28/10/2014

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326.
Senso d'hoje
   
MARIA FILOMENA

MÓNICA
SOCIÓLOGA  DE EDUCAÇÃO
SOBRE EDUCAÇÃO EM PORTUGAL
 

A União Europeia não tem legitimidade democrática, é eleita de uma maneira estapafúrdia, os debates parlamentares duram um minuto e dois segundos por deputado e, além disso, é corrupta. E a corrupção, quando é denunciada, as pessoas que dizem, há casos mais ou menos conhecidos, são despedidas. Não tenho a menor confiança em que os dinheiros da União Europeia estejam a ser bem aplicados e a culpa é de Bruxelas e de Portugal, no nosso caso. Há uma espécie de aliança entre duas tecnocracias em que o cidadão não pode intervir porque não é chamado.  

Acreditei sempre que a enorme desigualdade social que havia em Portugal em 1974 iria ser gradualmente eliminada quer através da repartição dos impostos, quer através da escola. É verdade que temos muito mais gente na escola, temos é gente que não aprende nada. E não é por causa dos professores ou dos alunos, é por culpa dos ministros. Tivemos 27 ministros em 30 anos, mal aqueceram a cadeira. Tiveram as ideias mais extraordinárias e loucas que já vi... 

Se pegar em mil alunos quando eu entrei para a primária e mil alunos agora, os mil alunos do meu tempo vinham da classe média e 100 eram bons porque em casa falavam de Sócrates e Platão ou se não falavam ouviam vagamente - as classes altas em Portugal são particularmente analfabetas se comparadas com as europeias, as classes médias davam mais importância à cultura, as altas ao sangue, ao pergaminho e ao apelido. Agora, em mil talvez haja 200 bons alunos, mas os outros não sabem nada de nada e nunca vão saber. Portugal tinha a maior taxa de analfabetismo da Europa em 1974 e a escola não está a conseguir dar-lhes a cultura dita superior porque está a ser inundada por circulares do ministério.  

* Excertos de entrevista ao jornal "i"
(aconselhamos a ler esta entrevista)

** Um exemplo de inteligência e coragem, felizmente há muitas portuguesas assim.


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