HOJE NO
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Loretta Lynch
A advogada implacável que
teve coragem de pôr a FIFA a nu
Encantadora aos olhos de Obama, a secretária de justiça tem sido implacável a combater toda a espécie de criminosos.
Loretta Lynch, a mulher à frente da megaoperação que
deteve sete dirigentes da FIFA e que já é considerado o maior escândalo
do mundo do futebol, foi nomeada secretária de Estado de Justiça dos
Estados Unidos em Abril, cinco meses depois de ter sido indicada pelo
presidente Barak Obama. Já lidou com criminosos de todo a espécie, desde
políticos corruptos, líderes de máfia, terroristas, cartéis de tráfico
humano e de tráfico de droga.
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Tem 56 anos, foi a segunda mulher a chegar ao mais alto cargo do
Departamento de Justiça dos EUA (attorney-general) – a primeira foi
Janet Reno entre 1993 e 2001 – e a primeira afro-americana a
consegui-lo. Foi Loretta quem deu ordens à polícia suíça para avançar
com a operação que levou a 47 acusações de corrupção e conspiração
contra nove dirigentes e cinco parceiros da FIFA. Uma investigação na
qual já trabalhava antes de ter chegado ao actual cargo.
Loretta Lynch quer acabar com a corrupção e troca de favores no
futebol. Acredita que tudo começou há pelo menos duas gerações de
executivos que, alegadamente, abusaram das suas posições de confiança
para obter milhões em subornos. O esquema terá prejudicado profundamente
as ligas mais jovens de futebol de países em desenvolvimento.
Há um mês, quando foi nomeada para o cargo, deixou claro que “ninguém é
grande demais para ir para a cadeia. Ninguém está acima da lei” e é esse
pulso forte que tem demonstrado ao longo da sua carreira judicial. Em
Novembro, Obama afirmou que Loretta deve ser a única advogada nos EUA
que, sem perder o encanto, consegue enfrentar a máfia, terroristas e
barões da droga.
Esta faceta de “charming people person” não a impediu de ter sido
implacável nas investigações que tem liderado e vencido enquanto
responsável pelo departamento de justiça em Brooklyn, em Nova Iorque. O
seu primeiro grande caso – em 1999, pouco depois de ter sido nomeada
pelo então presidente Bill Clinton – assemelha-se aos mais recentes
casos de violência policial contra a população negra nos Estados Unidos.
Um imigrante haitiano de 30 anos, Abner Louim, foi detido depois de uma
discussão à porta de uma discoteca e acusado de ter agredido um
policia.
Na sequência dessa detenção, Louim viria a ser vítima de agressões
por parte da polícia. O haitiano foi brutalmente agredido, tendo ficado
um mês internado no hospital. O actual responsável pela justiça em
Brooklyn, Kenneth Thompson, contou ao jornal britânico “The Guardian”
que este foi um dos casos de maior brutalidade policial na história da
cidade, que gerou manifestações de milhares de pessoas a pedir justiça.
Loretta nunca perdeu a compostura, apesar das muitas pressões que sofreu
no decorrer do processo, recorda Kenneth. Lynch condenou um dos
policias envolvidos nas agressões, Justin Volpe, a 30 anos de prisão.
Ao longo dos anos, a advogada foi construindo um portfolio com
investigações a nível mundial. Esteve envolvida na investigação de casos
de tráfico sexual que operavam no México e América Central, tendo
coordenado autoridades internacionais na extradição dos suspeitos.
Liderou processos, como o que envolvia lavagem de dinheiro no banco
HSBC, que recebia e ocultava avultadas transferências do Irão. Em 2011,
chefiou a investigação que levou à acusação de 127 membros pertencentes
ao crime organizado. Tratou-se da maior detenção ligada à máfia na
história da cidade nova-iorquina. Em 2012, lidou com casos de
terrorismo, nomeadamente quando a Al-Qaeda avisou que iria avançar com
um ataque bombista no metro da cidade. Lynch foi ainda responsável pela
detenção de um gangue por assassinato e processou também um político por
corrupção e fraude.
INFÂNCIA
Loretta Lynch nasceu a 21 de Maio de 1959 em Greensboro, na
Carolina do Norte. Filha de um pastor protestante e de uma
bibliotecária, cresceu a ouvir histórias de segregação racial que
prevaleceu durante um século no Sul, depois do fim da guerra civil.
Lorenzo Lynch de 82 anos, pai de Loretta, contou ao “The Guardian” como
foi viver numa sociedade segregada. “O meu pai dizia: não aceitem a
segregação no vosso coração. Mas têm de a aceitar fisicamente. Porque se
conseguirem lidar com ela, conseguirão sobreviver e, no dia em que
deixar de ser uma batalha, isto termina.”.
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A infância de Loretta foi marcada por momentos de preconceito
racista. Embora as leis da segregação racial entre brancos e negros
tenham sido oficialmente banidas em meados de 1960, o racismo permaneceu
enraizado na sociedade. A mãe de Lynch, Lorine, lembra um episódio da
infância de Loretta. As professoras tinham dificuldade em aceitar a sua
inteligência. Quando tinha apenas seis anos foi obrigada a repetir um
exame, porque a escola desconfiou da sua nota nota excelente. No segundo
exame, não só confirmou o primeiro resultado, como o superou. “As
professoras acharam que algo estava errado, porque era afro-americana e
os alunos brancos tinham tirado notas mais baixas”, disse Lorine à BBC.
No secundário, teve as melhores notas da sua escola, mas por ser
negra teve de partilhar essa honra com mais dois estudantes brancos.
Apesar desses episódios, sempre sonhou estudar Direito em Havard. Na
terra das oportunidades, cumpriu o seu sonho.
Foi colega de turma de
Obama, que viria a tornar-se o primeiro presidente negro dos EUA e que
mais tarde viria a “chamar” Lynch para liderar a justiça americana.
A
advogada já está a deixar a sua marca no mundo do futebol e isto “é só o
início e não o fim”, promete o Departamento de Justiça.
* O que esta mulher não deve ter sofrido e lutado para superar o racismo e a xenofobia de género de que foi alvo, só pode ter um grande coração!
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