17/08/2015

ANA RITA GUERRA

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Vem aí o "Uber' 
do estacionamento e 
das bombas de gasolina

Antes que dê um fanico a alguém, não se trata de uma nova empresa que vai enviar estafetas com gasolina a pedido dos utilizadores. Também não é uma equipa de arrumadores que se pode mandar vir através de uma app. É simplesmente uma tecnologia que a empresa alemã SAP está a testar e a que chama "o Uber do estacionamento e do abastecimento." Poder-se-ia também dizer que é uma Via Verde com esteróides, em que não é preciso sequer digitar códigos - o computador de bordo identifica e paga tudo sozinho.

Na semana passada, pude ver como funciona no complexo da empresa em Silicon Valley. A primeira surpresa foi descobrir que a SAP tem bombas de gasolina internas, apesar dos carros eléctricos por todo o lado e de "sustentável" ser o mote na região.

A demonstração foi feita num Ford Mustang encarnado e descapotável. Segundo Gil Perez, que lidera a divisão de carros conectados na empresa, a plataforma é adaptável a qualquer modelo, bastando o fabricante automóvel querer. Na demo, estacionámos o carro ao pé da bomba de gasolina e foi feita a ligação via Wi-Fi, bastando clicar no ecrã do carro para confirmar. Concluído o abastecimento, a conta foi debitada e o recibo apareceu no ecrã do computador de bordo - tal como quando se usa o Uber.

Na bomba, o ecrã oferecia cupões de desconto para serem usados em vários itens, incluindo Snickers. "Imagine o que os donos da bomba podem fazer com esta informação, quantos clientes imprimem os cupões e depois os usam para comprar chocolates!" disse, entusiasmado, mandando imprimir todos os descontos. Claro, esse poder analítico é o pão nosso de cada dia das grandes empresas, que procuram refinar cada vez mais o conhecimento sobre os consumidores.

Mas faz sentido usar um carro para fazer a transacção, quando pagamentos móveis é que estão a dar? "Os regulamentos proíbem a utilização de telemóveis ao pé de bombas de gasolina", apressou-se Perez a explicar. Além disso, nada é mais conveniente que pagar sem tirar a carteira ou o telemóvel do bolso.

A outra situação que a SAP quer revolucionar à la Uber, quiçá ainda mais interessante, é a do estacionamento. Primeiro, o sistema pesquisa e descobre o parque mais adequado ao nosso destino. Com o Mustang, o computador de bordo comunicou com o parque subterrâneo assim que nos aproximámos; apareceu a tarifa no ecrã do carro e um botão para abrir a cancela. Lá dentro, o sistema de navegação indicou o lugar vago mais próximo. À saída, foi igual. Mas a parte mais interessante é que a aplicação podia ter sido usada para reservar um lugar com antecedência, por exemplo se estivéssemos parados no trânsito.

O que é que a SAP tem a ganhar com isto? Fornecer a plataforma e o software de ligação entre os vários intervenientes. A ideia é também ligar a app a restaurantes e cafés, como Pizza Hut e Starbucks, onde o sistema encontra o mais próximo, faz a encomenda e indica onde recolher, fazendo o pagamento de forma automática. Um mix entre Uber, Via Verde e "drive through" - mas sem ter de sair do carro, sem ter de comprar aparelhos nem pagar anuidades, e sem ter de ficar nas filas. É para aí que se caminha, e parece-me que os taxistas não vão ser os únicos a protestar contra os Ubers da vida nos próximos anos.

IN "DINHEIRO VIVO"
11/08/15

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