12/10/2014

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ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"

Os britânicos cortaram com
 os três grandes 

Houve um terramoto político no Reino Unido. Aconteceu noite dentro, agitou o Twitter e é preciso contar tudo.

Afinal, dos desertores também reza a história. Douglas Carswell, que passou das fileiras dos conservadores para as do Partido para a Independência do Reino Unido (UKIP), tornou-se às primeiras horas desta sexta-feira o primeiro deputado eleito ao Parlamento Britânico pelos euro-fóbicos. O terramoto político que o líder Nigel Farage tanto previu e pediu que acontecesse em Clacton-on-Sea, uma pequena cidade na costa sudeste de Inglaterra, e só por milagre não se repercutiu até Heywood and Middleton, Manchester, coração dos trabalhistas, aconteceu. O que, em termos eleitorais, significa ganhar por meia centena de votos.
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Douglas Carswell
Fez-se história e o meio político passou uma madrugada agitada a destilar reações e a traçar planos eleitorais em cima do joelho - que é como quem diz, no Twitter. John Mann, deputado pelos trabalhistas, disse que "é preciso levar a luta para o território do Ukip" e que "Ed Miliband precisa de alargar a sua influência". Mas o também trabalhista Luke Akehurst foi mais longe: "O partido trabalhista precisa de uma mudança total na política eleitoral e na equipa que a está a desenhar".

O que é estranho é que poucas horas depois de ter defendido que as pessoas portadoras do vírus do VIH deveriam ser banidas de entrar no Reino Unido, o UKIP tenha conseguido ganhar uma eleição com 60% dos votos e quase roubar aos trabalhistas um assento no Norte, tradicionalmente um bastião trabalhista. E tudo isto a meio ano de umas eleições em que os trabalhistas procuram não só ganhar como alcançar uma maioria.

Pulverização partidária?
Será que estamos a assistir à pulverização partidária que os analistas garantem ser o primeiro sintoma de uma democracia madura? Se juntarmos o UKIP, os Verdes - que já estão em pé de igualdade, nos 7%, com os liberais-democratas -, e o partido nacionalista escocês, que foi a surpresa das últimas eleições gerais na Escócia, aos tradicionais trabalhistas e conservadores, podemos de facto estar a assistir a uma corrida a seis.
 
Nigel Farage
"É a completa ruptura com o estabelecimento. Os britânicos cortaram com os três grandes", argumentava George Galloway no Twitter, também ele um inconformado que deixou os trabalhistas para formar o seu próprio partido, Respect, em 2004, e tendo sido eleito para Westminster em 2012 pelo seu novo partido.

Mas os conservadores também têm alguma auto-análise a fazer. Perderam no Sul, onde não estão habituados a ter de disputar o seu domínio. Andrew Grimson, editor da página de análise política "Conservative Home", explicou assim o sucedido: "David Cameron quis ser um conservador liberal e com isso conseguiu roubar terreno moral aos liberais-democratas, que não serve para muito, e abrir uma fenda no eleitorado conservador que agora sente que precisa de um partido de protesto".

Nick Clegg e Ed Miliband perdem apoio das bases
Em mais uma demonstração da autêntica esquizofrenia que reina na coligação entre conservadores e liberais-democratas, Nick Clegg, vice-primeiro-ministro e líder dos últimos, fechou a época de conferências com um discurso em que não só acusou os conservadores de "plagiarem" as medidas do seu partido, como garantiu que a "criação de um parlamento inglês é mais que um embuste proposto por David Cameron para dar mais poderes aos seus próprios deputados".
 
Luke Akehurst
Aproveitando a onda mediática, Ed Davey, responsável pela pasta da Energia dos liberais-democratas, pôs em causa da liderança de Nick Clegg e disse que a "Cleggmania" que se apoderou do país em 2009 e 2010 está a esfriar e que "os cidadãos já não estão apaixonados pelo partido".  É preciso uma nova cara, garante Davey - isto se o partido pensa em reverter a terrível prestação nas eleições europeias e em todas as sondagens desde aí. 

Para Ed Miliband, líder dos trabalhistas, as coisas também não estão fáceis. Um dos seus deputados, não identificado pelos jornais, terá dito que Miliband é "uma tragédia para o partido e nunca ganhará as eleições". 
 
CAMERON
Outras críticas, mais específicas, chegam de Simon Danczuk, deputado por Rochdale, uma cidade na periferia de Manchester que acusou o líder de ter de se revelar "anti-mercado" e de se manter dentro "da sua bolha liberal no Norte de Londres". Sítio de onde "nunca fala dos problemas da emigração nem da necessidade de reforma do sistema de segurança social". Diz Danczuk que se Miliband não apontasse só para a massa urbana educada "que lê o Guardian" e fosse passar um tempo a Rochdale, os problemas da imigração seria muito mais claros.

Quando até os trabalhistas reconhecem a necessidade de enfrentar a imigração de frente não custa muito entender qual será o tema desta campanha.

* Também gostaríamos que acontecesse um terramoto político em Portugal, os partidos com assento "paralamentar" aburguesaram-se, formaram uma elite, precisam de que se lhes tite o tapete.

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