15/06/2015

DIOGO FARO

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A fatídica noite 
de Sto. António

É provavelmente a mais longa noite lisboeta ou, pelo menos, a que tem mais histórias para contar.

Ainda é dia. Sais do trabalho já a morrer por uma imperial tirada por uma senhora de Alfama que diz mais palavrões do que tu a ver o teu clube perder. Duas imperiais. Cheira a sardinha e bifana por todo o lado. O teu grupo de amigos começa a compor-se. Três imperiais, não, seis. Cai a noite. E que boa noite está para safar aquela betinha de quem andas a ser “stalker” no Instagram há semanas (foste pôr aquele like maroto numa foto que ela postou há 4 meses só para mostrar que lhe viste a “timelime” toda). Evita a salada de pimentos e cebola por causa do bafo do dragão. 10 Imperiais.

Encontras aquele amigo que não vês há anos. ‘Abraço sentido. 12 Imperiais. ‘Tá gordo, o gajo. Casado? Como assim, já é pai? F*da-se. Tenho que me despachar a viver que estamos mesmo a ficar velhos. Parece que foi ontem quando ele mostrava o rabo à turma, e o abanava como o Shin Chan, quando a professora de matemática escrevia no quadro. 17 Imperiais. Ui, está ali a tal betinha. E tanta amiga gata que ela tem. Se não for ela, vai outra qualquer. Santo António não era o gajo dos casamentos, ou lá o que era? Fácil. O teu pessoal quer bazar para a Bica. Que merda. Logo agora que te ias meter com ela. 20 Imperiais, uma para o caminho. Caos. Caos. Caos.

O grupo mexe-se a 10 metros à hora. Ruas estreitas. Cheira a sardinha. E a mijo. E a sexo. Há música aos berros em todas as ruas. Pimba, electro e, acima de tudo, o tradicional kizomba. Perde-se o primeiro elemento do grupo. É como o Simba no desfiladeiro com os gnus. Ficas triste mas sabes que ele se vai safar. Tentas ligar. Claro que não dá. Esquece isso. O grupo tem de continuar. Encontras mais gente conhecida. O que jogou à bola contigo, os da faculdade, do trabalho, de Erasmus, daquela noite no Cais em comeram juntos um travesti por engano. 23 Imperiais.

Já perderam metade do grupo para as ruas de Lisboa. Conseguem chegar à Bica. Claro que já está a fechar. Só demoraste 3 horas a chegar. Já está tudo bêbado. Há mitras à porrada. Um clássico dos Santos. Ainda cabem mais imperiais. 24, 25, 26. Milagre. A betinha também foi para a Bica. Quando dás conta, nem sabes como aconteceu mas já estão encostados à parede de um típico prédio lisboeta a fazer passeios turísticos com a língua na boca um do outro. António és um Santo. Obrigado.

Alguns amigos dispersam. Outros procuram um after. E apanhar um táxi para casa? ‘Tá boa. Nesta madrugada é mais provável apanhares um Pokémon do que um táxi. Ou as 7 Bolas de Cristal. Ou sífilis sem sequer teres sexo. Começa a andar. Uma hora a pé até apanhares um. Era o Pikachu. Mais uma hora e finalmente um táxi. Casa. De rastos. Foi bom. Para o ano há mais. Com sorte, apaixonas-te e para o ano já não tens que safar uma betinha porque vais com a mesma. É Santo António.


IN "SOL"
11/06/15


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