14/12/2014

INÊS CARDOSO

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O poder 
nas mãos da tecnologia

Dos rendimentos às compras efetuadas, das passagens em Via Verde aos levantamentos bancários, todos os passos que damos deixam, hoje, um rasto fácil de seguir. Já para não falar de localizações exatas fornecidas por determinadas aplicações, da informação que fornecemos através de gestos simples, como uma pesquisa na Internet, ou da exposição a que nos submetemos ao decidirmos estar presentes numa rede social.

Num mundo em que a facilidade de acesso a informação reservada e sigilosa aumenta, não surpreende a tentação de espreitar pela fechadura, como terão feito funcionários do Fisco com a vida de dirigentes políticos à distância de um clique. E é exatamente porque a tecnologia permite uma manipulação de dados nunca antes vista que aumenta a exigência de regras claras e de pronta fiscalização a situações abusivas.

Mais do que os riscos de violação da privacidade e o direito à proteção de dados pessoais, amplamente debatidos, o poder da tecnologia levanta questões que exigem uma séria reflexão - na qual os jornalistas devem ter um papel particularmente ativo. Emily Bell, diretora do Centro de Jornalismo Digital de Columbia, sintetizou de forma brilhante os problemas levantados pelo poder da tecnologia numa recente intervenção no Instituto Reuters.

Lembrando que os algoritmos das plataformas e redes sociais e a forma como são previamente selecionados os conteúdos que chegam a cada utilizador tornam gigantes como o Facebook ou a Google "novos editores" de informação, Emily Bell sustenta que os jornalistas devem escrutinar estes poderes com a mesma acutilância com que no passado vigiaram o espaço público. Tecnologia é, de facto, muito mais que o lançamento de um novo iPhone ou de uma nova aplicação. Tecnologia é poder. Estar preparado para o descodificar e vigiar é um desafio central nos novos tempos.

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
12/12/14

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