05/09/2014

CRISTINA AZEVEDO

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Amazónia e Facebook

São estes os dois territórios referenciais da nova candidata à Presidência do Brasil. Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, formalmente nomeada como candidata à Presidência pela coligação Unidos pelo Brasil, liderada pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro), depois do acidente que vitimou Eduardo Campos, é uma mulher a quem se pede que assuma e resolva todos os paradoxos.

Formada para a política no epicentro da luta pela defesa e "União dos Povos da Floresta", liderada pelo carismático e hoje internacionalmente reconhecido Chico Mendes, é pela bandeira da defesa ambiental e do desenvolvimento sustentável que Marina Silva é maioritariamente reconhecida.

Este é o seu território político e é nele que constrói um percurso consistente e com provas dadas. A sua passagem pela Câmara Estadual, Federal e pelo Ministério do Meio Ambiente, no Governo de Lula, fica marcada por uma ação eficaz e dialogante. O plano para a Prevenção e o Controle de Desmatamento da Amazónia Legal, que criou e implementou enquanto ministra do Meio Ambiente é disso excelente exemplo. Contou com o esforço integrado de 14 ministérios e fez cair o desmatamento da floresta Amazónica em 57% num período de apenas três anos.

Ferozmente contestada por setores económicos relevantes para o país, como o do agronegócio, Marina Silva terá desde logo a dificílima tarefa de impor uma visão sustentável do desenvolvimento económico sob pena de renegar o seu legado.

E é aqui que o seu segundo território, o das redes sociais, pode vir a fazer a diferença. Por via de regras estabelecidas e que regulam o tempo de antena de acordo com a expressão eleitoral da base de apoio dos candidatos, Marina Silva teve direito a apenas 1 minuto e 23 segundos de tempo de antena gratuito aquando da sua primeira candidatura à Presidência - pelo Partido dos Verdes em 2010.

Para ultrapassar esta restrição, privilegiou a Internet e as redes sociais, estratégia inédita ao tempo no Brasil. Ficou em terceiro lugar com 20% dos votos válidos. A melhor votação de sempre para um terceiro classificado.

A dificuldade que a fez entrar cedo nesse território onde hoje muito se joga e cujas comunidades são especialmente sensíveis às organizações em rede e à mudança pela sustentabilidade, podem alterar muito significativamente os cálculos que até agora se vinham fazendo.

O tema da rede, enquanto modo de governação não hierarquizado e construído de baixo para cima no respeito permanente pela ação e envolvimento político de proximidade, é mesmo o que norteia o movimento criado em 2013 pela candidata, a Rede de Sustentabilidade, inviabilizado como Partido pelo Tribunal Constitucional, e hoje cabeça de lista da coligação que teve de fazer com o Partido Socialista Brasileiro ao tempo liderado pelo malogrado Eduardo Campos.

Frágeis, como a aparência despojada e com auréola de santidade da candidata, estes dois múnus - a Terra e uma nova comunidade política atuante e descomprometida com os "suspeitos do costume"- pouco poderão contra uma oposição (PT de Dilma Rousseff e Lula e PSDB de Aécio Neves) dominadora da real politik e do tempo de antena televisivo.

Mas, pelo menos, obrigam a campanhas mais expostas e mais explicativas. Sinal disso mesmo as incontáveis reuniões, cimeiras e manifestos pedindo mais deslocações a Dilma Rousseff e Lula da Silva, e mais ataque frontal à inexperiência de Marina Silva por parte da campanha de Aécio (com longa e bem avaliada carreira política e neto de Tancredo Neves).

Aúltima sondagem publicada pelo IBOPE dá conta de uma evolução espetacular da coligação agora chefiada por Marina Silva. De uns magros 9% aquando da última sondagem em vida de Eduardo Campos, passou para 29% em nova sondagem publicada a 26 deste mês, tendo originado uma quebra de 4% nos números de Dilma e de Aécio Neves.

A preocupar ainda mais os candidatos "clássicos" a mais baixa taxa de rejeição de Marina Silva e ainda a perceção de que será a candidata que mais poderá beneficiar do voto dos cerca de 8% que ainda se dão por indecisos.

Está em curso, até 5 de outubro no Brasil um duelo, especialmente importante não apenas pelo resultado que produzirá mas, sobretudo, pelos novos territórios políticos que o determinarão.

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
29/08/14

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