19/05/2015

MARGARIDA FERREIRA

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O pensamento de
Fernando Pessoa aplicado 
à gestão das PME

Nos últimos tempos, muito se tem falado sobre o apoio às PME nacionais. Seja através de anúncios prospetivos de medidas governamentais, seja nos anúncios frequentes a novas linhas de crédito comunicadas pela banca nacional, as PME estão, definitivamente, na agenda.

Não há como negar a importância destas organizações, que representam 97% do nosso tecido empresarial e empregam 41% da população ativa. São, sem rodeios, o suporte da economia nacional!
Por outro lado, quase diariamente vemos notícias de PME que abrem falência e, as que felizmente não estão insolventes, lamentam-se dos mesmos problemas que tinham no início da crise, antes de sermos socorridos. A título de exemplo, em 2014, foram declaradas 11.785 insolvências judiciais de empresas, para além das 31.392 dissoluções. Podem-se culpar as restrições à concessão de crédito ou as medidas de austeridade, sendo que ambas, infelizmente, trabalham em equipa para desgastar a resistência do nosso tecido empresarial. Contudo, há ainda outra questão que deve ser considerada quando se analisam os atuais obstáculos ao crescimento da economia nacional: quantas PME estão a deixar escapar ou subaproveitar todas as oportunidades existentes na nossa legislação, em mercados internacionais ou no acesso ao financiamento? Há programas de financiamento aos quais as empresas podem candidatar-se e ver os respetivos projetos financiados e, dessa forma, ganharem pernas para andar. Esta questão é mais difícil de quantificar e de assumir, pois é endógena, está dentro das empresas, não é imposta por um ambiente que, como vimos, é por si só ainda adverso.

Todas as semanas surgem ideias novas, planos de negócio equacionados, timings definidos e targets identificados – todos os dias estes novos empresários procuram soluções e evitam focar-se exclusivamente nos problemas.

Neste contexto, um relatório da Associação Empresarial de Portugal – AEP, constata que é comum faltarem soft skills à direção das PME portuguesas: domínio de técnicas de marketing e negociação, segmentação e divulgação por targets, gestão estratégica e contabilidade, são alguns exemplos das principais competências em falta. Ou seja, há algo que se torna evidente: ao contexto difícil da atual conjuntura económica e financeira, dever-se-ia acrescentar mais preparação técnica e especializada, por forma tornar os gestores das nossas PME verdadeiros especialistas.

Para ilustrar esta infeliz associação, o mesmo relatório da AEP conclui que, quer a quantidade, quer a qualidade da informação de crédito fornecida, são fatores determinantes da disponibilidade de crédito. O mesmo se pode dizer em relação à perceção das oportunidades de negócio no mercado externo. Ou seja, apesar do mercado estar complicado, continuam a existir oportunidades por explorar, o que significa que o céu não está assim tão negro!

Não faço referência aos sinais ténues de uma recuperação económica que o Banco Central Europeu já indicou não serem suficientes para “emancipar” Portugal. Refiro-me aos mercados internacionais, especialmente os emergentes, que vão ganhando o gosto pela “Marca Portugal”. Por outro lado, considero os diferentes fundos nacionais e internacionais que, ou são desconhecidos ou considerados inatingíveis. Para não falar do momento, que se afigura crítico, para mudar ou definir uma imagem e uma estratégia de marketing que, frequentemente falta às nossas PME.

Há bons exemplos de pequenos negócios em Portugal que estão a crescer, a encontrar mercados novos e a conseguir financiamento. A questão mais pertinente é saber o que têm estas empresas que as outras, (as que abrem falência, por exemplo) não têm. Da minha parte, pelo conhecimento que tenho desta realidade, a resposta é simples: falta terem uma visão ampla e que contemple a definição e implementação de estratégias de gestão financeira e de marketing, o desenvolvimento das capacidades de negociação, bem como a capacidade de conseguirem aproveitar os vários programas de financiamento, nacionais e europeus, que fazem a diferença na capacidade de sobrevivência e crescimento de qualquer negócio.

No final do dia, como dizia Fernando Pessoa, é mesmo tudo uma questão de visão e não de dimensão. Esperemos que as nossas PME adquiram a especialização e conhecimento necessários para corresponderem ao que o país espera (e precisa!) delas.

Diretora Geral da Ediprisma – Soluções de Gestão Assistida para PME

IN "OJE"
13/05/15

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