ESTA SEMANA NO
"DINHEIRO VIVO"
"DINHEIRO VIVO"
"Eu acredito que a Uniplaces pode valer
. 100 milhões no final de 2015"
"Mas eu só tenho 25 anos e a Uniplaces..." Foi assim, também com
alguma falsa modéstia, que Miguel Santo Amaro respondeu ao repto de ser
o entrevistado da semana.
É verdade que estamos habituados a encontrar em lugares de destaque quase sempre os mesmos, homens de meia-idade, normalmente as mesmas empresas, num lote que não vai muito além do PSI 20.
Mas
a história de Miguel Santo Amaro, natural do Porto, é uma prova de que
há mais país, de que o empreendedorismo não é apenas uma moda e de que a
geração dos millennials pode bem ser um importante motor da economia
nas próximas décadas.
A Uniplaces nasceu, no final de 2012, da vontade de três amigos com pouco mais de 20 anos
- um português, o Miguel, um argentino, o Mariano, e um inglês, o Ben -
"de fazer algo tecnológico que permitisse estar em Portugal mas a viver
o mundo".
Por necessidade, porque quando se juntaram em Lisboa
tiveram muitas dificuldades em encontrar uma casa para viver,
lançaram-se na criação de uma plataforma online de arrendamento para
estudantes.
E é exatamente isso que é hoje a Uniplaces, que está a chegar às 30 mil casas certificadas, sete milhões de rendas geradas para 3500 senhorios - "há um senhorio em Londres que tem 40 mil quartos"- e um volume de negócios de aproximadamente 700 mil euros.
A faturação da Uniplaces é fruto de comissões cobradas aos senhorios e aos estudantes. Tudo isto em Lisboa, Londres e Madrid, os três mercados atuais da empresa.
"Era
novembro, estava a chover, não queríamos fazer visitas a casas,
queríamos ver as fotografias, carregar num botão, reservar e entrar no
dia seguinte. Se tudo corresse bem, não haveria grandes surpresas",
conta Miguel Santo Amaro.
Não foi nada assim, porque as
fotografias não jogavam com a realidade, a pouca oferta que existia
estava apenas em português e a opção por uma agência imobiliária tinha
custos que não queriam suportar: "A divulgação de locais para arrendar
era feita nos troncos das árvores nas universidades e os estudantes
perdiam o tempo que tinham para estudar a procurar casa", explica Santo
Amaro.
Hoje, todas as casas inseridas na Uniplaces são
verificadas e fotografadas pela equipa e é com base nessa relação de
confiança com senhorios, estudantes e universidades que conquistam
credibilidade e um número crescente de clientes. Até ao momento, já passaram pela Uniplaces estudantes de mais de 130 nacionalidades.
Dois
anos depois do arranque do projeto, Miguel, Ben e Mariano já
conseguiram captar investimento no montante de quatro milhões de euros, estão a crescer a um ritmo superior a 1000% ao ano,
esperam levantar mais 10 a 20 milhões de fundos no primeiro semestre do
próximo ano e o objetivo é, daqui a seis anos - "de preferência
antes"-, dispersar o capital da empresa em bolsa. Na Bolsa de Lisboa?
"Não, lá fora, nos Estados Unidos ou em Inglaterra. Há ambição para isso
e já percebemos que o projeto pode ser grande, de que pode surgir uma
oportunidade melhor, uma venda, uma aquisição, uma parceria estratégica
ou um acordo comercial", adianta o co-fundador da Uniplaces.
Segundo Miguel Santo Amaro, o objetivo é transformar a empresa num "player global para o alojamento de estudantes universitários". O mercado está lá, existe, não tem de ser criado de raiz e será conquistado por quem chegar primeiro.
E
a ambição destes jovens parece não ter limites. Quanto é que vale a
Uniplaces? "O valor de uma empresa é sempre aquele que os investidores
estão dispostos a pagar. Eu acredito mesmo que a Uniplaces pode valer
100 milhões de euros no final do próximo ano", acrescenta o sócio
português da empresa, o primeiro projeto da incubadora Startup Lisboa.
Para
isso, a Uniplaces já começou a trabalhar novas cidades, como Porto,
Coimbra e Barcelona. "Além destas cidades, lançámos Itália e Holanda,
estamos agora a preparar a Alemanha, onde já temos uma equipa, França,
Bélgica e Áustria. A ideia é cobrir o mercado europeu e depois, a partir
daí, atacarmos os Estados Unidos e a Ásia", explicou Santo Amaro.
A meta é chegar às 30 cidades até ao verão de 2015.
Para já, Lisboa é o mercado mais rentável da Uniplaces, mas tal já não
será assim no final do próximo ano. O mercado espanhol, adianta o
empresário, começa a ganhar cada vez mais importância.
