07/03/2015

MAURO XAVIER

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Lisboa com menos carros
e mais poluição

Nunca as questões ambientais preocuparam tanto os cidadãos, conscientes de que se trata de matéria de indiscutível interesse público. Ninguém ignora que o ambiente permite preservar a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida de todos nós. Estamos, portanto, perante um tema muito valorizado pela opinião pública contemporânea e que nenhum político consciente descura nos seus discursos, sobretudo em época de campanha eleitoral. Mas não podemos medir as preocupações ambientais dos políticos pelo valor facial dos seus discursos, sempre repletos de proclamações aparentemente bem-intencionadas. Não é com as palavras que devemos confrontá-los: é com os gestos concretos que vão assumindo ao longo dos mandatos.

Vem isto a propósito dos elevadíssimos índices de poluição que continuam a ser registados em Lisboa, facto que não parece perturbar o sono ao ainda presidente da câmara da capital nos intervalos das suas digressões pelo País enquanto secretário-geral do Partido Socialista. 

Ao candidatar-se pela primeira vez, em 2007, António Costa prometeu aos lisboetas uma cidade mais limpa e amiga do ambiente. Infelizmente, neste caso, existe uma distância enorme entre as flores da retórica e o peso inapelável da realidade. Essa promessa ficou por cumprir, como aliás aconteceu com várias outras.

Nada melhor para avaliar as oscilações ambientais em Lisboa do que a Avenida da Liberdade. E os piores receios dos lisboetas confirmam-se nesta matéria: os valores do monóxido de carbono agravaram-se na mais emblemática avenida da capital, mesmo com a invenção da dupla rotunda, como confirmam os dados da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, entidade responsável pela monitorização da qualidade do ar na capital.

Este agravamento ocorreu, note-se, apesar de no mesmo período se ter registado uma redução de 30% do tráfego automóvel na cidade – o equivalente a menos de 120 mil veículos nas ruas alfacinhas – e de uma parte do trânsito tradicional da Avenida da Liberdade ter sido desviado para outras artérias, como a Rua da Escola Politécnica e a Avenida Almirante Reis.

António Costa não perceber que menos carros não representam menos poluição, mas que a velocidade medida de circulação é fator essencial nessa redução. Os lisboetas lá vão continuando à espera que o seu presidente olhe para eles e resolva as questões importantes como do ambiente.

IN "OJE"
06/03/15

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