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IN "AÇORIANO ORIENTAL"
20/10/14
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Medida a felicitar
Como não sou jurista nem tão-pouco um “papa-leis”, “papa-decretos”,
“papa-portaria”, soube há cerca de duas semanas, em conversa com colegas
num dos intervalos letivos, que, de acordo com a idade e reduções
letivas, seria retirada parte da componente não letiva dos horários dos
professores, o chamado bloco de 90 minutos semanais destinado a
“trabalho autónomo” do professor in loco, isto é, dentro da escola. Uma
medida a felicitar… E mais daqui a pouco já avançarei os tópicos desta
minha conversa que servirão a minha felicitação…
Recordo-me – ou recordei-me – do momento em que nos foi imposta essa
medida, baseada em argumentos fracos de que o professor devia passar
mais tempo na escola, mesmo que não fosse a dar aulas. Na escola devia
preparar as suas aulas, planificar com os colegas, elaborar e corrigir
testes e, ao longo dos anos, continuou a faltar tudo aquilo que nos é –
me é – necessário para levar a cabo tais tarefas: sempre me faltou um
gabinete só para mim, mobilado com uma secretária, um computador, uma
impressora, uma ou mais estantes, vista para os pátios ou jardins. E não
me faltou a mim, como a todos os professores. E se um bloco de 90
minutos fosse o suficiente, toda a gente gostaria de ingressar na mais
(des)prestigiada carreira profissional do país… Já o tinha afirmado, não
sei também se por aquelas alturas, o excelente comentador televisivo e
não menos prestigiado escritor Miguel de Sousa Tavares (paz à alma de
sua grande mãe) que nós – os professores – somos efetivamente os inúteis
mais bem pagos do país… Em função disso, resolvi eu também – e porque
não qualquer um dos meus leitores – tornar-me comentador – ou melhor:
conversador – não televisivo, mas de impressa. Não ganho, porém, um
chavo por isso!
Mas…voltando às felicitações, afinal foram elas que me deram o motivo
para redigir este texto, acho que a recente medida tomada foi, além de
coerente, uma das mais indicadas. Bem hajam! E quando refiro “uma das
mais indicadas”, quero dizer que outras há que, atempadamente, serão
tomadas, no momento certo. Faria sentido manter professores nas escolas,
durante um período de 90 ou mais minutos (depende de antiguidades,
reduções e outras questões) a trabalhar autonomamente, preparando aulas
com qualidade, cumprindo com outras funções, como correção de provas e
muitos mais trabalhos? Tudo é feito em casa! Talvez por assumirem os
cargos professores “de facto” e “in ueritas” é que se deu essa
consciencialização! Levamos horas a elaborar um teste, por exemplo;
muitas mais a corrigi-lo vezes cem, cento e cinquenta alunos; muitas
mais ainda a sequencializar aulas e a preparar materiais de apoio (o
manual não é tudo, nem ainda ganhou, infelizmente, um estatuto bíblico) e
ainda nos obrigavam a ficar 90 minutos presenciais no espaço escola
para dar conta de tudo isso, sem termos, em certos estabelecimentos de
ensino, as condições físicas mínimas para o efeito…
O ensino, tal como o Halloween, também vai tendo os seus trintas e
uns de outubro. Aguarda-se, no entanto, por mais vintes e cincos de
abril. Aí residirá a resposta a muitas das dúvidas que o ensino nos tem
colocado.
IN "AÇORIANO ORIENTAL"
20/10/14
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