23/10/2014

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HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"

George Soros defende que "é tempo
. de a UE acordar e agir como estando
. indirectamente em guerra"

No entender de George Soros, na Ucrânia e na capacidade de resposta europeia às acções da Rússia joga-se também o futuro da União Europeia. O húngaro-americano lamenta que os líderes europeus desconheçam a melhor forma para lidar com a crise ucraniana e pede a Angela Merkel um maior compromisso em ajudar a Ucrânia do que em impor sanções à Rússia. 
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O multimilionário húngaro-americano George Soros considera que a frágil capacidade de resposta da União Europeia (UE) em relação às acções russas na Ucrânia coloca "em risco o seu próprio futuro".
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Num artigo que será publicado, em Novembro, no New York Review of Books, Soros sustenta que o futuro da UE se joga também na forma como se solucionará a crise ucraniana, lamentando que "nem os líderes europeus, nem os seus cidadãos, tenham plena consciência deste desafio", garantindo que em Bruxelas não "sabem qual a melhor forma de lidar com o mesmo".

George Soros acredita que o presidente russo Vladimir Putin não desistirá facilmente do objectivo de estender e reforçar a influência russa para o ocidente europeu, aproveitando-se da objecção da Europa e dos Estados Unidos a qualquer tipo "de confrontação militar com a Rússia".

"Na falta de uma resistência una, é irrealista esperar que Putin não tente ir além da Ucrânia quando a divisão da Europa e o seu domínio está à vista da Rússia", avisa Soros.

O multimilionário considera ainda que os Estados-membros da União precisam, portanto, de "despertar e agir como países estando indirectamente em guerra". Porque no confronto ucraniano "o que está em risco não é apenas a sobrevivência da nova Ucrânia mas também o futuro da NATO e da própria UE, remata. Soros classifica de nova Ucrânia o movimento pró-ocidente e anti-corrupção nascido nas manifestações da praça Maidan que acabram por, em Fevereiro passado, levar à depoisção do ex-presidente Viktor Yanukovych.

Resposta europeia é "inapropriada" 
Por acreditar que a Europa se encontra em guerra com a Rússia, mesmo que de forma indirecta, até porque as acções de Moscovo na Ucrânia "representam um ataque aos princípios da UE", afirma-se como "evidente que é inapropriado que um país, ou uma associação de países, em guerra prossigam uma política orçamental de austeridade tal como a UE continua a fazer".

Apesar de considerar que a chanceler alemã Angela Merkel "se tem comportado como uma verdadeira europeia em relação à ameaça russa", Soros realça que a governante germânica tem sido "a maior defensora das sanções [económicas] contra a Rússia.

No entanto, o investidor nota que Merkel reafirmou recentemente a sua "apologia à ortodoxia do Bundesbank em matéria de austeridade orçamental", demonstrando "não perceber quão inconsistente isso é". Na perspectiva de George Soros, Angela Merkel "deveria estar mais comprometida em apoiar a Ucrânia do que em impor sanções à Rússia".

Nesse sentido, já depois de sublinhar "que os países europeus estão igualmente relutantes em assistir militarmente a Ucrânia, temendo uma retaliação russa", o húngaro-americano revela os problemas decorrentes daquela que tem sido a aproximação europeia à crise ucraniana.

"Sanções contra a Rússia são necessárias, mas são um mal necessário. Têm um efeito depressivo não apenas para a Rússia, mas também para as economias europeias, incluindo a alemã. Isto agrava as forças de recessão e deflação que já estão em curso", avisa Soros que se prontifica a identificar o trilho que devem passar a percorrer as opções políticas de Bruxelas, face às acções de Moscovo.

"Apoiar a Ucrânia no sentido de esta se defender, por si própria, perante as agressões russas teria um efeito positivo não somente para a Ucrânia, mas também para a Europa", afirma Soros que insiste que Kiev "precisa receber o apoio adequado dos seus apoiantes, sem o qual os resultados serão desapontantes e a esperança resultará em desespero", conclui.

Porque, seja qual for o caminho que venha a ser seguido, Soros assegura que "a contradição interna entre estar em guerra e permanecer fiel ao compromisso para com a austeridade orçamental, terá de ser eliminada".

Soros contra intervenção financeira directa da UE e dos EUA na Ucrânia
Por fim, George Soros afiança que seria "melhor, na relação custo-benefício, que os Estados Unidos e a Europa não recorressem ao seu crédito directo para assegurar parte da dívida ucraniana", sugerindo que estes blocos económicos deveriam, ao invés, "recorrer a intermediários como o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento ou o Banco Mundial".

Em jeito de conclusão, Soros volta ao tema essencial deste seu artigo e que se prende com a incapacidade demonstrada pela UE, deixando algumas sugestões aos responsáveis de Bruxelas:

"[A burocracia europeia] deveria aprender a ser mais unida, flexível e eficiente. E os europeus precisam olhar mais atentamente para a nova Ucrânia. Ajudá-los-ia a recuperar o espírito original que levou à criação da UE. A UE salvar-se-ia salvando a Ucrânia". 

* Rompeu-se a máscara da hipocrisia da UE com o conflito na Ucrânia.

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