18/09/2015

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HOJE NO
 "DIÁRIO ECONÓMICO"

Crédito ao consumo é responsável 
por nove em cada dez 
situações de incumprimento

Concessão de crédito ao consumo em Portugal regressa a níveis pré-troika.

A concessão de crédito ao consumo está novamente a disparar em Portugal. Só em Julho, os bancos emprestaram 276 milhões de euros para efeitos de consumo, o valor mais alto desde Março de 2011, em níveis pré-troika. Somando a concessão de crédito feita pelas financeiras e também os montantes disponibilizados através de cartões, descobertos autorizados e linhas de crédito, então este valor sobe para os 436 milhões de euros em Julho, ou 2,8 mil milhões de euros nos primeiros sete meses do ano, mais 22% face ao homólogo.
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Uma tendência que está a ser alimentada por bancos e consumidores apesar do rácio de crédito em incumprimento neste segmento permanecer perto de máximos históricos. E ainda que existam hoje menos devedores em incumprimento, ao longo de três anos o recuo foi apenas marginal. No auge da crise, em Junho de 2012, existiam 649.449 famílias portuguesas incapazes de cumprir com as prestações mensais do seu crédito ao consumo. Hoje são 591.360. Ou visto por outra escala, o crédito ao consumo é responsável por nove em cada dez famílias em incumprimento. E isto apesar da implementação do Plano Extrajudicial de Regularização de Situações de Incumprimento, pelo Banco de Portugal, no início de 2013, ter culminado com a regularização de dívidas em 425.591 processos até ao final de 2014.

"Gostaria muito de dizer que todos aprendemos alguma coisa com o que se passou mas na verdade acho que estão a ser cometidos os mesmos erros do passado", diz Natália Nunes, responsável pelo Gabinete de Apoio aos Sobreendividado da Deco, onde todos os dias continuam a chegar os casos mais extremos de incumprimento, num ritmo que continua a ser idêntico ao registado no último ano. "Voltamos a ver os bancos com uma forte aposta na publicidade a este tipo de crédito, voltamos a ver técnicas de venda agressivas como as bancas nos centros comerciais que tentam vender cartões de crédito", elenca a responsável da Deco. Adianta que: "Noto algum ‘entusiasmo' por parte dos consumidores, alimentado um pouco pela ideia de que o pior já passou, de que a crise acabou. E tenho muito medo que os consumidores se deixem novamente a seduzir por esta oferta".

Uma visita pelos sites dos principais bancos nacionais permite perceber a aposta neste tipo de oferta. O crédito ao consumo, nomeadamente o crédito pessoal e os cartões de crédito, aparece actualmente destacado na publicidade de cinco das seis maiores instituições de crédito. Uma aposta legítima dos bancos, principalmente numa altura em que a recuperação da margem financeira continua a ser uma prioridades do sector. Apesar disso, Natália Nunes lembra que também os bancos foram afectados pelo incumprimento bancário, e que portanto a concessão de crédito responsável deverá ser igualmente do seu interesse. Ainda que: "Os consumidores têm de perceber que, em última análise, são eles os principais prejudicados".

Mas comprar um automóvel, mobilar a casa, fazer obras, estudar no estrangeiro ou até ter umas férias paradisíacas, podem ser necessidades ou sonhos legitimamente concretizáveis através do recurso ao crédito, para benefício das instituições de crédito mas também dos consumidores. Não se devem tratar no entanto de decisões tomadas de forma impulsiva ou leviana. Por isso mesmo a especialista da Deco alerta para os cuidados a ter na altura de contratar um crédito ao consumo (ver texto ao lado), entre os quais, fazer uma prospecção de mercado e negociar. Isto porque, apesar das taxas de juro se encontrarem hoje em níveis historicamente baixos, os custos continuam a ser consideráveis.

Num crédito pessoal no valor de 6.000 euros (o valor médio em Portugal), a pagar em 36 meses, pagaria mais quase 1.000 euros no final do contrato, considerando a oferta mais em conta do mercado que é, segundo o simulador da Deco, o ActivoBank, com uma TAEG de 10,1%. Já se considerar a taxa de juro mais cara actualmente possível para estes contratos, fixada pelo Banco de Portugal em 15,4% para o terceiro trimestre, então chegará ao final dos três anos com uma factura total em torno dos 7.650 euros. Custos que serão tanto maiores quanto os montantes e prazos solicitados. Num empréstimo de 15.000 euros a 60 meses, com uma TAEG de 15,4%, os custos totais imputados ao consumidor ultrapassam os 22.000 euros.

* O disparo do crédito ao consumo é uma manobra eleitoralista do governo gizada em conjunto com a banca que o apoia. Bancos sem políticos não sobrevivem e vice versa.

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