30/06/2015

LUCY PEPPER

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Três meses de férias é bom?

Treze semanas de férias, num único bloco, são treze semanas de “estou aborrecido” ou “tenho fome” ou “quero…”

O tédio é uma das melhores coisas que podemos oferecer aos nossos filhos. É quando estão imbuídos de uma dose suficiente de tédio, que eles podem descobrir por eles próprios que têm de fazer coisas, e nesse processo vão descobrindo quem são. As férias do verão são particularmente aptas para suscitar o tédio. Com o tédio, há crianças que percebem que precisam de encher o vácuo. Outras, que gostam do vácuo. 

Lembro-me que as seis semanas de férias que tínhamos na Inglaterra eram um grande luxo para não fazer nada e, dentro da minha cabeça, as seis semanas ocupavam mais de metade do ano. Éramos deixados à vontade durante a maior parte do tempo, com a porta aberta para fazermos o que pudéssemos com o que tínhamos. Eu ficava feliz por fazer praticamente zero durante as férias todas. Pelo meio, havia (ou não) quinze dias de férias em família. O resto do tempo servia apenas para nós simplesmente existirmos. Ver os poucos canais de TV, escavar buracos no quintal, olhar para o céu, desenhar, sentarmo-nos num muro. Não fazer nada, deliciosamente sem fim.

Não ter nada para fazer é óptimo. Não ter nada para fazer durante umas semanas é óptimo. Não ter nada para fazer durante três meses, porém, é um bocadinho exagerado.

Quando, há uns anos, o primeiro ano letivo da minha filha mais velha acabou em meados de Junho, fui apanhada de surpresa. O quê? Não há aulas em Julho? O quê? Não há mais aulas até meados de Setembro? O QUÊ?

As férias de verão em Portugal coincidem com os meses de mais calor. Mas doze (e este ano, treze) semanas de férias de verão é um bocado estranho. Para as crianças, as primeiras semanas de escola são um grande reajuste, pois já se esqueceram do que é ter aulas. E para nós, os pais?

Depois do Ministério da Educação ter proclamado que as escolas vão poder reiniciar o ano letivo só a partir do dia 21 de Setembro, porque não houve protestos? Não falo das crianças (obviamente), nem dos professores ou administradores das escolas, que ficaram com uma semana extra para se desenrascarem do caos anual dos horários e colocação de professores. Falo dos pais e avôs. Porque é que não se manifestaram?

Treze semanas de férias, num único bloco, é muito tempo.
São treze semanas de “estou aborrecido” ou “tenho fome” ou “quero…” Embora nos caiba como pais sugerir que puxem pela criatividade e encontrem algo para fazer, ou lembrar-lhes que almoçaram há meia hora — é chato. São treze semanas de interrupções constantes para os pais que trabalham em casa (ainda só passaram duas semanas das férias, e já estou a perder a minha paciência, mas isso é problema meu, não é o deles).

Mais importante, são treze semanas em que os pais que têm empregos têm de se desenrascar constantemente com o desafio do que fazer com os filhos. Nem todos têm avôs ou amigos que possam ou queiram ajudar. Nem todos têm meios para pagar ATL. Nem têm todos podem trabalhar em casa. E já passaram há muito tempo os dias em que as crianças podiam andar nas ruas, como fazíamos antigamente. Seja a ameaça verdadeira ou imaginada, as ruas já não são vistas como seguras, nem a casa, nem os vizinhos. Por isso, deixá-los em casa não é opção, pelo menos oficialmente. Conheço vários pais que tiveram de fazer isso com crianças de oito, nove, dez anos… Não tiveram alternativa.

Estas 13 semanas juntas com as outras fazem 18 semanas de férias este ano. Um terço do ano.

Todas as exigências do currículo têm de caber nas restantes 34 semanas, e é preciso ainda descontar 2 ou 3 semanas perdidas no início do ano letivo, enquanto as crianças se habituam às aulas, depois dos meses de não fazer nada. E durante um terço do ano, os pais que trabalham têm de encontrar onde pôr os filhos.

Não acho que crianças devam passar o seu tempo inteiro na escola (veja, acima, o que escrevi sobre o tédio). Gostava de ver o sistema inteiro de educação mudar e adaptar-se para o mundo moderno, mas mudar também naquilo que diz respeito ao modo como tratamos dos filhos enquanto os pais trabalham, e, já agora, organizar um sistema de férias que dê jeito a todos.

IN "OBSERVADOR"
28/06/15

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