24/10/2014

RUI FARIA

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Medida a felicitar

Como não sou jurista nem tão-pouco um “papa-leis”, “papa-decretos”, “papa-portaria”, soube há cerca de duas semanas, em conversa com colegas num dos intervalos letivos, que, de acordo com a idade e reduções letivas, seria retirada parte da componente não letiva dos horários dos professores, o chamado bloco de 90 minutos semanais destinado a “trabalho autónomo” do professor in loco, isto é, dentro da escola. Uma medida a felicitar… E mais daqui a pouco já avançarei os tópicos desta minha conversa que servirão a minha felicitação…

Recordo-me – ou recordei-me – do momento em que nos foi imposta essa medida, baseada em argumentos fracos de que o professor devia passar mais tempo na escola, mesmo que não fosse a dar aulas. Na escola devia preparar as suas aulas, planificar com os colegas, elaborar e corrigir testes e, ao longo dos anos, continuou a faltar tudo aquilo que nos é – me é – necessário para levar a cabo tais tarefas: sempre me faltou um gabinete só para mim, mobilado com uma secretária, um computador, uma impressora, uma ou mais estantes, vista para os pátios ou jardins. E não me faltou a mim, como a todos os professores. E se um bloco de 90 minutos fosse o suficiente, toda a gente gostaria de ingressar na mais (des)prestigiada carreira profissional do país… Já o tinha afirmado, não sei também se por aquelas alturas, o excelente comentador televisivo e não menos prestigiado escritor Miguel de Sousa Tavares (paz à alma de sua grande mãe) que nós – os professores – somos efetivamente os inúteis mais bem pagos do país… Em função disso, resolvi eu também – e porque não qualquer um dos meus leitores – tornar-me comentador – ou melhor: conversador – não televisivo, mas de impressa. Não ganho, porém, um chavo por isso!

Mas…voltando às felicitações, afinal foram elas que me deram o motivo para redigir este texto, acho que a recente medida tomada foi, além de coerente, uma das mais indicadas. Bem hajam! E quando refiro “uma das mais indicadas”, quero dizer que outras há que, atempadamente, serão tomadas, no momento certo. Faria sentido manter professores nas escolas, durante um período de 90 ou mais minutos (depende de antiguidades, reduções e outras questões) a trabalhar autonomamente, preparando aulas com qualidade, cumprindo com outras funções, como correção de provas e muitos mais trabalhos? Tudo é feito em casa! Talvez por assumirem os cargos professores “de facto” e “in ueritas” é que se deu essa consciencialização! Levamos horas a elaborar um teste, por exemplo; muitas mais a corrigi-lo vezes cem, cento e cinquenta alunos; muitas mais ainda a sequencializar aulas e a preparar materiais de apoio (o manual não é tudo, nem ainda ganhou, infelizmente, um estatuto bíblico) e ainda nos obrigavam a ficar 90 minutos presenciais no espaço escola para dar conta de tudo isso, sem termos, em certos estabelecimentos de ensino, as condições físicas mínimas para o efeito…

O ensino, tal como o Halloween, também vai tendo os seus trintas e uns de outubro. Aguarda-se, no entanto, por mais vintes e cincos de abril. Aí residirá a resposta a muitas das dúvidas que o ensino nos tem colocado.


IN "AÇORIANO ORIENTAL"
20/10/14


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