05/10/2014

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ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"


Eles andam preocupados connosco. 
Até nos sentenciam ao Facebook
 só para o provar

Há uma nova rede social que tem um manifesto que versa assim algures: "Nós acreditamos que uma rede social pode ser uma ferramenta para dar mais poder às pessoas. Não uma ferramenta para enganar, coagir e manipular - mas um lugar para ligar, criar e celebrar a vida. Tu não és um produto". Se o utilizador discordar deste manifesto, é reencaminhado para o Facebook. Há muita gente a concordar - e isto está a tornar-se viral.

Digam " Ello " à nova rede social. É independente, o acesso é feito por convite, e, ao que parece, desta vez não vai mesmo haver anúncios. Estas são as novidades. Depois, vem aquilo que já é familiar: os utilizadores podem partilhar atualizações de estado, mudar a foto de perfil, adicionar amigos, seguir pessoas e classificar os seus contactos em "Friends" ou "Noise", conforme aquilo que queiram ou não ver.

Assim que entramos no site - design minimalista, em tons de branco, preto e cinzento, e um logotipo, um smile preto e branco, que dizem ter sido inspirado na máscara de Guy Fawkes - somos convidados a ler um manifesto. Diz assim: "A tua rede social é propriedade de anunciantes. Cada 'post' que partilhas, cada amigo que fazes e cada link que segues é monitorizado, gravado e convertido em dados pessoais. Os anunciantes compram os teus dados pessoais para poderem mostrar ainda mais anúncios. Tu és o produto que é comprado e vendido. Nós acreditamos que há um caminho melhor. Nós acreditamos na audácia. Nós acreditamos na beleza, na simplicidade e na transparência. Nós acreditamos que as pessoas que fazem coisas e as pessoas que as usam devem fazê-lo em colaboração. Nós acreditamos que uma rede social pode ser uma ferramenta para dar mais poder às pessoas. Não uma ferramenta para enganar, coagir e manipular - mas um lugar para ligar, criar e celebrar a vida. Tu não és um produto."
No fim, podemos concordar ("I Agree") ou discordar ("I Disagree"). E se optarmos pela última, somos reencaminhados para a página do Facebook. Se dúvidas havia de que se tratava de um manifesto anti-facebook...
Paul Budnitz, um tipo de 47 anos que faz brinquedos e bicicletas e escreve livros, é quem tem dado o corpo à bala desde que o Ello, ainda em versão teste, começou a andar nas bocas do mundo. Budnitz é um dos sete fundadores, entre artistas e designers. "Eu e os meus colegas estávamos fartos das outras redes sociais - fartos de anúncios, fartos de lixo e a sentir-nos manipulados e enganados por companhias que claramente não querem saber dos nossos interesses", dizia Budnitz ao site "BetaBeat". 
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O "Ello" foi lançado em abril deste ano. Na altura não deu muito nas vistas, mas entretanto tornou-se viral - num dos últimos dias de stembro, por exemplo, chegou a registar 31.000 novos utilizadores por hora, de acordo com a Vox. Um número que parece não impressionar Budnitz. "Nós não somos o Facebook. A nossa missão nunca foi crescer muito depressa. A nossa missão aqui é fazer uma boa rede social. Não queremos ser bombardeados com muitas pessoas porque isso não é bom para a rede".
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Anotem esta promessa
Mas afinal como é que isto de se ter tornado viral aconteceu? E aqui entra o Facebook outra vez. O gigante das redes sociais envolveu-se recentemente numa polémica com algumas "drag queens", cujas contas foram canceladas por se identificarem com o nome artístico e não com o de nascimento. A comunidade LGBTQ juntou-se ao barulho e depois disto assistiu-se a uma espécie de êxodo facebookiano com destino ao "Ello", onde não existem restrições. 
Mas há mais. Paulo Frias, professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, curso de Ciências da Comunicação, considera que o sucesso recente do "Ello" pode estar relacionado com o manifesto divulgado no site, "uma proposta de intenções onde fica explícito que esta é uma rede contracorrente, que pretende combater muitas ideias das redes sociais mais comerciais". Por outro lado, pode também ter que ver com a política de utilização de dados do Facebook, que tão criticada tem sido. "Estas situações dão sempre origem a momentos de rutura, quebra e aparecimento de propostas alternativas."
O "Ello" pode vir a ser apenas mais uma rede social falhada. Falhada como o Diaspora, criado em 2010, que também é anti-facebook e também garante mais privacidade e também defende mais poder para os utilizadores e também permite que as pessoas não se identifiquem. 
Falhada como o iTunes Ping, que permitia aos fãs seguirem e interagirem com os seus artistas preferidos, e foi considerada pela CNN "um dos dez maiores falhanços tecnológicos de 2010", ano em que foi criada. 
E falhada como o Orkut, a primeira rede social do Google, fundada em 2010, e que foi finalmente encerrada esta semana por não ter conseguido captar um número de utilizadores significativo, apesar do sucesso no Brasil e na Índia. Três exemplos de redes sociais que falharam por não terem conseguido apresentar "um modelo suficientemente apelativo, rentável e atrativo para as empresas", observa Paulo Frias. Três exemplos de redes que, ao contrário do Facebook, não conseguiram "acompanhar as necessidades do mercado e absorver a vontade e necessidade que as pessoas têm de partilhar informação e expor a sua vida e interesses." 
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Os fundadores do "Ello" garantem que desta vez não vai mesmo haver anúncios, mas ainda não explicaram como é que o vão tornar sustentável. Sabe-se que a rede social beneficiou de investimentos pessoais, assim como de um montante de cerca de 435 mil dólares (345 mil euros) investido pela empresa de venture capital FreshTracks. O fornecimento ocasional de serviços ao utilizador parecer ser uma opção. Mas há quem diga que os fundadores vão acabar por ceder. E a isto responde Todd Berger, que foi um deles, em entrevista ao site "BetaBeat": "Se alguma vez vendermos os dados dos nossos utilizadores ou publicarmos anúncios, todos - incluindo nós - deixaremos a rede". Eles prometeram. 
E o que vai ser do Facebook? "Estamos a falar de um modelo de nicho, não um modelo mainstream. Não tem comparação direta como uma coisa mais massificada". Mas a memória desta vez não trai. "O Facebook, quando surgiu, não tinha o propósito que tem hoje. Também serviu para um nicho. O objetivo inicial nunca foi constituir-se como uma rede social com um bilião de utilizadores." Mas aconteceu. 
E de ti Ello? Que vai ser de ti?

* Gostamos de proposta de "contra cultura" gostamos saber da existência de gente que deseja alterar o "bas fond" chamado redes sociais, queremos ver para aplaudir.


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