08/03/2015

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ESTA SEMANA NO
"SOL"

Dia Internacional da Mulher: 
Na Ciência, menina também entra

Sabe quem são Pilar Ribeiro ou Matilde Bensaúde? Então vamos tornar a pergunta mais simples: e quem são Maria de Sousa e Benedita Rocha? Ainda não sabe?

Talvez não o saiba mesmo, e a culpa não é sua. Obrigadas durante séculos a um papel subalterno – mesmo que, na prática, esse papel secundário fosse desmentido – as mulheres só entraram recentemente no panteão mediático. Pelo menos, do lado da ciência.
MATILDE BENSAÚDE
 Eis então aqui a resposta: todas as mulheres mencionadas neste texto são cientistas. Todas elas, fosse em inícios do século XX ou na parte final do século que passou, foram determinantes. E, sobretudo, determinadas, pois fintaram as convenções sociais e, no segundo caso, a repressão fascista – que as ‘apagava’ legalmente da sociedade, pois precisavam sempre da autorização de pais ou, mais tarde, de maridos, para se deslocarem para fora, por exemplo – para abraçar carreira na área da ciência. Hoje tomaram as ciências, com raras excepções. Mas são mais do que pensamos ao longo da História recente (as biografias podem ser vistas aqui, no site da Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas).

Começando por duas das pioneiras, Matilde Bensaúde (1890-1969) fez uma carreira invulgar para a época, mais parecida com o trajecto que as cientistas fazem hoje, 100 anos depois. Filha do fundador do Instituto Superior Técnico, foi das primeiras doutoradas na área da investigação em biologia. Estudou na Suíça, em França e nos EUA e, em 1920, foi a única mulher entre os fundadores da Sociedade Portuguesa de Biologia.
PILAR RIBEIRO

Os primeiros anos da República foram, aliás, profícuos para a ciência portuguesa. Pelo menos até ao golpe que iria levar o país para a ditadura, houve uma efervescência da qual as mulheres fizeram parte, mesmo que não tivessem ainda, por exemplo, um lugar eleitoral (Carolina Beatriz Ângelo foi a excepção, tendo sido a primeira mulher a votar; o direito estava circunscrito a ‘chefes de família alfabetizados’ e Beatriz, sendo viúva e formada em medicina, cumpria os requisitos…) ou de algum destaque na sociedade.

Nascida exactamente um ano após a implantação da República, a 5 de Outubro de 1911, Pilar Ribeiro acaba por tornar-se, também ela, um símbolo do novo regime, que se queria mais aberto e dado ao progresso, pela via científica. Licenciada em matemática, estaria entre os fundadores da Sociedade Portuguesa da disciplina, e teria de ir para fora, na sequência dos expurgos dos matemáticos no pós-guerra, em 1947. O destino seriam os EUA, onde foi instrutora de matemática na Universidade da Pensilvânia. Voltaria a Portugal só após o 25 de Abril, onde foi catedrática no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), que tinha sido fundado no Porto em 1975. Os números deram-lhe longevidade: Pilar Ribeiro morreria a 29 de Março de 2011, a meses de completar 100 anos.  
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BENEDITA ROCHA
Entre as cientistas mais recentes, Maria de Sousa e Benedita Rocha, nascidas nos anos 40, ignoraram as convenções vigentes no fascismo e não só foram estudar como ainda por cima o fizeram fora de Portugal. Quando decidiu seguir medicina, chegada a idade do curso superior, Benedita Rocha recorda que os corredores dos hospitais e os laboratórios não eram “sítios de boa frequência para mulheres de bem”. Mas seguiu em frente, como contava ao Sol num artigo a propósito do dia Internacional da Mulher, em 2011.

Foi para Glasgow na mesma altura de outra cientista nacional de referência, Maria de Sousa. Acompanhava o marido, que procurava exílio. Seguiram-se os EUA, a Suíça e a França, país onde acabou por se fixar de maneira mais definitiva, ao tornar-se directora de pesquisa do centro Nacional de Investigação Científica. Hoje com 66 anos, além do cargo directivo, lecciona em França e em Portugal. E o panorama nas universidades e nos centros de investigação alterou-se significativamente. Na sua área, a imunologia, bem como noutras disciplinas da biologia, as mulheres são hoje uma maioria.
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MARIA DE SOUSA
Maria de Sousa, de 75 anos, é mais conhecida do público, sobretudo desde que lhe foi atribuído o Prémio Universidade de Coimbra de 2011. Esteve em Glasgow e nos EUA, e só regressaria a Portugal em 1985, para integrar o ICBAS e, um pouco mais tarde, o Instituto de Biologia Molecular e Celular, ambos no Porto. Trazia na bagagem uma carreira marcada por descobertas importantes no campo da imunologia, com dois artigos publicados na Nature, em 1966, como as cerejas no topo do bolo.

Já em Portugal, foi fundamental na criação do GABBA em 1996, um programa de doutoramento nas áreas de biologia básica e aplicada que congrega vários institutos no Porto. O programa selecciona todos os anos um grupo de estudantes que se destaquem nestas áreas de estudos. Muitos deles são mulheres.

De resto, hoje, na área das ciências da saúde, elas chegaram, viram e venceram. Não é por acaso que são desta área Maria Manuel Mota, actualmente no Instituto de Medicina Molecular (IMM). Venceu o Prémio Pessoa de 2013 e não está sozinha com o galardão. Em 2010, Carmo Fonseca, também do IMM, já tinha arrebatado o prémio.

* Vivam as mulheres portuguesas.


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