15/01/2015

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HOJE NO
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Duas mulheres à frente das operações em caso de ataque terrorista em Portugal

Com o país em sobressalto, as operações seriam conduzidas por duas mulheres que teriam de ser capazes de pôr as polícias a trabalhar juntas.

Às 10h40 cai no 112 um pedido de socorro. O agente da PSP atende a chamada na central da Rua António Augusto Aguiar e é informado, pelo funcionário de uma empresa do Saldanha, de que vários colegas foram atingidos a tiro dentro das instalações. Está tão perturbado que não consegue adiantar muito mais.
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ANABELA RODRIGUES
O exercício teórico que o i propôs a vários elementos das forças de segurança começa com um telefonema breve. Mas, no espaço de pouco tempo, aquilo que parecia ser um assalto violento com 12 mortes – um incidente grave, invulgar e a necessitar de grande mobilização e coordenação de meios – escala para uma situação ainda mais grave: Lisboa foi alvo de um atentado terrorista, o país está debaixo de fogo e é preciso capturar os responsáveis.

Se em França a caça aos dois terroristas que mataram no “Charlie Hebdo” envolveu quase 89 mil homens, em Portugal a operação seria de menor envergadura e contaria com cerca de 2 mil polícias. SEF, PJ, PSP e GNR estariam em peso no terreno e haveria mais de cem pessoas em contacto permanente  com uma sala de situação montada no Largo da Penha de França, sede da direcção nacional da PSP. Durante três dias, caberia a duas mulheres liderar as operações: a ministra da Administração Interna, Anabela Rodrigues, e a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna (SGSSI), Helena Fazenda. Com as cúpulas do SIS e das polícias, teriam de ser capazes de pôr as forças de segurança a trabalhar em conjunto, partilhar informação e deixar de parte as habituais rivalidades. Se Lisboa fosse Paris, concordam todas as fontes que o i consultou, o maior problema não seria a falta de meios, mas a dificuldade em coordenar a GNR, a PSP e a PJ no terreno e decidir quem faria o quê. Já as Forças Armadas só seriam chamadas em último caso. 
Dia um, o atentado Em menos de cinco minutos, o polícia que atende os telefones no 112 já contactou o INEM, a central da polícia e as esquadras próximas do Saldanha: Rato, Metro do Marquês, Campolide e Arco do Cego. O alerta é estendido ao COMETLIS (comando de Lisboa), com sede em Moscavide. Menos de dez minutos depois do alerta começam a chegar carros-patrulha ao local, para fazer uma primeira abordagem. A ser como em Paris, a primeira viatura policial ainda se cruzaria com dois homens armados que atiram contra um polícia, antes de gritarem uma frase sobre o profeta Maomé, e fogem de carro com um terceiro suspeito ao volante.
 
