantes passavam pelas suas propriedades, as pessoas da região sentiam
que viviam numa espécie de corredor. Ajudavam quando podiam e
sentiam-se infelizes com os cenários que os migrantes, às vezes,
deixavam atrás de si.
A imprensa portuguesa também deu uma vasta cobertura mediática ao
confronto entre a polícia húngara e os migrantes quando estes tentaram
forçar a entrada através da cerca que a Hungria construiu,
temporariamente, para proteger a sua fronteira e, consequentemente, a
comunitária. Sem dúvida, a polícia aplicou, em Röszke, medidas fortes,
mas a situação também era extrema.
A Hungria levantou, já no ano passado, a questão do número crescente
de migrantes ilegais. Hoje já sabemos que não se prestou atenção
suficiente à chamada “Rota dos Balcãs” que se foi desenvolvendo com
muita rapidez. Nesse contexto, foi muito apreciado na Hungria o
comentário do político alemão, Elmar Brok, referindo que o país foi
abandonado a si próprio na questão da crise migratória.
De facto, no início muitas pessoas na Hungria sentiram que várias
capitais europeias reagiam com pouco interesse às notícias alarmantes
sobre a chegada constante de migrantes – refugiados e migrantes
económicos. Não paravam de chegar. Apenas uma nota: a Hungria recebeu,
só nos primeiros 9 meses deste ano, 200 mil pessoas que tinham
atravessado ilegalmente a sua fronteira com a Sérvia. O ano passado este
número foi de 45 mil e, em 2013, de 20 mil. Há uns meses a Hungria
propôs uma conferência sobre a rota migratória dos Balcãs que ainda
esperamos poder organizar num futuro próximo.
Torna-se cada vez mais claro que, para além de observar os nossos
princípios fundamentais, precisamos de resolver os problemas muito
concretos de como proteger as fronteiras externas da União, ou seja, a
nossa zona de segurança comum atendendo, simultaneamente, às
necessidades dos refugiados e migrantes. A proposta de solução das
quotas apenas tocou a superfície do problema. Será que o nosso sistema
actual só funciona em situações menos extremas?
Temos a noção de que vivemos num mundo mediático, imagens de um lugar
ou de uma pessoa saltam para o mundo inteiro, exercendo um enorme
impacto positivo ou negativo sobre a percepção de qualquer assunto.
Neste momento a imagem da Hungria é bastante negativa, mas – na minha
óptica – bastante unilateral, também. Não existe qualquer desculpa para
os actos da operadora de câmara Petra László, mas é importante sabermos
que ela está sob investigação judicial.
Não só cidadãos particulares e ONG mas também o Estado húngaro
aumentou as suas capacidades para ajudar os migrantes. Durante semanas e
meses, a polícia desempenhou as suas funções com muita paciência. A
esposa do primeiro-ministro tem-se empenhado na ajuda dos refugiados
através da Organização Ecuménica de Ajuda da Hungria. Apenas na semana
passada, o Governo húngaro concedeu 200 milhões de HUF para apoiar a
actividade da Cruz Vermelha Húngara, da Organização Ecuménica de Ajuda e
dos Serviços de Assistência da Ordem de Malta na Hungria que têm dado
assistência aos migrantes no país e, através das suas organizações
parceiras, na Sérvia. Manifestei, também, a minha gratidão pela ajuda
portuguesa para os refugiados, que neste preciso momento está a ser
transportada pela organização AylanKurdiCaravan.
Zoltán Balog, ministro dos Recursos Humanos da Hungria disse, durante
um programa de debate político no canal público alemão ARD, que os
húngaros não mudaram: continuam a ser o mesmo povo que acolheu, há 25
anos, os refugiados da Alemanha do Leste e que, no início da Guerra dos
Balcãs, foi o primeiro a ajudar as pessoas que fugiam da Jugoslávia que
se estava a desintegrar.
Os húngaros lembram-se bem do tratamento que os refugiados de 1956
receberam em todo o mundo. Até hoje continuamos a sentir gratidão por
esse acolhimento. Mas um desses refugiados, um senhor idoso que vive na
Grã-Bretanha, lembrou que esses 200 mil refugiados fugiam dos perigos da
morte ou da prisão iminentes, cooperavam com as autoridades e
permaneciam em campos de refugiados até que um dos estados os acolhesse,
sem ter uma palavra sobre a escolha do seu destino final. Sobretudo,
queriam todos integrar-se e estabeleceram-se, na grande maioria cidadãos
das suas novas pátrias.
