13/02/2015

PEDRO MARQUES LOPES

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O desemprego, 
o FMI e a Grécia

O Governo português congratulou-se com os números do desemprego de 2014. A taxa média anual ficou nos 13,9%. Segundo os responsáveis governamentais nota-se que há uma recuperação, um sinal de que estamos no caminho certo.

Nessa mesma semana, o FMI publicou um relatório em que afirma que, se contarmos com os desencorajados (pessoas que desistiram de procurar emprego, mas que estão disponíveis para trabalhar) e os que trabalham a tempo parcial (pessoas que trabalham a meio tempo porque não conseguem arranjar trabalho a tempo inteiro), a taxa passa, aproximadamente, para os 20,5%. Lembra ainda que essa mesma taxa, em 2008, era de 9,5%. Mais, salienta que se não fosse a emigração em massa, sobretudo desde 2011, estaríamos a falar de outros números. Eu ajudo: de 2011 a 2013 saíram de Portugal cerca de 350.000 portugueses. Como é fácil de perceber, estes nossos compatriotas são gente na força da vida, cerca de 8% da população ativa.

Parece, aliás, que os dados da emigração não preocupam ninguém no Governo, que é natural as pessoas fugirem da sua "zona de conforto".

Façamos, por uma vez sem exemplo, um esforço para não nos lembrarmos desses escorraçados - e um, ainda maior, para não perder a cabeça com os responsáveis governamentais por não nos falarem claramente destes factos. Ora, não contando com eles, usando as projeções de crescimento económico do Governo e do FMI, em 2019 conseguiremos atingir uns extraordinários 18% de desemprego e subemprego reais. Ou, nas palavras do Governo, estamos no bom caminho. Claro está que esta triunfal caminhada terá mais alguns problemas. Prevê-se uma emigração ainda maior e um aumento do desemprego de longa duração causado, entre outros aspetos, por o normal desajustamento dos trabalhadores às novas exigências do mercado de trabalho.

Não é necessário tentar explicar o que significa termos uma comunidade em que o melhor horizonte que tem para os seus cidadãos é de ter daqui a cinco anos um desemprego e subemprego real de cerca 18%, que viu, vê e verá centenas de milhar de pessoas a saírem do país e que vê a pobreza crescer dum modo brutal - uma em cada quatro crianças portuguesas é pobre, há dois milhões de portugueses pobres e em 5 anos há mais 800.000 portugueses pobres. Basta apenas dizer que uma comunidade sem esperança é uma comunidade à beira da morte.

Não estaria a ser justo se afirmasse que o cenário que temos perante nós se deve unicamente à ação deste Governo. Como também seria redutor dizer que todos os males por que passamos se devem às presentes políticas europeias. Nem não fizemos, como comunidade, o suficiente para estarmos a salvo dos terramotos que aconteceram, nem os erros europeus na resposta à crise explicam todas as nossas maleitas. Mas é absolutamente transparente que as respostas que os decisores europeus - que os nossos governantes tão fervorosamente abraçaram e continuam a defender com unhas e dentes - têm para os problemas que atravessamos estão absurdamente erradas. Apetece perguntar, como é possível alguém pensar que a única solução viável para os nossos problemas é gerar agora e no futuro uma multidão gigante de desempregados, emigrantes e pobres?

Não sei se a solução que o novo governo grego pretende para tentar resolver os seus problemas é a melhor. Sei que, qualquer que ela seja, tem de ser negociada e que tem de ir muito para lá da relação entre a Grécia e a Europa: o problema está longe de ser apenas grego, é da Europa como um todo, das soluções encontradas e dos vários desenhos institucionais. Mas há dois aspetos essenciais que os novos governantes gregos - de que, tenho a certeza, vou discordar muito no futuro - trouxeram e que eram e são essenciais: o declarar alto e em bom som que o caminho seguido vai destruir a sua comunidade - e o resto das europeias e a própria ideia da União Europeia, digo eu - e o de porem a discussão no único plano possível, o da política.

Ou seja, o que há para discutir não é se há perdão da dívida ou não, se o pagamento da dívida se deve subordinar ao crescimento económico ou não, se as obrigações perpétuas são viáveis ou não. A questão é: pode uma comunidade manter-se minimamente coesa com taxas de desemprego como as que Portugal ou a Grécia têm (se os dados oficiais portugueses dizem 13,9% e os reais estão estimados em mais de 20%, imagine-se os gregos que oficialmente têm 25% da população desempregada...) e com os níveis de pobreza conhecidos? É a democracia sustentável sem esperança num futuro melhor?

Varoufakis, o ministro das finanças grego, durante a sua estadia na Alemanha, resumiu bem o problema quando disse que ninguém como os alemães conhece melhor os problemas que uma economia severamente deprimida, um povo humilhado e a ausência de esperança pode provocar numa comunidade. É, de facto, isso que está em causa, na Grécia e em grande parte da Europa.
Política, apenas política.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
08/02/15


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