25/11/2014

AFONSO CAMÕES

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O meu caso com
 o meritíssimo juiz 
Alexandre

Em plena horta, no meio das couves de Natal, o homem abriu o aerograma e pediu que lho lêssemos. Não sabia ler. E caiu-nos varado aos pés quando cada palavra lhe anunciou que o filho, combatente na Guiné, tombara bravamente. Foi a primeira vez que vi o meu pai chorar. Era carteiro provincial de 3.ª classe, tal como o pai do juiz Carlos Alexandre, mas no município vizinho.
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Aprendemos de meninos, eu e ele, a inquietação que é dar notícias - e de como o mensageiro é ou se deixa ele próprio confundir na notícia. Podemos não ser capazes de mudar a realidade, mas sabemos ambos que este acordar da Justiça está a revelar uma sociedade doente, que, no mínimo, precisa de mais exigência: BPN, BPP, Face Oculta, Tecnoforma, vistos dourados, submarinos, Monte Branco, a detenção do nosso guarda-fronteiras, agora a detenção de Sócrates, e o que mais há de resultar do caso BES. O que temos e a perspetiva do que aí vem são um pesadelo. 
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Ao terceiro dia da detenção de Sócrates, não há qualquer razão para acreditarmos num risco de fuga e não lhe é conhecida a acusação. Sabemos todos que tolerar ou promover o alarido mediático e sustentar o pelourinho das condenações desfazem os princípios da equidade e da presunção da inocência, tornando o justiceirismo num instrumento de manipulação política, típica de estados falhados, mais a mais quando há eleições à vista. Enquanto a Justiça não falar, límpida como deve, os únicos quesitos que conhecemos são os da Felícia. Mas não há reputação de país que resista a tal abalo. 
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Acho que nunca me cruzei com o meritíssimo, mas trilhámos em comum muitos caminhos. Confio que ele sabe, mesmo quando tudo parece desmoronar-se à nossa volta, que o básico é confiarmos nos pilares, nas traves e sobretudo nos alicerces da construção de mil anos que nos trouxeram até ao Estado de direito, à ética republicana e à democracia. Ignorá-los seriam mil anos de civilização e Portugal a morrer dentro de nós.
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Acontece que Carlos Alexandre é juiz e eu sou jornalista. Ao melhor dos meus amigos eu diria, de caras: detém-te no direito e faz justiça! Deixa as notícias com o jornalismo, onde o desafio é o da credibilidade. Esta é a altura de estarmos, uns e outros, ao nível do melhor de nós mesmos. O país e os portugueses não merecem menos.

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
25/11/14


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