Em meu entender, a dada altura terá de haver um debate profundo com a
participação de políticos e cidadãos europeus sobre como a União
Europeia deverá ajudar a resolver o problema muito complexo que originou
este fluxo migratório. A diversidade de opiniões é bem reflectida nas
cartas que recebo, enviadas por cidadãos portugueses, uns felicitando a
Hungria pelo encerramento da fronteira, outros condenando essa mesma
medida. Temas como a instabilidade do Médio-Oriente, o envolvimento da
EU, a protecção das fronteiras, o tráfico de seres humanos, a ajuda
concedida aos campos de refugiados estabelecidos na proximidade dos
cenários de guerra deverão ser abordados nesse debate. Ao mesmo tempo, é
minha convicção que neste momento o carácter urgente do problema não
nos deixa muito tempo para uma longa discussão. A próxima reunião do
Conselho Europeu será determinante para evitar problemas ainda mais
graves.
O primeiro-ministro húngaro, recorrendo, sem dúvida, a palavras
fortes, lembrou-nos a todos de que os Estados-membro têm obrigação de
defender as fronteiras externas para podermos preservar o espaço
Schengen. Disse, também, que a falta de controlo das entradas
representava um risco de segurança para o continente. Perguntou, várias
vezes, se tínhamos noção da distância entre a fronteira servo-húngara e a
costa meridional da Europa. Reiterou, também, que os traficantes de
seres humanos não deveriam ser encorajados pelo sentimento europeu de
deixar entrar qualquer pessoa. E disse, de facto, que só os verdadeiros
refugiados deveriam vir: a Europa não teria capacidade para acolher
todas as pessoas. Podem parecer palavras duras, mas convém percebermos
que não sem fundamento.
Seja através da defesa das fronteiras externas da UE, seja através da
mobilização de recursos financeiros para os campos de refugiados perto
das zonas de conflito e da ajuda aos refugiados em território húngaro, a
Hungria quer contribuir para a resolução do problema.
Olhando para os rostos das crianças exaustas, dos idosos, dos maridos
ansiosos por um futuro melhor para as suas famílias, todos sentimos o
conflito nos nossos corações: queremos ser caridosos, mas não queremos
importar problemas insolúveis para a UE. A integração daqueles que
ficarão é uma questão-chave. Os diferentes países poderão suportar
diferentes encargos na ajuda dos migrantes, em conformidade com as suas
ligações históricas e com a sua presente situação económico-social.
Estou convencida de que se torna cada vez mais claro que a União
Europeia está a enfrentar um dos desafios mais complexos da sua
história, sendo que ele não é apenas europeu, mas global. Não queremos
perder o nosso sentimento de compaixão mas, ao mesmo tempo, temos que
perceber que não seremos capazes de deixar entrar a todos. Sabedoria,
sensatez e bom coração – tudo será necessário para o Velho Continente
poder preservar a sua identidade conforme está escrito no Preâmbulo do
Tratado de Lisboa: “Inspirando-se no património cultural, religioso e
humanista da Europa, de que emanaram os valores universais que são os
direitos invioláveis e inalienáveis da pessoa humana, bem como a
liberdade, a democracia, a igualdade e o Estado de direito”.
Conseguiremos manter-nos leais aos nossos valores se o nosso objectivo
for defender todos esses valores de uma forma equilibrada.
Embaixadora da Hungria em Lisboa
IN "OBSERVADOR"
22/09/15
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Este blogue sempre se propôs a integrar artigos de opinião de todos os quadrantes políticos, É também raro que os nossos pensionistas comentem artigos de opinião. Mas o execrável artigo de opinião da sra. embaixadora da Hungria leva-nos a abrir uma excepção. No artigo, veladamemte, concorda-se com a ordem do 1º ministro húngaro em autorizar as forças militres e de segurança de poderem disparar sobre refugiados sofredores e desarmados.No artigo concorda-se com uma autorização de entrada selectiva de refugiados, isto é salvam-se uns mandam-se para a morte outros.
ResponderEliminarO povo húngaro só tem de estar grato ao resto da Europa do ocidente ao receber os seus cidadãos fugidos quando da invasão soviética, ninguém lhes pôs condições para os acolher.
Viktor Orbán e seus seguidores são xenófobos e a sra. embaixadora da Hungria concorda com esta xenofobia e um jornal português parece que também.
A UE está a gerir de modo horrível esta crise sem precedentes,no entanto há países e cidadãos desses países com um comportamento admirável, Portugal é um deles.