16/05/2015

RAUL VAZ

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Além da troika

A direita festeja amanhã o adeus à troika, com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas em busca da vitória que as sondagens ameaçam perdida. Um ano após termo-nos livrado do "protectorado" - como o líder do CDS tanto gosta de dizer - a coligação que governou o país num cenário de inferno ameaça ir para a campanha eleitoral sem conseguir esquecer a troika.

O risco de "voltar para trás" e de "deitar tudo a perder" é a sua principal bandeira. E se mais não vier, será triste e poucochinho. Ainda que chegue para ganhar. Um país com medo não cresce. E o medo como arma eleitoral, além de menorizar os eleitores, contradiz o que Passos e Portas prometeram - que iriam governar além da ‘troika'. Isso mesmo. Essa frase maldita, que meio mundo usou como lhe convinha para fazer da direita o papão que queria mais austeridade do que os senhores do FMI, pode ser, afinal, a luz ao fundo do túnel. Se houver coragem política e se a coligação tiver engenho, ousadia e arte para alinhar um programa que seja, verdadeiramente, um virar de página. Se Passos e Portas forem capazes de fazer crer que o que interessa é tudo aquilo que, com a ‘troika', não puderam fazer.

Há reformas que ninguém faz em situação de emergência - a do Estado é uma delas, por muito que Eduardo Catroga sugira o contrário. E requalificar os serviços públicos exige incentivos, seja através de uma crescente aposta na educação e formação, seja num crescente recrutamento por mérito, que só serão possíveis com a melhoria da situação financeira do país.

Se quer dar luta ao programa que António Costa saberá servir aos eleitores, de costas viradas para a cartilha da austeridade que já ninguém quer ouvir, a direita tem de arriscar prometer. Não os bolsos cheios num piscar de olhos. Mas prometer que, com os cofres cheios apregoados pelas Finanças, há finalmente condições para o país desencalhar.

Ameaçar que um Governo PS pode trazer novo resgate é curto. Dizer que as promessas de Costa voltam a chamar a ‘troika' cheira a conto de crianças. E manter um discurso temerário - para não dizer piegas - de quem continua a pedir licença para respirar fundo, não dá. Desmontar a aparente ousadia do líder socialista, que promete enfrentar a cortina de ferro da Europa de espada em punho, não se faz a olhar para trás e a gritar que vem aí o papão. O confronto só ganha se se olhar para a frente. Com a coragem de dizer que ‘troika' nunca mais. O país agradece.

IN "DIÁRO ECONÓMICO"
15/05/15


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