22/07/2015

JOANA PETIZ

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Uma tatuagem 
pode tirar-lhe o emprego

Discriminação? Sim, afinal a competência não é afectada pela quantidade de tinta que existe debaixo da sua pele. Mas confiava a vida do seu filho nas mãos do homem na fotografia?

Os fãs fervorosos de tatuagens vão responder sem pensar: "sim, absolutamente"; os mais conservadores chegarão a virar a cara de horror. Mas a maioria provavelmente teria reservas em aceitar pacificamente aquele homem como pediatra dos seus filhos. Ou como assistente de bordo numa companhia aérea. Ou como interlocutor numa reunião de negócios.
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É claro que a capacidade de trabalho, a competência e as qualificações não têm ligação directa com a imagem, mas se aparecer para uma entrevista de trabalho de fato de banho e chinelos provavelmente não vai conseguir o emprego - a menos que seja para nadador-salvador. E é esta a questão essencial: ainda há um leque muito grande de posições profissionais que não prescindem de uma apresentação clássica.

A verdade é que a aparência conta muito no momento de contratar alguém. Há empresas que põem barreiras logo à partida - a maioria das companhias aéreas, por exemplo, impõe como condição de candidatura uma pele limpa de tatuagens e furos artificiais. Mas mesmo as que não o fazem explicitamente acabam por travar candidatos cuja imagem não é adequada às funções para as quais concorrem. Tatuagens visíveis e outras modificações corporais são ainda uma barreira importante à contratação e todos os argumentos anti-discriminação do mundo não são suficientes para impedi-lo.

Num mercado de trabalho ultracompetitivo, a normalidade é muitas vezes uma vantagem. Ainda que não veja nada de errado na borboleta colorida que desenhou no tornozelo ou na caveira impressa no antebraço, outros poderão sentir-se desconfortáveis com eles. E o recrutador vai pensar nisso quano estiver a analisar todos os candidatos. E acredite: a borboleta e a caveira estão definitivamente no mesmo patamar - não se trata de quão aceitável é o boneco mas de as tatuagens ainda serem olhadas de lado, serem um impedimento à criação de uma ligação de confiança.

Num mundo em que um treinador de futebol não tem apenas de saber treinar a equipa mas se lhe exige que seja uma espécie de relações públicas do clube - e muitas vezes que fale ou pelo menos arranhe uma ou duas línguas estrangeiras -, será assim tão descabido que uma empresa seja intransigente relativamente à boa imagem dos funcionários que lidam directamente com os clientes?

Há aqui um caminho a percorrer, sim. Rejeitar um emprego a alguém que tem tatuagens visíveis ou preteri-lo numa promoção apenas pelo seu aspecto são formas inequivocas de discriminação. Mas ainda não chegámos ao ponto em que a maioria considera uma modificação corporal definitiva tão normal quanto usar maquilhagem. E enquanto não chegarmos a esse momento temos de adaptar-nos.

Da mesma forma como não iria para uma entrevista de trabalho como quem vai para a praia, se está realmente determinado em fazer uma tatuagem, é bom que pense bem como colocá-la de forma a que se mantenha invisível sempre que precisar que o seja.

Pode parecer incrível, mas mesmo o homem da fotografia teve esse cuidado. Sempre que veste a bata de médico, a sua profissão há mais de 25 anos, em Nova Iorque, não há tatuagens à vista.

IN "DINHEIRO VIVO"
15/07/15

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