Sobrevivência
PSD e CDS têm menos um terço das intenções de voto do que a soma da percentagem obtida pelos dois partidos em 2011.
1. A retoma de 2014 faz lembrar 2004. Tal como em 2014,
em que o crescimento assentou totalmente no contributo da procura
interna, 2004, depois do governo PSD/CDS ter atirado a economia para a
recessão em 2003, foi o ano da década passada em que a procura interna
mais contribuiu para o aumento do PIB (3,2 p.p.). Em ambos os anos, a
viragem coincidiu com um reforço do poder do CDS na coligação (apesar do
espalhafato de Portas com os banais dados das exportações, o CDS sabe
que a sua sobrevivência depende da procura interna). A diferença é que a
retoma de 2014, depois de uma longa recessão de 3 anos, vale metade da
de 2004 (0,9% contra 1,8%), prefigurando um "novo normal" de uma
economia estagnada, com menos 500 mil empregos e o dobro da dívida
pública.
2. Amarrados um ao outro pela forma como venderam ao
país um conjunto de mentiras na campanha de 2011; pelo modo como
conduziram, tantas vezes além da ‘troika' e aquém dos mínimos de
competência exigida para governar, o programa de ajustamento; isolados a
nível interno e pressionados a nível externo (nenhuma instituição
internacional subscreve as estimativas ou a inércia táctica do governo);
e sem estratégia para o futuro, PSD e CDS chegam a oito meses das
legislativas com quase menos um terço das intenções de voto nas
sondagens (onde, em conjunto, não passam os 35%) do que a soma da
percentagem obtida pelos dois partidos em 2011 (50,4%), e sempre atrás
do PS.
3. Enquanto cruzam os dedos para que a queda do preço do
petróleo cause um choque expansionista na economia, PSD e CDS buscam a
estratégia que minimize a derrota eleitoral. E se é grande a tentação
para se esconderem atrás de uma coligação, Portas também sabe que, nas
legislativas de 2005, o CDS conseguiu ser bem menos penalizado (perdeu
1,5 pontos em relação aos 8,7% obtidos em 2002) do que o PSD (caiu 11,5
pontos em relação aos 40,2%). Ninguém se espantará se o instinto de
sobrevivência eleitoral fizer regressar o registo de "um governo, dois
partidos".
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
19/02/15
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