17/04/2015

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HOJE NO
 "OBSERVADOR"

Morreu o ex-ministro Mariano Gago

Foi quatro vezes ministro e morreu esta sexta-feira, vítima de doença súbita, aos 66 anos. Socialista e amigo, Jorge Coelho diz que Gago era" um homem superior", que tornou o país "mais moderno".

Morreu Mariano Gago, aos 66 anos. O físico de partículas fez parte de quatro governos socialistas: duas vezes ministro da Ciência e da Tecnologia, entre 1995 e 2002, e duas vezes ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, entre 2005 e 2011, no Governo de José Sócrates. Era doutorado em Física, pela Universidade de Paris, e professor catedrático do Instituto Superior Técnico (IST). Foi o político português que mais tempo desempenhou as funções de ministro.
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Mariano Gago estava doente com cancro e tinha sido operado em 2013, apurou o Observador. Contudo, a secretária do ex-ministro nos últimos 30 anos, Maria José Miguel, disse à Lusa que Mariano Gago foi vítima de morte súbita.

O corpo do antigo ministro e professor José Mariano Gago estará a partir das 21h30 na Basílica da Estrela, em Lisboa, e o cortejo fúnebre sai no sábado às 12h00 para o cemitério de Pechão, Olhão.
Ministro em quatro governos socialistas (dois de António Guterres e dois de José Sócrates), foi distinguido com a Comenda da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, a 10 de junho de 1992. Em 2007, recebeu a distinção da Grã-Cruz da Ordem de Isabel a Católica, em Espanha, e dois anos depois, a de Grã-Cruz com Estrela da Ordem do Mérito, na Alemanha.

No final da década de 1960, Mariano Gago foi presidente da Associação de Estudantes do IST, eleito por uma lista ligada à extrema-esquerda estudantil dessa época e terminou a licenciatura em Engenharia Eletrotécnica em 1971, tendo-se doutorado em Física, pela École Polytechnique – Université Pierre et Marie Curie, de Paris, em 1976. Depois viajou para Genebra, na Suíça, onde chegou a trabalhar no campo de aceleração e colisão de partículas no laboratório do CERN (organização europeia de investigação nuclear).

De regresso a Portugal, em 1981 negociou o primeiro acordo de Portugal com o CERN e em 1985 negociou a adesão de Portugal ao CERN, era Jaime Gama ministro dos Negócios Estrangeiros.
Entre 1986 e 1989, foi presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) e fundou e dirigiu o Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), em Lisboa. Era lá que costumava passar os seus dias, desde que deixou o Governo, em 2011. Além disso, também fazia trabalhos de consultoria e costumava viajar muito, apurou o Observador.

“Graças a ele, Portugal tornou-se um país mais moderno”
“Conheço o Mariano Gago há mais de 40 anos. Sou amigo de sempre – de lutas políticas e colega de Governo durante muitos anos. É um homem superior, a pessoa mais inteligente que conheci”, disse o ex-ministro socialista Jorge Coelho ao Observador.

Amigo pessoal de António Guterres, de quem também foi colega no Instituto Superior Técnico, foi graças a Mariano Gago que “Portugal se tornou um país mais moderno“, explica Jorge Coelho. Foi por causa dele que os governos passaram a dar mais “capacidade financeira à investigação”, como ainda não tinha sido feito no passado, diz.

Jorge Coelho lembra que foi António Guterres quem chamou Mariano Gago para a vida política. “É o Guterres que o convida a integrar os Estados Gerais do PS. E a sua entrada foi muito importante para a credibilização dos Estados Gerais”, recorda.

Lembrado pelo “papel importantíssimo” que teve na “dinamização” da ciência e da investigação no país, travou “grandes lutas” antes de entrar para o Governo, enquanto Cavaco Silva foi primeiro-ministro.

Maria de Belém também já reagiu à morte de Mariano Gago. Diz que era uma “pessoa extraordinária, um colega excecional”, que “mudou radicalmente o panorama da ciência” em Portugal, tendo sido responsável pela introdução dos conceitos da experiência, exigência e avaliação internacional.
“Revolucionou a aquisição de competências no domínio da ciência e conseguiu com isso garantir um salto na economia“, disse Maria de Belém, acrescentando que a perda de Mariano Gago era “irreparável”. E junta o facto de o ex-ministro ter também revolucionado a gestão do Ensino Superior. “Penso que esse reconhecimento não lhe tem sido atribuído e dado”, disse.

