20/05/2015

FRANCISCO COSTA

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De uma só vez 
a polícia agrediu 
três gerações

Temos por hábito dizer que nada nos espanta ou surpreende. Então depois de um porco a andar de bicicleta! Nada mais errado. Eu também pensava assim.

Infelizmente, a violência, tem ocorrido em manifestações desportivas e têm merecido, da minha parte, condenação e repúdio total nas páginas deste Diário. Numa democracia a segurança dos cidadãos é o valor prioritário do estado de direito. Muitas queixas de violência policial surgem relatadas nos jornais. Difícil ter um juízo sobre a ocorrência. Se, eventualmente, acontece, não vemos ou desconhecemos as circunstâncias. Mas, aqui, eu vi e os portugueses viram. No final do jogo, do título, em Guimarães, a brutalidade policial perpetuada por um agente de autoridade protegido por outros 6, armados até aos dentes, de bastões, pistolas e capacetes, contra um homem que tinha como escudo de protecção os seus dois filhos, uma criança bebendo água e um adolescente, e seu pai já idoso. Não satisfeito toca a esmurrar o “velho”. De uma só vez a polícia cobardemente agride três gerações. Avô, pai e neto. Não quero saber das razões. Nada justifica tamanha barbaridade.

Acredito que todos os seus colegas agentes deste país, por mais corporativistas, não se revêm e se sentem envergonhados. Se assim não for, sinto-me assustado. Eu sou “velho”, tenho filhos e netos. Como diz o poeta “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”. Na escola, perante uma traquinice, professor que ouse levantar a voz ou imaginar tocar ao de leve na orelhinha de um aluno, perante a participação dos pais, apressa-se o Estado a punir o docente pelos traumas psicológicos causados numa criança em crescimento. E aquela criança assustada? O estado não a defende? Que imagem ficará da polícia? Comparando factos, as imagens, condenáveis, que nos intoxicaram na TV sobre violência entre adolescentes na Figueira da Foz, são carícias. Violência gera violência. As autoridades na sua formação profissional  estudam estes fenómenos. Como podem exigir tolerância e respeito com posturas condenáveis? Colocam-se a jeito.

As cenas de violência no Marquês não terão a ver com isto? Já há inquérito. Sempre houve. Mas imaginamos o seu desfecho. Pelo menos na justiça desportiva há consequências, embora possamos questionar, com legitimidade, a justeza das penas aplicadas. Assistimos, diariamente, comentadores políticos, que perante indícios comportamentais duvidosos de políticos, chegam, por vezes de forma ridícula, a pedir consequências, exigindo demissão dos cargos. Em minha opinião, o que se passou em Guimarães, não se resolve apenas com a punição dos agentes prevaricadores, transferindo-os para uma qualquer secretaria de um comando de polícia deste país. O que está em causa não é apenas o polícia, mas a segurança dos cidadãos. Aqui, sim, perante esta vergonha nacional, há razões legítimas para exigir a demissão da Ministra da tutela.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
19/05/15

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