29/03/2015

ADRIANO MOREIRA

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A estratégia
 do conhecimento

Parece ser pouco discutível que a soberania clássica compreendia mais do que o poder militar, o qual agregava os poderes financeiro e económico, e o poder científico e cultural, embora o primeiro tivesse uma imagem mais forte até que as duas grandes guerras mundiais destruíram primeiro os impérios domésticos europeus (alemão, austro-húngaro, russo, turco), depois o império colonial euromundista (Holanda, Bélgica, França, Portugal, Inglaterra). Depois disso, multiplicam-se os Estados cuja soberania nominal não compreende a soma dos poderes clássicos. A necessidade de cada Estado averiguar e assumir o que lhe resta dos componentes da soberania clássica exige cuidar não apenas do movimento de regionalização coletiva (União Europeia) que lhe salvaguarde a igual dignidade internacional, e não descurar os componentes da debilitada soberania que lhe resta em numerosa companhia.

A política externa e a segurança externa e interna não são em geral descuradas, ou são descuradas com aumento da perda de estatuto internacional. Mas existe um elemento, nesta época de crise financeira e económica mundial, que é a estratégia do conhecimento, que um liberalismo de nova invenção frequentemente descura, porque encontra na privatização um remédio que não responde às exigências de pelo menos manter a igual dignidade na comunidade internacional. Trata-se da estratégia do conhecimento, antes mais conhecida como política da investigação e do ensino. Ora os países mais em vista, neste século sem bússola, não esquecem eles próprios que a investigação e o ensino, ou estratégia do conhecimento, é um tema da soberania. Um poder como ainda é o dos EUA faz uma distinção que podemos exprimir como estratégia do conhecimento e economia do conhecimento. No primeiro grupo ficam as investigações reservadas, relacionadas com a segurança e a defesa nacional, com o seu conceito de nação indispensável, designadamente com a exploração do espaço. Mas a abertura oportuna desse conhecimento à rede nacional de ensino e investigação, e, a partir desta, à iniciativa e à criatividade privadas, são uma verdadeira doação à economia de mercado. A literatura sobre este tema da estratégia do conhecimento relacionada com a inovação económica, e a sua relação com o poder efetivo da potência política, é valiosa, e os resultados são conhecidos.

Naturalmente, casos como o da Rússia, pelo menos enquanto durou o regime soviético não refletiu a estratégia militar do conhecimento na atividade privada que não considerava, mas a França, sem a dimensão dos EUA, não omitiu que o "poder francês" tinha nisso uma das suas bases. É evidente que os chamados pequenos países, mesmo quando a adjetivação não é aceite pelos seus governos, não podem, senão ocasionalmente, ligar ambas as atividades, mas não estão impedidos, pelas alianças designadamente, de conseguir alguma corrente útil entre a estratégia estadual do conhecimento e a inovação, quer no ensino quer no saber-fazer que anima a iniciativa privada e a sua criatividade. Mas em qualquer das circunstâncias o que não parece possível, a qualquer Estado que pretende um lugar igual na comunidade das Nações em termos de dignidade, é descurar que investigação e ensino são responsabilidades da soberania e não do mercado.

É coisa diferente admitir ensino público e ensino privado, articular a investigação pública e a investigação privada, com a condição de não esquecer que a responsabilidade estadual se estende à coerência, à viabilidade, e a resultados, exigidos pela rede nacional que todos integram. E por isso não reduzir a uma visão contabilista o problema da investigação e do ensino, com o prejuízo adicional de que os que se distinguem não obstante as dificuldades é no estrangeiro que procuram utilidade e futuro. É muito honroso ser pátria de um Pedro Hispano, mas a honra junta-se ao proveito quando o seu triunfo é doméstico.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
25/03/15

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