26/05/2015

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534.
Senso d'hoje

ANTÓNIO GENTIL MARTINS
CIRURGIÃO PEDIÁTRICO
  SOBRE A SUAS REFERÊNCIAS
GALARDOADO COM O PRÉMIO
MILLER GUERRA

O meu avô,(fundador do IPO), foi uma grande referência, mas devo dizer que a pessoa que mais me marcou foi o meu pai. Perdi o meu pai muito cedo, morreu quando eu tinha três meses, mas a minha mãe transmitiu-me tudo o que ele pensava sobre a forma de estar na medicina. Um dia, o meu pai estava no banco de S. José e, na altura, as transfusões de sangue eram braço a braço. Apareceu um doente que tinha de ser operado e não havia ninguém do grupo sanguíneo do doente a não ser o meu pai. Como não era opção dar-lhe sangue através do braço enquanto o operava, não fez mais nada: tirou o sangue do pé, o que nunca ninguém ali tinha feito. Pôs outra pessoa a dar à manivela do equipamento que então se usava nas transfusões, chamado juvelet, e deu sangue enquanto operava. Nunca teria pensado numa coisa assim. É o maior exemplo de dedicação. Por vezes implica imaginação e até sacrifício próprio.

Havia uma coisa importante: na minha altura, a vocação era importante para ser médico, e hoje só conta a nota. Quem ia para Medicina era porque gostava, e hoje em dia vai só quem tem as melhores notas. Quer goste, quer não goste. Pode ser um Prémio Nobel, mas se calhar não é a pessoa que eu quero para me tratar, porque não consegue desenvolver uma relação de empatia com o doente, que é o mais importante.

Tenho encontrado muitos bons médicos, mas também alguns que são o oposto. Porque são fixados nos horários, no entra às tantas e sai às tantas, nos protocolos, e tornaram-se funcionários públicos que não honram a medicina. 

* Excertos de importante entrevista ao "i"

** É nossa intenção, quando editamos pequenos excertos de entrevistas, suscitar a curiosidade de quem os leu de modo a procurar o site do orgão de comunicação social, onde poderá ler ou ver a entrevista por inteiro.  


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