11/02/2015

PEDRO BACELAR DE VASCONCELOS

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A Grécia lavrou 
a certidão de óbito

Fechou-se este ciclo no lugar onde se abrira: a Grécia. A vitória do Syrisa lavrou a certidão de óbito de uma "política" que recusava admitir alternativas para a quebra da solidariedade europeia que iria transformar os prejuízos comuns provocados pela crise financeira internacional de 2008 nas "dívidas soberanas" dos estados da sua periferia meridional. Entre os caídos em combate, conta-se o Partido Socialista que, à frente do Governo grego, ainda tentou submeter a referendo as políticas draconianas que a troika lhe pretendia impor. Resignou-se, desistiu e acabou por desaparecer nas últimas eleições. As inúmeras tentativas de intimidação dos eleitores gregos durante a campanha eleitoral não resultaram e, agora, inconformados com o resultado das eleições, os vencidos tardam em reconhecer o seu fracasso, profetizando o insucesso do novo Governo e rejubilando ao mínimo sinal de qualquer contratempo que surja na contra ofensiva diplomática lançada pelos novos governantes. E teimam em denunciar a inviabilidade económica das propostas gregas mesmo onde repetem o que os conselheiros económicos do presidente norte-americano proclamam há muitos anos e, até, depois do próprio Barack Obama recomendar que se alivie a pressão sobre a Grécia. O primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, também anima o triste coro destas aves agoirentas. E entende-se por que o faz. Enquanto a Alemanha defendia o seu interesse nacional e a França tergiversava por receio de prejudicar os créditos dos seus bancos, Passos Coelho era apenas movido pela sua "crença" na força regeneradora da miséria e do castigo, pela demonização do Estado e pelo endeusamento do empreendedorismo capitalista.

Por isso, a responsabilização da Alemanha e da Chanceler Angela Merkel pela política de austeridade que arruinou a Europa e os seus povos é um ato de encapotada cobardia. Não foi a Alemanha nem a Chanceler Angela Merkel que aprovaram o Pacto Orçamental e lhe conferiram, na prática, uma força vinculante superior ao Tratado de Lisboa ou à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia redigida por uma convenção presidida, aliás, por um alemão - Roman Herzog - de que fui, com muito gosto, vice-presidente. Não foi a Alemanha que impôs a participação do FMI nesse esquema absurdo - a famigerada troika! - dos programas de resgate das dívidas soberanas da Grécia, Irlanda, Portugal e Chipre. Não foi Angela Merkel quem levou a Europa e a União Monetária até ao limiar do abismo.

A Alemanha e o seu Governo nunca teriam conseguido levar a cabo um tal empreendimento sem o silêncio e a cumplicidade dos governos dos restantes 27 estados-membros, do Conselho, da Comissão e do Parlamento Europeu. A Europa deve aos gregos esta derradeira oportunidade de enveredar por um novo caminho, o que na França e na Itália já se começou a compreender.


IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
06/02/15

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