22/01/2015

CARLOS MIGUEL ALVES CATARINO

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Black Thursday

Na passada quinta-feira, dia 15, aconteceu algo de extraordinário e, para alguns, desastroso. O franco suíço valorizou como nunca se tinha visto nos últimos tempos. O franco suíço foi sempre apreciado pelos investidores por ser a moeda de um país política e economicamente estável.

O facto de a suíça ser um país pequeno faz com que o seu mercado interno seja reduzido e acaba por obrigar a maioria das empresas a ter que exportar parte dos seus produtos e serviços. Em 2013 a suíça exportava bens e serviços equivalentes a 72% do PIB (dados do banco mundial).

Assim sendo, um franco suíço caro prejudica gravemente a economia da suíça, uma vez que os importadores dos bens suíços têm que pagar numa moeda que vale menos que o franco, logo encarece o preço da importação.

O franco suíço teve sempre a tendência para valorizar ao longo do tempo, em relação às principais moedas como o euro e o dólar. Com a crise da dívida soberana na Europa e os receios à volta das políticas do Banco Central Europeu (BCE) para a sua resolução e, sendo o franco suíço um ativo de refúgio de referência, este valorizou bastante nos últimos anos e o Banco Nacional da Suíça foi obrigado a tomar medidas.

Em 2011, o Banco Nacional Suíço (SNB) revelou preocupações em relação à valorização do franco, principalmente face ao euro. Perante isto, decidiu estabelecer um limite para a valorização do franco, sendo esse limite 1,20 euros. Para defender este nível, o Banco Nacional da Suíça aumentou bastante o seu balanço e usou o seu poder para criar francos iniciando a compra de milhões e milhões de moeda estrangeira.

Entretanto o BCE vendo a inflação e o crescimento extremamente baixos na União Europeia, partilhou com o mercado o facto de poder vir a implementar políticas monetárias mais expansionistas. Nas últimas semanas criou-se a expetativa de essas políticas virem a ser desvendadas na reunião do BCE, dia 22 de janeiro, o que fez o Banco Nacional Suíço perceber que já não tinha capacidade para continuar a gastar milhões e a defender aquele nível com que se tinha comprometido. Então, na quinta-feira dia 15, de manhã, sem aviso prévio e, numa reunião de emergência, o banco decide que a economia se tinha adaptado ao nível de cotação do franco e que não ia continuar a defender aquele nível em relação ao euro. Além disso, desceu o valor médio da Libor a 3 meses, uma taxa de juro de referência, de menos 0,25% para menos 0,75%. 

Este comunicado apanhou o mercado desprevenido e provocou uma explosão no preço do franco, o que afetou todos os pares cambiais e fez com que alguns deles tivessem variações que não eram vistas desde 1971, assim como o principal índice bolsista da Suíça que neste mesmo dia caiu mais de 10%.

Este movimento, extremamente violento dos pares cambiais, provocou uma falta de liquidez, principalmente junto das corretoras online que não foram capazes, em alguns casos, de exercer as ordens dos clientes ao preço pretendido, levando a grandes perdas por parte destes e das próprias corretoras. A forte alavancagem da generalidade dos clientes foi outro fator que contribuiu para que houvesse perdas avultadas e, devido á falta de liquidez, as corretoras não conseguiram fechar as posições dos clientes em tempo útil, a fim de evitar um descalabro. Tudo isto levou a uma situação extremamente precária de uma famosa corretora online – Alpari – que chegou a publicar oficialmente no seu site que tinha entrado em insolvência, retirando essa informação no dia seguinte, encontra-se neste momento em conversações para a sua venda. 

Levou também, a que a FXCM, uma das maiores corretoras do mundo, tivesse que ser comprada, por cerca de 300 milhões de dólares, para ser salva.

A quinta-feira negra, dia 15 de Janeiro de 2015 será falada por muitos anos e marcará para sempre a memória de todos os que negoceiam no mercado cambial.

Estudante na Universidade Europeia

IN "OJE"
20/01/15


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