06/09/2015

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ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"

Onde param as 75 mil casas da Argélia?

Fevereiro de 2013. Quatro meses depois da assinatura em Argel de protocolos e parcerias, a diplomacia económica e o ministro da Economia Álvaro Santos Pereira conseguiam um admirável negócio para quatro construtoras portuguesas: a construção de 75 mil casas sociais, distribuídas por várias cidades. Lena, Prebuild e as nortenhas Painhas e Gabriel Couto, os felizes contemplados, não esconderam o entusiasmo com a assinatura dos contratos. A Lena já operava no mercado argelino, as outras companhias beneficiavam de uma excelente oportunidade para se estrearem num promissor mercado externo.

O "IGNORO"
Os números, de facto, impressionavam. Entre obra direta e exportação de materiais, a indústria portuguesa recebia uma injeção de €4 mil milhões. Mas, passada a euforia do momento, a realidade encarregou-se de desfazer as ilusões. Nenhuma empreitada avançou, tudo se resumiu a foguetório mediático. O ministério da Economia, contactado pelo Expresso, remeteu explicações para a AICEP, mas a agência ignorou o pedido de esclarecimento.

O que se passou, afinal? Segundo a Lena, que tomou firme 20 mil casas, a empreitada não avançou “porque as condições apresentadas não eram favoráveis”. A operação implicava uma parceria de capital com uma empresa estatal argelina. “Os preços eram tabelados e absolutamente impraticáveis. Era para perder muito dinheiro”, recorda Joaquim Paulo Conceição, presidente da Lena. Painhas e Gabriel Couto também se desinteressaram e não chegaram a assinar contratos. Continuam ausentes do mercado argelino.

O modelo adotado pela Lena na Venezuela servira de inspiração ao caso argelino, com a instalação de uma central de prefabricação para os elementos estruturais. O grupo ainda pressionou uma revisão das condições, mas em vão. O lado argelino estava confortável: as construtoras chinesas aceitariam aqueles preços. No caso da Lena, o contrato duplicaria uma carteira centrada em hospitais (cinco), estradas e portos, avaliada em €500 milhões.
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Prebuild fica no mercado

O revés da Prebuild é diferente. O conglomerado foi o único que arriscou uma joint venture, firmando a adjudicação do complexo de 20 mil casas na cidade de Blida. A ofensiva correu mal. Ainda investiu €350 mil na instalação de uma central de betão e deslocou 20 técnicos. Mas a parceria, explica o grupo, esbarrou na “legislação argelina e na falta de empenho da diplomacia económica”, agravada pela saída da equipa de Álvaro Santos Pereira e a substituição do embaixador em Argel.

O primeiro contratempo verificou-se no plano salarial: teria de pagar aos expatriados pela tabela do parceiro local. Um engenheiro só poderia ganhar €350 por mês. A parceria teve de ser desfeita e decorre ainda o acerto de contas. O sócio argelino tomou conta da empreitada que decorre a um ritmo muito lento.

A Prebuild reconhece que as margens eram muito esmagadas, mas acreditou na virtude do negócio porque ficaria numa posição favorável para construir infraestruturas, escolas e hospitais a preços mais atrativos e a operação induziria a exportação de revestimentos cerâmicos, portas e outros elementos fabricados pelo seu universo fabril. Por exemplo, a Porama, uma carpintaria de Sintra, logo fez as contas e concluiu que venderia 100 mil portas. Sujeita a um Processo Especial de Revitalização (PER), encontra-se agora inativa, sendo uma das quatro do conglomerado no circuito judicial. A Porama deverá ser integrada na Levira, de mobiliário de escritório desativando a base em Sintra.

Mas nem tudo se perdeu nesta infeliz estreia. A experiência levou o grupo a criar a Prebuild Algérie que já assinou com um promotor privado a construção de 800 apartamentos, em Oran, a segunda cidade do país. Uma empreitada de €12 milhões que impulsionará a incipiente exportação de materiais do conglomerado para o mercado argelino.

* Isto é o que acontece quando os chineses mandam num governo folclórico (PSD/CDS).

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