502.
Senso d'hoje
Senso d'hoje
AHMED ABADALLA
PORTA VOZ DOS
REFUGIADOS DA BOBADELA
EX-CIDADÃO DA SOMÁLIA
SOBRE AS RAZÕES DA
EMIGRAÇÃO CLANDESTINA
REFUGIADOS DA BOBADELA
EX-CIDADÃO DA SOMÁLIA
SOBRE AS RAZÕES DA
EMIGRAÇÃO CLANDESTINA
No meio da confusão, choro de crianças e gritos, não consegui perceber
imediatamente se a minha família tinha sobrevivido à bomba que nos
destruíra a casa. Pela maneira como a minha mulher segurava os nossos
três filhos não dava para distinguir se o mais novo, o único rapaz, na
altura com seis meses, tinha sobrevivido. A princípio pareceu-me que
não, mas afinal tinha. Foi sorte, tinham-se atrasado no mercado.
É por isso que quando me perguntam se tenho medo de atravessar o
Mediterrâneo, eu não percebo a pergunta. Medo? Eu tenho medo é de ficar.
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"Não vamos à procura de uma vida melhor. Vamos à procura de vida. Atrás de nós só há morte"
"Queremos paz, só quem não a tem, quem não vê os amigos e família a caírem com a violência da guerra, pode querer mais".
São 25 pessoas num barco de oito metros. Já não posso voltar atrás.
Tenho medo. Mas, novamente, vence a esperança. Em cada momento, em cada
hora, penso que vou morrer. O barco é pequenino, abana, não há espaço
para nos mexermos. A única água que entrava é a salgada, a do mar que
nunca parou de se impor naquelas 48 horas. Vejo a morte de frente.
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