13/01/2015

CATIA MIRIAM COSTA

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Os dias do início

Esta altura do ano é propícia a que se façam balanços do que foi o ano passado e projeções do que será o ano presente. Terminado o período de festas, com a celebração do dia de Reis, em geral o tema muda e esquecemos o fulgor com que previmos tudo e mais alguma coisa nestes dias iniciáticos de mais um ano. Não é preciso ser astrólogo nem estudar o alinhamento dos planetas para perceber que 2015 é um ano que traz o gérmen da mudança a vários níveis, quer o desejemos ou não.

Em 2015, vários países da Europa estarão em escrutínio com diferentes eleições, mas percorrendo da Europa do sul à Europa do Norte. Se a Grécia abre este momento de consagração da democracia, outros países a seguirão, incluindo Portugal. Reino Unido, Espanha, Dinamarca, Estónia, Finlândia e Polónia são outros países com eleições marcadas e que estão no seio da Europa. Apesar dos casos mais mediáticos serem os casos da Grécia e de Espanha, graças aos partidos que parecem partir em vantagem para este processo, o Syriza e o PODEMOS que aparecem com alternativas ao habitual sistema partidário, a verdade é que vários países europeus vão decidir sobre as suas linhas políticas nos próximos anos. Vão escolher as políticas internas e externas dos seus países, o que não é um factor menor.

Este é o momento em que os alinhamentos dentro da União Europeia poderão alterar-se. E, claro, também se projetarão para fora da UE, afetando as relações da União com outros países ou blocos regionais, por exemplo, com a Rússia. A par de tudo isto, a complexificação dos inimigos internos e externos, representados pelos extremismos e terrorismos. Igualmente, o preço do petróleo em queda trará novos desafios não só para os países produtores como para os países que têm relações próximas com estas economias produtoras.

Se em 2015 se adivinha um ano em que o risco e a incapacidade de antecipar soluções para os desafios aumentarão, é também um ano de escolhas. Estes dias iniciáticos são propícios a que lembremos tudo o que se irá decidir, para depois cairmos no correr quotidiano que nos faz parecer que tudo assume um carácter de continuidade. Mas essa estabilidade, que todos os seres humanos precisam, é por vezes enganadora. As decisões mais difíceis e os momentos mais desafiantes resultam de contextos de continuidade. Nenhuma guerra começou no dia da primeira batalha. Todas as guerras foram fruto de decisões tomadas no dia a dia que conduziram àquele caminho. A União Europeia ou o euro não acabarão de um dia para o outro. A intolerância, provocada por extremismos, não se tornará dominante num abrir e fechar de olhos.

As escolhas que fazemos em 2015 constituirão a base do que faremos no futuro. O modo como nos interpretamos a nós e aos outros será o mote daquilo que há-de vir. Os dias do início apenas anunciam tudo aquilo que poderá mudar ou manter-se. Com uma certeza, na maioria das vezes estaremos a pensar no presente imediato, apesar de estarmos a escolher caminhos para o futuro.

Investigadora do Centro de Estudos Internacionais, ISCTE – IUL

IN "OJE"
07/01/15


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