20/01/2015

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HOJE NO
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Paulo Campos. 
“Ultimamente temos técnicos do INEM 
a ser agredidos na rua”

 Presidente do INEM revela que notícias sobre atrasos no atendimento já levaram a agressões aos técnicos e afectam credibilidade da instituição 

O convite para o INEM chegou um dia antes do nascimento do seu último filho e é por isso que considera o instituto “uma espécie de filho mais novo”. Há nove meses à frente do_INEM, Paulo Campos fala em muito trabalho e dias que normalmente não acabam antes da madrugada. Apesar do recurso a números e dados exactos, não esquece o tempo que trabalhou no terreno e garante que às vezes ainda “veste o fato amarelo e calça as botas” para um ou outro serviço. 
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Defende melhores condições de trabalho para os funcionários do instituto, mas garante que nunca conheceu trabalhadores tão motivados. Sobre as últimas polémicas, Paulo Campos garante a eficiência do serviço e desvaloriza as notícias sobre demora no atendimento. 

Já morreram pessoas devido a atrasos no atendimento do INEM?
Que nós tenhamos conhecimento, não. O impacto tem a ver com atrasos de alguns segundos. Para uma média de chamadas de cerca de 3400 por dia, passámos a ter, no dia 1 de Janeiro, por exemplo, mais de 5 mil chamadas. Este acréscimo de chamadas é muito grande para uma central de atendimento. 

A que se deve esse acréscimo?
A um conjunto de factores. A nossa população está mais envelhecida, precisa de mais cuidados de saúde e ao longo dos anos temos tido um aumento de 5 a 10 por cento do volume de chamadas todos os anos. Por outro lado, estamos no Inverno, com picos de casos de gripe. 

Esse aumento no volume de chamadas tem sido acompanhado por um aumento de pessoas no atendimento?
Temos um aumento de chamadas e um plano de abertura de meios anual, com os quais é preciso fazer passagem de dados. É preciso repensar estruturas e é por isso que, para 2015, está previsto um incremento de quase 300 profissionais e já temos autorização para a abertura do concurso para 85 técnicos de emergência. 

Mesmo assim há notícias específicas, como a do homem de 63 anos em Espinho que morreu depois de 40 minutos à espera de viatura do_INEM.
Lamentamos a morte do doente, mas é o caso de um doente com uma doença muito grave e que provavelmente não iria ter outro desfecho. O comandante dessa corporação de bombeiros [de Espinho ] é vice--presidente do sindicato, o mesmo que está a trazer isto a público. Em nenhum ponto os bombeiros estão em causa. 

Há uma espécie de guerra aberta entre bombeiros e INEM?
Não há, nem pode haver. Somos parceiros de um sistema que dá resposta ao cidadão. Pode ter havido algumas animosidades no passado, ou pessoas ligadas a outras estruturas e que não deviam levantar poeira entre estas duas estruturas, mas temos conseguido limar os problemas e pôr o doente acima de tudo isso. 

Qual tem sido o impacto destas notícias no dia-a-dia no_INEM?
Este tipo de notícias tem impacto na agressividade das chamadas e no próprio contacto com os nossos técnicos, que ultimamente são agredidos na rua. As pessoas ficam com dúvidas sobre o nosso trabalho. 

O número de profissionais ainda responde aos padrões de segurança?
Sim, senão tínhamos de encerrar meios. 

A formação dos técnicos é suficiente?
Fazemos sempre propostas de melhoria e a verdade é que os técnicos de emergência vão ter mais competências e mais tempo de formação. E isso não tira o lugar a ninguém. 

Faria sentido ter um enfermeiro em cada saída do INEM?
Não, de maneira nenhuma. É mais um mito criado por uma luta de parceiros, que põe em causa o próprio sistema. Ordens e sindicatos, que puseram isto em causa, têm de perceber que há espaço para todos e que não lhes compete roubar espaço uns aos outros. 

Ao i, o INEM explicou que a subida de poucos segundos nos tempos de atendimento não tem reflexo nos tempos globais de resposta às emergências. Como é isso possível?
Falamos de uma timeline de tempo. Quando uma pessoa faz a chamada para o 112 é atendida e a chamada é passada para o CODU (Centros de Orientação de Doentes Urgentes), é a esse tempo de atendimento que nos referimos. A partir daí o profissional identifica o caso e manda o meio para o local. Como tudo é feito através de um algoritmo, o meio pode ser activado mesmo antes de o técnico terminar a chamada. É por isso que um aumento de poucos segundos na chamada para o CODU não aumenta o tempo geral de espera. 

Mas alguns técnicos falam em tempos de espera de mais de uma hora.
Isso será o tempo de passagem de dados, não o de atendimento. O que está previsto é que se não são atendidos tentem outra linha. 

