02/03/2015

JOANA PETIZ

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O bom trabalho 
não se consegue de graça

Há finalmente sinais positivos na economia real, aquela que nos interessa, que tem efeitos directos e imediatos nas nossas vidas. E o principal é o facto de muitas empresas e sectores estarem a negociar aumentos de salários já para este ano.

Não podemos esperar que sejam mudanças capazes de compensar os cortes ou congelamentos dos últimos anos, mas que exista essa predisposição, mesmo que se materialize em mais 10 ou 20 euros no final de cada mês, já é um factor muito positivo.

Por um lado, é sinal de que as empresas estão pelo menos um bocadinho melhores - o suficiente para ponderarem melhorar a vida aos seus trabalhadores. Por outro, é sinal de alguma mudança de mentalidade, para muito melhor. Muitas entenderam a velha máxima que dita: quando se paga em amendoins, só se consegue macacos.

O mesmo é dizer que só com uma boa oferta se consegue ir buscar os melhores, ou, quando temos a sorte de já os ter do nosso lado, que o bom trabalho tem de ser valorizado. Da mesma forma que o trabalho medíocre não deve sê-lo. As progressões automáticas são um erro - o sinal que se transmite é o pior possível: faça o que fizer, terá aumentos, benesses e regalias. É um grande incentivo apenas para se recostar na cadeira e passar o dia a jogar no computador...

Mas agora parece que muitas empresas começaram a perceber a importância que tem a valorização da diferença. Senão, vejamos: não aconteceu um milagre, as companhias não ficaram todas de repente tão bem que até concedem dar mais umas migalhas a quem produz para elas. Não, as empresas continuam a ter de pagar aos fornecedores, a cumprir as suas obrigações fiscais, a ter de investir na sua modernização e sobretudo a ter enormes despesas com cada funcionário. Em muitos casos, houve despedimentos, cortes de remunerações, as companhias tiveram de aprender a viver no osso. E agora que têm uma margem, ainda que mínima, escolheram compensar os trabalhadores, os melhores, os que as ajudaram a sobreviver.

Não podemos ser todos sempre extraordinários, mas revelar essa capacidade em determinado momento deve merecer uma chamada de atenção. Não só pela compensação merecida mas para dar aos restantes um sinal de que os seus esforços serão notados e valorizados. Ainda que as razões não sejam meramente altruístas: não há melhor forma de manter um bom empregado contente do que tratá-lo e compensá-lo bem. E se ele é bom e não está feliz, é enorme o risco de o perder para a concorrência.

É mesmo verdade: o bom trabalho paga-se. E o mau, mais cedo ou mais tarde, acaba-se.

Subdiretora do Diário de Notícias

IN "DINHEIRO VIVO"
26/02/15 

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