Para
suportar este crescimento, a Uniplaces precisará de mais capital.
"Dependerá muito da agressividade e da ambição do nosso plano
estratégico, mas a ideia será captar entre 10 e 20 milhões de euros.
Haverá novidades durante o primeiro semestre de 2015", precisa Miguel
Santo Amaro.
Os três fundadores mantêm a maioria do capital da
Uniplaces e é assim que querem continuar. O restante é detido pelos
investidores, empresas de capital de risco que, até aqui, já entraram
com quatro milhões de euros. E, neste momento, 5% do capital da
Uniplaces está nas mãos dos 54 trabalhadores da Uniplaces e a ideia é
chegar aos 10%.
O plano de crescimento exigirá também a
contratação de mais pessoal. Neste momento, a Uniplaces recebe cerca de
50 candidaturas por dia de pessoas que querem trabalhar na empresa e os
planos passam por quase duplicar e chegar aos 100 trabalhadores no final
do próximo ano. "Já temos 10 nacionalidades na equipa, entre
portugueses, ingleses, italianos, franceses, espanhóis, belgas, alemães,
holandeses e americanos e a nossa preocupação é captar talento para a
Uniplaces, quem tenha perspetiva de startupper, que é, no fundo, ter
muita ambição", explica.
A ingenuidade de quem quer ser o melhor do mundo
Ser
um startupper é, afinal, tudo aquilo que Miguel Santo Amaro sempre quis
ser, apesar dos devaneios típicos da infância: "Quando era pequenino
queria ser jogador de futebol e ter a minha própria empresa", conta.
Depois
de ter acabado o secundário no Colégio Internacional do Porto, foi
estudar Finanças para Nottingham, no Reino Unido, onde se cruzou com um
dos seus sócios, o Ben.
No final da licenciatura poderia ter
seguido o caminho lógico e ter feito um MBA, mas optou pelo mestrado em
Global Entrepreneurship do Babson College, nos Estados Unidos.
Foi a partir desta escola norte-americana que chegou à
capital chinesa do empreendedorismo, localizada perto de Xangai,
Hangzhou, onde fica a sede do gigante asiático do comércio eletrónico
Alibaba. Durante os seis meses que lá ficou cruzou-se com o
argentino Mariano, que hoje também é seu sócio na Uniplaces. Mariano
estava na altura a lançar o projeto da Groupon na China.
"Estes
seis meses em Hangzhou foram uma experiência de life changing. Fui
sempre o menino certinho, que tirava boas notas e tinha a carreira
predefinida para a consultoria. Pensava em ter boas notas, tirar um MBA,
ir trabalhar quatro ou cinco anos para uma grande empresa e só depois
tornar-me empreendedor. Nessa altura percebi que queria fazer tudo mais
cedo, que daqui a cinco anos queria ser muito melhor do que se seguisse a
via tradicional", contou Miguel Santo Amaro.
Foi assim que aos 22 anos este jovem que dorme menos de cinco horas por dia, muito menos do que a sua mãe gostaria - "eu gosto é de ter de acordar"
-, se juntou a um inglês e a um argentino e hoje trabalha na sua
própria empresa, a mesma que diz querer transformar numa das maiores
tecnológicas do mundo.
"Senti que tinha uma oportunidade e um
dever de poder fazer algo pela minha geração. Havia muito aquela
conversa dos meninos mimados, pouco qualificados, pouco ambisiosos e eu
acho que é exatamente o contrário, porque tínhamos, por exemplo, mais
capacidades técnicas do que a geração dos meus pais e dos meus avós",
começa por explicar Miguel Santo Amaro.
E as dúvidas existem,
tanto mais que, como diz o próprio Miguel Santo Amaro, 99% das startups
de tecnologia falham: Daqui a umas décadas, a Uniplaces será uma grande
empresa em Portugal e o Miguel Santo Amaro um grande empresário como
Belmiro de Azevedo ou Américo Amorim, as suas referências no mundo
empresarial? "Espero que sim, espero genuinamente que seja maior."
E
o facto de só ter 25 anos e ter arrancado com a Uniplaces aos 22
tornou tudo mais difícil? "Mais do que a idade, o problema foi a
ausência de experiência. A nossa idade foi um fator interessante porque é
preciso muita ingenuidade para criar uma empresa e querer ser o melhor
do mundo. Depois, vamos percebendo que as coisas têm de ter a sua calma e
que as parcerias demoram o seu tempo, vamos ganhando essa paciência. Se
fôssemos mais velhos, teríamos feito a Uniplaces de uma outra forma,
mas provavelmente não teríamos chegado até aqui, não teríamos esta
equipa nem o mesmo dinamismo", responde Miguel Santo Amaro.
* Eles são novos mas a inteligência funciona e há-de trazer-lhes a maturidade.
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