22/09/2014

PAULO BALDAIA

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Desculpem, 
estamos em campanha!
 
Os ministros da Justiça e da Educação pediram desculpa aos portugueses, mas o que estavam a fazer era a pedir desculpa ao partido.
Curvaram-se perante os militantes e dirigentes, bem sabendo que as trapalhadas técnicas prejudicam a campanha que está em curso, desde que Passos Coelho, prometendo não voltar a mexer em medidas chumbadas pelo Constitucional, anunciou ter desistido de governar. Se verdadeiramente quisessem pedir desculpa aos portugueses tinham vários problemas estruturais pelos quais se penitenciar.

No caso da Justiça, existe até a desculpa de que é preciso esperar algum tempo para perceber se as várias reformas vão mudar o estado calamitoso em que ela ainda se encontra. Veremos se algum dia deixará de existir a justiça dos ricos e a justiça dos pobres que a todos prejudica, perdida na eternidade dos processos. Não se procure tapar o sol com uma peneira à custa de umas condenações a ex-poderosos.

No caso da Educação, a insensibilidade social deste ministro na forma como gere o ensino especial é que arrepia. Nunca vi igual. São quase 50 mil crianças com necessidades especiais, tratadas como mera estatística, olhadas como ricas por causa dos parcos rendimentos dos familiares directos, vítimas de um desinvestimento que remete para a velha lógica em que se ensinava o custo de cada aluno, demonstrando matematicamente que um bom aluno era mais barato do que um mau aluno e que um aluno com deficiência era mais caro do que o bom e o mau juntos.
Não é aceitável ficar calado depois de ver reportagens consecutivas (honra seja feita ao serviço público da RTP) sobre alunos com necessidades especiais e por quem o Estado perde o interesse. É aqui que reside a política. Gerir a vontade dos lóbis, sejam sindicatos ou ensino privado, é coisa que qualquer um pode fazer. Fácil também é pedir desculpa. Difícil é ocupar a cadeira do poder para defender os mais fracos, mesmo que isso não renda um único voto.

Desculpe, senhor ministro, não o conheço pessoalmente e posso até estar a ser injusto consigo face ao esforço que faz para gerir esse ministério. A verdade é que nunca senti tanta incompetência social na tutela da Educação, como agora. Há mais política na ajuda a quem tem necessidades especiais do que na revolução contabilística que julga estar a fazer na escola pública. Evite as desculpas, dê mais atenção às crianças que precisam do apoio de todos nós. Se não for por elas, para que serve o Estado? Para que serve ser ministro?

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
21/09/14

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