O que quer dizer que os técnicos não estão a usar todos os meios disponíveis?
Acredita que se eu estiver na rua uma hora com uma situação urgente não tento outra linha? 

Falta passar essa informação aos técnicos?
Eu não vou dizer que não houve um aumento de tempo na passagem de dados. Mas não é suposto ficar à espera para provar à comunicação social que não conseguiu ligar. 

Há alguma razão para que o problema tenha saído a público agora?
O sindicato é que poderá explicar o porquê de só falar agora, principalmente a dias de termos a abertura de concursos para novos profissionais. 

Há uma incompatibilidade entre direcção e sindicato?
Não, mas estamos em ano de eleições… 

Acha que isso influencia?
Influencia, claro, até porque estamos a falar da exposição mediática da emergência médica nacional. Se quem mediatizou estes temas esperasse uma semana, estes técnicos já estavam a integrar o CODU. 

Antes desta direcção não foram integrados novos recursos humanos?
Não quero comentar as opções das outras direcções. Temos trabalhadores motivados, que nunca dizem que não. Existe burnout [síndrome de exaustão emocional  relacionada com a profissão], mas também existe engagement [capacidade de se manter envolvido na profissão]. 

Os valores de engagement são superiores aos das outras profissões?
São, claramente. As pessoas quando abraçam uma profissão destas fazem-no com toda a paixão.
 
Mas compensa os valores de burnout?
É um trabalho desgastante, sem dúvida, tanto a nível físico como psicológico. Para mim sempre compensou, mas depende de pessoa para pessoa. A remuneração é baixa, mas salvar uma criança sabe tão bem... Por outro lado, ter uma criança morta nos braços também tem os seus efeitos. Os valores de burnout no INEM são semelhantes aos de serviços do género a nível internacional. 

Ser semelhante ao que acontece no estrangeiro não quer dizer que seja positivo...
Principalmente não quer dizer que não se possa fazer nada. Daí termos apostado em acções de formação dadas pelos nossos psicólogos, para prevenir o burnout e aumentar o engagement. 

Como explica o número de baixas do INEM?
É verdade que no Natal tivemos mais 50 baixas que o esperado, mas não sei se em geral temos mais ou menos que outras entidades da função pública. Há muitas instituições que não autorizam férias em períodos críticos, talvez seja uma opção a ponderar para o INEM. 

Como foram suportadas essas baixas?
Com outros profissionais, que tiveram de deixar as famílias no Natal e na passagem de ano para virem trabalhar, mesmo sem estarem escalados para tal. É de enaltecer esse empenho. Cada um pode pensar no que quiser sobre haver mais baixas em alturas de festas, mas são baixas por doença, não há muito a fazer.

Isso não é contar com a boa vontade dos trabalhadores?
Há mecanismos legais para interromper férias para dar resposta aos serviços. Mas não foi preciso e não conheço muitas instituições em que isso aconteça. Os trabalhadores do INEM são um exemplo, estão altamente motivados. 

No INEM a motivação não passa por aumentos salariais?
Um bombeiro que faça um turno extra ganha 3 euros, um técnico do INEM ganha 22,50. Não é o dinheiro o único motivo que os leva a trabalhar mais horas, até porque no INEM os valores nunca podem ultrapassar os 60% do ordenado-base. 

Então como se motivam os trabalhadores do INEM?
A entrada de mais recursos humanos vai aliviar o trabalho actual, o que já é uma motivação. Vai ser possível também alocar profissionais a outros serviços. Estar oito horas a atender chamadas de pessoas com níveis de stresse elevados é muito desgastante. 

Os aumentos salariais não estão em causa?
Os trabalhadores do INEM ganham mal, é verdade. Um técnico de emergência ganha 695 euros, mas não há alternativa que não seja cumprir as regras que o país tem. 

As condições de trabalho no INEM são as suficientes?
Temos coisas para melhorar, claro. Não podemos é querer fazer numa semana aquilo que não foi feito no último século. O que posso garantir é que temos estado a acompanhar auditoria e em 2014 fizemos auditoria de 80% das bases. Esgrimir isto do ponto de vista político é muito fácil, mas em termos técnicos é mais complicado. Este instituto não são só os técnicos de emergência, temos 1300 profissionais, dos quais 770 são técnicos de emergência. É preciso gerir tudo da melhor forma. 

Chegou a falar-se de casos de suicídio entre trabalhadores da instituição.
Não existem casos de suicídio no INEM, não há ninguém da equipa que os conheça. 

O estudo do burnout deu origem a apoio psicológico aos trabalhadores. É para continuar?
Sim, e a ideia é abrir o leque a todos os trabalhadores do INEM, não ficando só pelos técnicos de ambulância, como até aqui. Por isso pedimos um estudo mais alargado à Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. 

* Como é hábito não comentamos entrevistas aqui reproduzidas.

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