08/04/2015

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486.
Senso d'hoje
   
 EDUARDO SÁ
 PSICÓLOGO CLÍNICO
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
 SOBRE SI E AS CRIANÇAS

Temos os vícios de uma educação judaico-cristã que, em muitos aspectos, foi uma mais--valia para a humanidade, mas noutros talvez não seja. De repente ficamos com a noção de que, se nos soltarmos muito, podemos ficar perigosos, o que é mentira. 

Fiz um curso absolutamente normal e depois, na parte clínica, tive a sorte de ter um professor que me direccionou para o trabalho com crianças muito perturbadas, com autismo grave. E aí tive o meu primeiro grande desafio: para quem achava que tinha estudado os grandes autores da psicanálise, de repente via-me com crianças que não falavam bem a minha linguagem e em relação às quais tinha de mudar completamente a forma de comunicar. E tinha de fazer uma coisa, na altura, muito difícil. As crianças lêem-nos os olhos e sentem-nos muito bem.  

Costumo dizer que só começamos a ser pais ao segundo filho; o primeiro é sempre uma criança em perigo. Mistura-se tudo: os pais que tivemos, os pais que desejávamos ter tido, os pais que desejávamos ser, os filhos que imaginamos construir. Preocupa-me que os pais transformem os filhos quase num projecto de carreira e que não lhes dêem espaço para crescerem como deve crescer, com regras mas com liberdade, com espaço para todos errarem. 

* Excertos de uma fantástica entrevista ao "i".

** É nossa intenção, quando editamos pequenos excertos de entrevistas, suscitar a curiosidade de quem os leu de modo a procurar o site do orgão de comunicação social, onde poderá ler ou ver a entrevista por inteiro.  

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