As outras presidenciais
Falemos então de presidenciais... americanas.
Ao contrário das portuguesas, arriscam-se a ser
das eleições mais monótonas do milénio, de forma que podemos
despachá-las já.
Não que não haja diferenças, sobretudo entre os
partidos. Ao contrário de boa parte do século XX, quando ainda havia
republicanos “de esquerda” e democráticos “de direita” (pois estes
partidos eram mais federações de interesses do que plataformas
ideológicas), no século XXI eles estão cada vez mais distantes e mais
“europeus” — no sentido de se adaptarem com mais facilidade à divisão
esquerda-direita do espectro político. Em questão após questão, os seus
eleitorados distribuem-se como seria de esperar, do casamento gay à
redistribuição e ao aquecimento global. Não é indiferente qual é a base
eleitoral para que um (ou uma) presidente dos EUA trabalha: se mais ou
menos plural, mais cosmopolita ou nativista, mais ecológica ou
industrialista. Também não é indiferente saber quem vai poder nomear os
próximos juízes do Supremo Tribunal norte-americano, e assim ajudar a
determinar boa parte da agenda de direitos num dos maiores e mais
influente países do mundo. Por isso, quando chegar a altura, vou torcer
para que ganhe um democrático — ou, com toda a probabilidade, uma
democrática.
Mas suspeito que a eleição em si vá ser sobretudo
centrada em saber quem é mais patriótico ou quem acha que os EUA são o
maior país do mundo. O facto de termos, com muita probabilidade, Hillary
Clinton competindo com Jeb Bush, atira-nos de novo para as mesmas
dinastias políticas que já conhecemos desde as eleições de 1992 (se
pensarmos apenas nos Bush, desde 1972 e a era de Nixon) e equaliza os
candidatos.
Claro que em grandes países federais, como os EUA, o
Brasil e a Índia, a dinastia familiar é um atalho para tornar os
candidatos presidenciais mais conhecidos de populações muito diversas e
muito dispersas. Daí os Bush e os Clinton, ou Aécio Neves neto de
Tancredo e o malogrado Eduardo Campos nas últimas eleições brasileiras,
para não falar dos Nehru/Gandhi. Mas mesmo nestes países há sempre a
possibilidade de candidatos desconhecidos emergirem muito rapidamente,
como aconteceu com Jânio Quadros no Brasil e agora com o Partido do
Homem Comum na Índia (por acaso — ou não por acaso — ambos tinham a
vassoura como símbolo). Infelizmente, não se vislumbra que isso possa
acontecer desta vez.
A única hipótese de se animarem estas
eleições está nas primárias de cada partido. Se o senador Bernie
Sanders, que se descreve como o único socialista do Congresso dos EUA,
se candidatar entre os democráticos, poderemos ter um contraponto à
candidatura que o conservador-libertário Rand Paul já anunciou no
Partido Republicano. Estes vão ser os candidatos mais interessantes de
seguir. Ou melhor — os únicos interessantes de seguir.
(A tempo:
quando tudo acabar, teremos certamente um ou uma presidente dos EUA
menos interessado na Europa e na sua crise. Obama encontra-se esta
semana com Varoufakis e Schäuble, Dijsselbloem e Draghi estão também em
Washington. A seguir.)
IN "PÚBLICO"
15/04/15
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