26/10/2014

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324.
Senso d'hoje
   
MARIA ANTÓNIA PALLA
  GRANDE ESCRITORA LUSA
MÃE DE ANTÓNIO COSTA

Para mim era absolutamente claro que nunca me casaria de vestido branco. Eu vivia numa família que era contra o regime e no fundo havia a tradição de se fazerem as coisas um bocado ao contrário. Proibi a minha mãe de fazer enxoval. Aceitar que a minha mãe estava a fazer o meu enxoval era aceitar que o meu destino era casar-me e ter meninos e tratar da casa. 

Posto que estava na minha cabeça que não me casaria pela Igreja, que nunca seria de branco, que não teria a ver com o que era habitual nessa outra sociedade a que nós não pertencíamos, aconteceu que uma prima minha estava de luto, mas tinha um vestido novo de seda natural, vermelho com pintinhas brancas. Eu não queria fazer um vestido de propósito para o dia do casamento e a minha avó materna ofereceu-me esse vestido. E recusei-me em absoluto a ir de braço dado com o meu pai. Disse-lhe: "Não sou a ovelha que vai levar ao mercado para vender." As únicas pessoas que convidámos foram as nossas testemunhas de casamento, os padrinhos. Eu acho que era muito radical...  

Quando fecharam a Caixa dos Jornalistas anunciei que cortava relações com o PS. Aquilo magoou-me de tal maneira! E o facto de ter sido como foi! No dia 15 de Dezembro tinha marcada uma reunião com [o ministro] Vieira da Silva, por causa de problemas laborais. E estava lá um senhor, que se apresentou como secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos, que disse com a maior das calmas: "A partir do dia 31 não pagamos mais nada." Havia pessoas a fazer quimioterapias! Nessa altura eu disse que cortava relações com o PS, mas achei que não mereciam sequer o trabalho de lhes escrever uma carta a demitir-me. E não pensei mais no assunto, nunca mais fui a nada organizado pelo Partido Socialista.

"O PS nunca compreendeu muito bem a liberdade de imprensa"

* Excertos duma entrevista ao jornal "i"

NR: Uma grande senhora.

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