12/05/2015

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HOJE NO
 "OBSERVADOR"

Quando a política falha, aparece 
a Nossa Senhora de Fátima

O exame da troika, uma mancha negra de crude e até a chuva. Em alturas de aflição, as preces viram-se para Nossa Senhora de Fátima. Mesmo as dos políticos.

A fé e a Nossa Senhora de Fátima entram de vez em quando pela política adentro. Às vezes com estrondo ou surpresa mas num Estado católico como o nosso vários são os políticos que não o escondem.

Em vésperas de mais um 13 de maio, com milhares de peregrinos em Fátima, o Observador foi recuperar alguns desses momentos de fé de políticos.
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O Presidente da República, Cavaco Silva, protagonizou um dos momentos mais insólitos da política ao associar a aprovação de Portugal no sétimo exame da troika com um milagre da Nossa Senhora de Fátima. Estávamos em maio de 2013 e o Governo vivia um momento (dos muitos) dramático por causa dos cortes que a troika queria impor. As negociações arrastaram-se até ao último momento e quando Cavaco aparece em público depois do acordo estar fechado não esconde a satisfação. “Penso que foi uma inspiração da Nossa Senhora de Fátima. É o que a minha mulher diz”, afirmou. “Foi tomada uma decisão muito importante para o nosso futuro: colocámos atrás das costas a sétima avaliação”, realçava o Presidente.

A declaração do Presidente inspirou vários artigos de opinião e suscitou mesmo a crítica partidária, carregada de ironia. Foi o caso do ex-ministro socialista Augusto Santos Silva: “Compreendo bem a afirmação do Presidente da República sobre Nossa Senhora de Fátima. Quando ouvi pensei que era um absurdo completo e que teria de fazer aqui exegese. Só pode ser um milagre a troika aceitar levar a sério este menu de medidas”.

Mas não se pense que o caso de Cavaco é único. Em fevereiro 2003, o petroleiro Prestige derramava uma mancha de crude no Atlântico que ameaçava as águas portuguesas. Dia após dia, a mancha crescia e as autoridades portuguesas não sabiam o que fazer. No final de contas, as marés fizeram com que a mancha se deslocasse para o norte de Portugal e o problema caiu nas mãos da Galiza. Em entrevista à Visão, Paulo Portas, à data ministro da Defesa, viu a intervenção da providência divina: “Eu acho que Portugal, na crise do Prestige, foi ajudado por decisões firmes (que não permitiram a aproximação da fonte do problema…) e foi muito ajudado por aquilo que eu, que sou crente, acho que foi uma intervenção de Nossa Senhora“.

É uma espécie de último recurso. Quando a ação humana parece já não ter eficácia ou quando se perdeu a esperança. Há três anos, o problema era a seca que ameaçava a produção agrícola. A ministra da Agricultura, Assunção Cristas, visitou algumas explorações e mostrou a preocupação com os baixos níveis de precipitação naquela altura do ano, fevereiro. “Devo dizer que sou uma pessoa de fé, esperarei sempre que chova e esperarei sempre que a chuva nos minimize alguns destes danos. Como é evidente, quanto mais depressa vier, mais minimiza, quanto mais tarde, menos minimiza. Se não vier de todo, não perderei a minha fé mas teremos obviamente de atuar em conformidade”, explicou a ministra.

Na história da política portuguesa, já está inscrita a célebre frase de Marcelo Rebelo de Sousa de que não seria candidato nem que “Jesus Cristo descesse à terra”. A frase dita ao Público acabou por não ser cumprida. Marcelo candidatou-se efetivamente à liderança do partido e ganhou em 1996.

Na realidade, todos os políticos que invocaram Nossa Senhora de Fátima ou Jesus Cristo são católicos e não o escondem. Para além de desabafos, há ainda os casos em que a crença católica influencia publicamente as opções políticas. 

Foi o de António Guterres, católico praticante, que assumiu ter sido essa condição que o fez opor-se à despenalização do aborto no referendo de 1998. O PS dividiu-se, acabou por não se envolver por inteiro na campanha do ‘sim’ e o ‘não’ vingou.

Na véspera da discussão da lei do aborto na Assembleia da República, Guterres declarou a título pessoal à Rádio Renascença: “A questão do aborto é uma questão eminentemente moral que cada um deve julgar segundo as suas convicções. De acordo com as minhas, não tenho nenhuma dúvida em dizer que adepto da despenalização do aborto tal como está previsto nos dois projetos de lei (o do PCP e o da JS). Esta é uma opinião de acordo com as minhas convicções, com a minha vida moral e com os meus valores. Penso que a vida é um valor extremamente importante que devemos preservar”.

* A classe política parece um enorme cinzeiro, há muita beata.

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