01/10/2014

ANA SÁ LOPES

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Primárias, uma vitória
dolorosa de
 António José Seguro

Seguro não vai deixar o combate à promiscuidade entre política e negócios. Na hora da despedida dolorosa, ficou feito o aviso. Na derrota, uma vitória: "Com as primárias fizemos história"

Ainda uma noite eleitoral vai a meio e já qualquer taxista sabe quem vai perder ou quem vai ganhar as eleições. É muito fácil porque é sempre a mesma coisa: há imenso trânsito junto à sede do vencedor, que está cheia a abarrotar; a sede do derrotado não tem ninguém, com a excepção de uma representação decente de apoiantes íntimos. Foi assim ontem, no Largo do Rato. Ninguém gosta de partilhar derrotas a não ser a família e os seis amigos que cada um tiver. 

 Ontem, Seguro teve ao seu lado Margarida Freitas, a mulher, a filha Maria e um pouco mais de seis amigos. João Assunção Ribeiro, o antigo porta-voz do PS, veio da Coreia do Sul onde agora trabalha para estar com o secretário-geral na noite que toda a gente sabia que iria ser de derrota. Álvaro Beleza chegou pouco tempo depois de Seguro ao Largo do Rato, Ana Gomes também, João Proença, Alberto Martins, Miguel Laranjeiro, Maria de Belém, Manuel Machado, Marcos Sá e alguns outros. O esforço que fizeram para aplaudir estrondosamente de pé Seguro dava a estranha ilusão de serem muitos. 

Foi Seguro que admitiu que tinha sido uma noite de "muitas emoções" e que "estava emocionado", mas não chorou em público quando fez o discurso em que anunciou o fim de um dos sonhos da sua vida: ser candidato a primeiro-ministro pelo PS. A derrota de Seguro tinha em si uma vitória - a institucionalização das primárias - que reforça perante o país a posição do seu adversário interno. Álvaro Beleza definiu a noite assim: "Um duplo sentimento estranho". E foi tudo assim, um vendaval de sentimentos duplos e estranhos, que é a história das derrotas desde o princípio do mundo, mesmo sem primárias. 

"Juntos fizemos história", diz António José Seguro, invocando a implantação das primárias e o seu sucesso e o "orgulho por ter apresentando a iniciativa e tudo ter feito para aprovar as primárias em Portugal". Era a sua única vitória do dia e levantou-a ao alto: "As primárias são a melhor comemoração do 25 de Abril de 1974". Seguro dirigiu-se expressamente ao adversário: "Felicito democraticamente o dr. António Costa e todos os que ganharam as eleições. O PS escolheu. Está escolhido. Ponto final". 

Seguro volta agora a ser militante de base, estará ausente do próximo congresso do partido, mas não acabou a sua vida política aqui. Ele fez questão de o dizer expressamente e não foi com frases misteriosas como a que ficou famosa quando foi dita por Santana Lopes: "Vou andar por aí". O secretário-geral do PS, no momento em que anuncia o cessar de funções, diz também a quem o quer ver politicamente morto que não vai fechar-se em casa. 
"O compromisso com as causas que defendemos não depende dos cargos que ocupamos, mas da força das nossas convicções", disse. E anunciou que vai continuar várias batalhas, a começar por uma que dominou a sua campanha interna, a da "separação entre política e negócios", a da "maior transparência na vida pública", a do "cumprimento das promessas feitas", a da Europa mais socialista.

Sobre a sua herança no PS, também quis insistir na mensagem de que conseguiu "transformar o PS no maior partido de Portugal" e nas "duas vitórias eleitorais consecutivas contra a coligação de direita", num tempo adverso, com "governo de direita, Presidente da República de direita, presidente da Comissão Europeia de direita e troika". 

Álvaro Beleza sentia-se "triste porque o meu amigo António José Seguro perdeu" e "alegre porque a minha ideia das primárias veio para ficar e foi um dia fantástico". Conclusão de Álvaro Beleza: "Quem abriu o partido foi António José Seguro, quem ganhou foi António José Seguro".
E é aqui que está a vitória amarga de Seguro: ficará para a história do PS como o homem que introduziu as primárias para a escolha de primeiro-ministro, ideia que depois deste sucesso dificilmente será revogada. 
E deu a António Costa, feroz adversário desta solução em Maio, uma legitimidade acrescida tendo em conta a participação e a votação. "Ganhou o PS", dizia, antes de se saber qualquer resultado, um colaborador de Seguro. Afinal, nenhuma das pessoas que apareceu ontem no Largo do Rato estava à espera de ganhar outra coisa que não as primárias.

Alberto Martins também sai
Além da saída de António José Seguro do cargo de secretário-geral, na noite de ontem houve outra demissão entreo os socialistas. Alberto Martins, líder do grupo parlamentar e apoiante do líder agora demissionário, anunciou também a demissão de funções.

IN "i"
29/09/14

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