HELENA FAZENDA
Os outros polícias no local relatam, com exactidão, via rádio, o que está a acontecer. Por envolver armas, a situação é classificada como ITP – incidente táctico-policial. Grave, portanto. Por esta altura já a Unidade de Trânsito está a cortar as artérias de acesso ao Saldanha e há equipas de investigação criminal e de intervenção rápida na rua. Cabe a estas últimas limpar a zona envolvente à empresa e vedá-la. 
O incidente já foi, entretanto, comunicado à Unidade Especial de Polícia (UEP), em Belas – que mobiliza o Corpo de Intervenção (CI) em peso para o local. A direcção nacional (DN) da PSP, através do director de operações, o superintendente Paulo Lucas, também já está avisado e enquanto isso há um amontoado de ambulâncias no Saldanha. Nem meia hora depois, os primeiros jornalistas começam a chegar e o CImonta dois perímetros no local. O carro dos suspeitos, em fuga para norte, está a ser seguido sem grande aparato. “Fazer o seguimento é mais eficaz que iniciar uma perseguição”, explica um especialista em intervenção rápida da PSP. Os agentes encarregados seguir os suspeitos comunicam em tempo real, via rádio e através de um canal próprio partilhado com a UEP e a DN da PSP, o caminho que os suspeitos tomam.
O objectivo é prever que vias vão tomar e ao mesmo tempo conseguir que se desviem da malha urbana, para poderem ser interceptados com maior segurança para os civis.
A referência ao profeta Maomé e o facto de os suspeitos usarem armas de fogo pesadas e pouco comuns levam a PSP a contactar a Unidade Nacional Contra Terrorismo da PJ, que tem competência exclusiva para investigar os crimes de terrorismo e o know-how e contactos privilegiados no estrangeiro. Os inspectores saem à rua e o director nacional dirige-se para a Penha de França, para onde já foi também chamado o SIS e um elemento do Ministério da Administração Interna, vindo do Terreiro do Paço. É que a empresa já tinha recebido ameaças por parte de grupos ligados ao Estado Islâmico e há fortes indícios de que Lisboa esteja debaixo de um ataque terrorista. Durante a tarde, o SIS aumenta o alerta de segurança nacional.
Na sala de situação, Helena Fazenda enfrenta a primeira decisão. Deverão as operações continuar sob a alçada da PSP ou passar de imediato a ser comandadas pela PJ – ainda que a parte táctica, no terreno, continue a ser desenvolvida pelos agentes da Polícia de Segurança Pública? Mantém-se a sala de situação na Penha de França ou valerá a pena deslocalizá-la para a nova sede da Judiciária? Enquanto isso, os 711 inspectores do SEF já estão alerta: é preciso reforçar a segurança de portos e aeroportos, bem como fechar fronteiras. A polícia espanhola segue atentamente a operação, avisada pela PJ. 
Quatro horas depois do incidente, cerca de 100 pessoas estão em ligação directa com a sala de situação, onde já está a Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, que tutela a PJ. A operação está concentrada em Leiria, a 150 quilómetros de Lisboa e onde se acredita que os suspeitos – cujas ligações à jihad já foram entretanto confirmadas pela PJ – possam estar escondidos. Elementos da UEP da PSP viajam em massa, pela auto-estrada, até Leiria. Alguns saem de Belas, mas a maioria parte do Saldanha, o local do crime. A GNR recebe ordens para enviar, igualmente, elementos da Unidade de Intervenção (UI, equivalente à UEP da PSP).
dia dois, caça ao homem “Não seria preciso um aparato tão grande como o de França. Mais homens não significa mais eficácia”, defende um oficial da GNR. Em Leiria, concordam todos os polícias ouvidos pelo i, nunca estariam mais de 2000 homens, entre GNR e PSP. Quanto às Forças Armadas, só seriam chamadas em último caso e se Cavaco Silva decretasse o estado de emergência. “Não existe essa cultura de colaboração”, explica um oficial da PSP. Porém, a grande concentração de meios em Leiria nunca poderia ser sinónimo de deixar outros pontos desprotegidos. Embora no caso do SEF, neste ponto, não houvesse nada a fazer. “A segurança de portos, aeroportos e fronteiras deixaria todos os outros lugares sem efectivos”, admite Acácio Pereira, do sindicato dos inspectores. 
À parte da operação de buscas, teria de ser reforçada, pela GNR, a segurança dos edifícios de órgãos de soberania e a PSPteria de ter mais homens nas embaixadas. Por outro lado, as infra-estruturas críticas nacionais, como a Ponte 25 de Abril ou o Metro, teriam de estar debaixo de vigilância apertada ou mesmo interditas. 
Muito trabalho para os 22 mil agentes da PSP e os 22 mil militares da GNR – sendo que haveria um problema adicional, segundo César Nogueira, da maior associação socioprofissional da Guarda: ”Cerca de metade do efectivo da GNR ocupa funções administrativas e outras não policiais, o que implica que os homens não tenham treino constante e pudessem não estar bem preparados”. Para os agentes da PSP no terreno, a dificuldade seria outra, diz Paulo Rodrigues, do maior sindicato da polícia: a falta de coletes à prova de bala e outros equipamentos de segurança. 

Dia três, o fim Para evitar a especulação dos jornalistas, Helena Fazenda e Anabela Rodrigues ordenam briefings à imprensa de duas em duas horas: os olhos do mundo estão em Portugal e pelas piores razões. Novo dilema: que força de segurança deve assumir o papel de porta-voz? É pelas televisões, entretanto, que os portugueses ficam a saber que os suspeitos estão barricados num armazém em Castanheira do Ribatejo, a 30 quilómetros de Lisboa.  
Helena Fazenda precisa tomar duas decisões: a zona é de competência da GNR. Que equipas de intervenção táctica devem tomar de assalto o armazém, onde há reféns? As da PSP ou as da GNR? A GNR acaba por ganhar o braço-de-ferro, mas sobra outra dúvida: que negociadores devem falar com os terroristas? Os da PJ, polícia com competência para investigar o terrorismo, ou os da GNR, que têm os restantes elementos envolvidos na operação em em curso. Fosse como fosse, na hora de atirar contra os suspeitos, Anabela Rodrigues teria sempre de validar o disparo dos snipers.

* Temos uma ministra do MAI que prefere trabalhar do que participar em folclores, Helena Fazenda também não se põe em bicos de pés para se fazer notada nem anda de lambreta, por nós, pensionistas de "a peida é um regalo do nariz a gente trata" estamos bem liderados no que respeita a segurança interna, a falta de equipamento é da responsabilidade de Maria Luís Albuquerque.


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