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"SOL"
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Um milhão de mulheres afectadas
por um problema que tem solução
“Uma em cada quatro mulheres vai sofrer de incontinência urinária ao
longo da sua vida” afirma Liana Negrão, a presidente da Secção
Portuguesa de Uroginecologia da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.
Apesar de haver poucos estudos sobre esta realidade, a médica refere um
de 2008 que revelou a existência de incontinência em 21,4% das mulheres e
7,6% dos homens. Assim, continua, “tendo em conta o último Censo
populacional de 2011, mais de 1 milhão de mulheres são afectadas por
este problema”.
Hoje, 14 de Março, assinala-se o Dia Mundial da Incontinência
Urinária com o principal objectivo de dizer a quem não consegue
armazenar e controlar a saída da urina que a sua situação tem
tratamento. Um problema extremamente comum, mas ainda encarado como
tabu, alerta a Associação Portuguesa de Urologia (APU). E que até no
caso das mais pequenas perdas de urina condiciona a vida do doente a
nível pessoal, familiar, social e laboral, já que pode conduzir a uma
fuga do contacto social e ao isolamento porque o medo e a vergonha de
que os outros sintam o cheiro está sempre presente. E que até pode
afectar a relação conjugal, já que a intimidade do casal é prejudicada.
Para complicar ainda mais uma realidade já por si complexa, apenas
10% dos doentes contactam um médico, adianta a Associação. Os restantes
recorrem à automedicação ou à autoprotecção.
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Liana Negrão explica que a prevalência desta patologia aumenta com a
idade, mas as perdas de urina também afectam mulheres jovens,
nomeadamente após o parto. Os tipos mais frequentes são a incontinência
urinária de esforço e a incontinência urinária de urgência (ou por
imperiosidade). A de esforço, no estudo de 2008, foi a mais frequente
entre as mulheres (39,9%) e a de urgência nos homens (56,4%).
A especialista adianta que no primeiro caso (incontinência urinária
de esforço) as fugas de urina acontecem quando "aumenta a pressão
abdominal” em consequência de “um esforço, como a tosse ou o espirro". É
mais frequente na mulher, já que resulta "do traumatismo das estruturas
que suportam a bexiga e a uretra, geralmente na sequência de gravidez e
partos vaginais". Outros factores de risco - como a obesidade, a
obstipação crónica, o envelhecimento e a menopausa - podem agravar a
situação.
“Vários factores contribuem para o aparecimento da incontinência
urinária no pós-parto, podendo o próprio parto ser um deles. No entanto,
o número de partos já realizados, o peso excessivo do recém-nascido
(superior a quatro quilogramas), a utilização de fórceps, um período
prolongado do trabalho de parto e a obesidade na mulher grávida também
são factores a considerar e que podem provocar o problema”, corrobora
Joaquim Gonçalves, coordenador da Unidade de Ginecologia e Obstetrícia
do Hospital Lusíadas Porto.
O outro tipo mais frequente, a incontinência urinária de urgência,
acontece quando há "uma vontade súbita e não controlada de urinar".
Segundo Liana Negrão, afecta todas as faixas etárias, mas "torna-se mais
grave e frequente com a idade, sobretudo após a menopausa". Neste caso,
há menos certezas sobre o que a provoca: "Pode resultar de uma infecção
do tracto urinário", mas "na maioria dos casos" é difícil perceber o
que a originou.
Como se trata?
Com prevenção, primeiro. Face à importância da gravidez e do parto
como causas da incontinência urinária feminina é importante adoptar
"medidas que minimizem o seu impacto sobre as estruturas de suporte dos
órgãos pélvicos". A especialista avisa que a incontinência durante a
gravidez é "frequentemente reversível, mas resulta de uma fragilidade
dos músculos do pavimento pélvico". E como se faz a prevenção? "Com o
treino desses mesmos músculos" responde Liana Negrão, que avisa que
mesmo depois de ‘dar à luz’ é importante manter este tipo de
fisioterapia, "permitindo uma recuperação mais eficaz e precoce das
estruturas do pavimento pélvico lesadas durante a gravidez e parto".
Com o envelhecimento e a menopausa, estas estruturas "tornam-se ainda
mais frágeis", pelo que o seu reforço "através de exercício musculares e
de outras técnicas mais específicas pode melhorar algumas situações de
incontinência urinária, com repercussão positiva na qualidade de vida
das mulheres" continua.
As mulheres que sofrem deste problema devem inicialmente ser
orientadas por um técnico especialista, fazendo depois exercícios em
casa" com ou sem recurso a dispositivos auxiliares" - alguns exemplos
são os cones vaginais (uma espécie de pesos que se colocam como os
tampões) ou estimuladores eléctricos portáteis. Na realidade existem
várias técnicas para fortalecer os músculos pélvicos que são escolhidas
"de acordo com a situação clínica, preferência da mulher e
disponibilidade de recursos existentes".
A Associação Portuguesa de Urologia nota que nos últimos dez anos
importantes descobertas aconteceram nesta área. E acrescenta que além
das técnicas de reabilitação há formas de incontinência urinária que são
tratadas com medicamentos e que, mesmo quando a sua gravidade implica
recorrer a uma cirurgia, a sua maioria quase não implica internamento,
sendo a vida normal retomada horas ou poucos dias depois. E salienta que
no caso da incontinência de esforço a cura é possível em cerca de 90%
dos casos.
Já na incontinência de urgência, o tratamento com medicamentos -
orais e que estabilizam o músculo para que este não se contraia
involuntariamente e provoque a micção - consegue melhorias sintomáticas
na maioria dos doentes. E quando não é possível a terapêutica oral pode
recorrer-se à administração de fármacos directamente na bexiga, um
procedimento simples.
A conclusão é óbvia: não sofra em silêncio se sofre de incontinência
urinária. Fale com o seu médico, sem tabus, porque em causa está mais
do que a sua qualidade de vida.
* A incontinência urinária feminina também tem a ver com sedentarismo, a mulher trabalha muito, mais do que o homem, mas em espaços redutores da mobilidade, escritório e cozinha são exemplos.
A cirurgia deve ser o último recurso, existe uma excelente técnica, investigada e desenvolvida pela equipa de Jean-Pierre Barral, francês, que tem obtido na patologia referida excelentes resultados, chama-se "Manipulação Visceral" aplicada à cavidade pélvica.
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