“Nunca se afastou do laboratório. Era a casa dele”

Também Mário Pimenta, da direção do Laboratório de Instrumentação e Física Instrumental de Partículas (LIP), não hesitou um minuto a dizer ao Observador que “Mariano Gago colocou Portugal no mapa da ciência”.

Mário Pimenta foi o primeiro aluno de doutoramento de Mariano Gago. Na altura, em 1980, pouco tempo depois de ter chegado de Genebra, Gago “era o único doutorado experimental de física de partículas em Portugal” e “teve um papel essencial nos anos 80 na abertura de Portugal à ciência, numa altura em que não havia praticamente ciência em Portugal”, recordou o cientista Mário Pimenta.

“Nunca se afastou do laboratório. Era a casa dele e sempre que saía da política ia para o laboratório. Nesta fase final acompanhava a vida do laboratório em grande detalhe, mas não estava em nenhum projeto específico”, referiu.

E como era Mariano Gago como pessoa? “Extremamente afável, determinado, íntegro, um homem de visão e muito humanos”, resumiu Mário Pimenta, da direção do Laboratório de Instrumentação e Física Instrumental de Partículas (LIP).

“Mariano Gago mudou o paradigma da ciência em Portugal”

António Costa foi mais uma das vozes a juntar-se às reações pela morte do ex-ministro. Para o líder do partido socialista, “devemos a Mariano Gago ter colocado a ciência no centro das políticas para o desenvolvimento” e o “ter colocado no centro da ambição política a sociedade do conhecimento”. Mariano Gago “mudou o paradigma da ciência em Portugal”.

Costa falou ainda da “preocupação incansável pela democratização da cultura científica”, protagonizada por Mariano Gago, considerando o lançamento do programa ciência viva. “Portugal perdeu hoje um grande servidor. A ciência perdeu hoje um grande cientista. O partido socialista e eu próprio perdemos um grande amigo”, disse perante os jornalistas.

“Não podemos falar do progresso científico entre nós, nos últimos anos e na democracia, sem o papel desempenhado por José Mariano Gago”, afirmou ainda o presidente do Tribunal de Contas e ex-ministro da Educação e das Finanças, Guilherme D’Oliveira Martins. “É uma notícia muito triste e completamente inesperada. Era um grande amigo e Portugal deve-lhe muitíssimo.” O também amigo pessoal de Mariano Gago mostrou-se surpreso com a notícia de esta sexta-feira: “É uma notícia brutal, tudo havia a esperar dele”.

“O legado de Mariano Gago é o legado de uma vida. De alguém que se entregou sempre de alma e coração, não apenas à profissão de investigador científico de primeira qualidade, mas também de uma emprega generosa e inteligente ao bem comum”, referiu Guilherme D’Oliveira Martins em declarações à SIC.

Também o Ministério da Educação e Ciência já lamentou “profundamente” a morte de Mariano Gago. “O trabalho e a atividade de José Mariano Gago marcaram de forma assinalável o grande crescimento e a internacionalização que a Ciência teve ao longo de muitos anos em Portugal”, resumiu o Ministério em comunicado.

O LIP emitiu igualmente um comunicado onde manifesta a “imensa perda” sentida com o falecimento do cientista Mariano Gago. “José Mariano Gago ausentou-se várias vezes do LIP para assumir cargos públicos importantes na gestão da Ciência, mas era ao LIP que voltava com dedicação para prosseguir a sua atividade científica”, lê-se no comunicado.

* Mariano Gago está no Top 3 dos ministros mais sérios que este país teve, os outros foram Ernâni Lopes e José Silva Lopes. 
Para nós foi o mágico da Física responsável pela primeira exposição de divulgação científica em Portugal chamada "De que são feitas as coisas" durou uma semana, teve milhares de visitantes, estávamos em 1981. 
Introduziu o conceito de "etnociência" no âmbito do trabalho efectuado no "Gabinete de Filosofia do Conhecimento" dirigido e criado pelo prof. Fernando Gil.


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