12/09/2014

.
HOJE NO
"i"

Divisão no PS entra pela casa da família Soares

Mário Soares apoia Costa, João está com Seguro e Maria Barroso preferia que o confronto tivesse sido mais cedo, mas não revela quem apoia

Lá em casa "cada um pensa pela sua cabeça". A frase é dita por Maria Barroso, fundadora do PS, em resposta à pergunta sobre como é que a família Soares está encarar as eleições primárias no PS. Maria Barroso sorri e garante que "há unidade entre todos nós". 
.
UMA SENHORA
O sorriso não é inocente. A divisão no PS entrou pela casa da família Soares: o fundador do partido está ao lado de Costa, João Soares está com Seguro e Maria Barroso prefere não apoiar publicamente nenhum dos candidatos, mas, ao contrário do marido, acha que esta luta interna enfraquece o PS. "Tenho pena que eles tenham procurado esta altura." 

A ideia de que Costa devia ter avançado "antes" encaixa nas teses de Seguro, mas a fundadora do PS garante que tem "consideração pelos dois". A entourage de Seguro tem passado a mensagem de que Maria Barroso está com ele, mas nem os mais próximos arriscam um palpite. "Ela é rigorosamente reservada", diz um amigo da família. Há, pelo menos, uma pista que podemos seguir. Antes de o PS entrar em guerra já Mário Soares andava irritado com Seguro e ficou fulo por só ter sido convidado à última hora para a tradicional descida do Chiado, nas eleições europeias. Soares não foi, mas Maria Barroso quis dar "um beijinho e dar felicidades". Seguro registou: "É uma distinta socialista, um gesto de grande importância política." 

Mário e Maria Barroso são casados há mais de 65 anos e a política já os dividiu várias vezes. A última foi quando Soares surpreendeu tudo e todos e avançou com uma nova candidatura a Belém. Lá em casa ninguém concordou: "Toda a gente foi contra. Fizemos um jantar de família, e até os netos já crescidos e toda a gente se pronunciou contra. Até a minha mãe", conta, na biografia de Soares de Joaquim Vieira, Isabel Soares, a mais discreta da família. 

Não foi a primeira vez que a política dividiu o casal. Em 1973, Soares quis transformar a Acção Socialista Portuguesa (ASP) num partido e Maria Barroso esteve entre os sete socialistas que votaram contra. Soares recordou, mais tarde, que a sua "própria mulher votou contra", mas não fez "pressão" para a convencer a ficar ao seu lado. "Votou como entendeu", disse. O contrário também é verdade. Numa entrevista ao "Expresso", Maria Barroso assume que a sua influência nas decisões do ex-Presidente da República era "muito pouca". 

As divergências entre pai e filho também foram públicas. Ao ponto de João Soares assumir na praça pública que o artigo do pai, no jornal "Público", a declarar apoio a Costa era "um disparate". João disse-o com "toda a ternura" e um dos maiores amigos da família garante que as divergências públicas não se transformam em guerras privadas. "Não belisca rigorosamente nada a relação familiar. Cada um respeita o outro", conta Vítor Ramalho, garantindo que a política "jamais beliscou a relação entre pai e filho". 

No dia em que criticou publicamente o artigo em que Soares desafiava o líder do partido a "saber retirar consequências da falta de adesão dos eleitores a um estilo nada identificado com o povo", João fez um pedido aos jornalistas: "Peço que respeitem o meu pai. O meu pai tem 90 anos. Respeitem o meu pai." 

As primárias no PS não são, porém, assunto que domine as conversas entre os dois. "Nunca os vi falar sobre essa matéria. Cada um tem a sua opção e respeitam isso", garante Ramalho. Maria Barroso confirma que as primárias não fizeram mossa nas relações familiares e garante que em casa de "democratas todos respeitam as opiniões uns dos outros". Aos 89 anos, Soares continua activo como poucos da sua idade. Promove encontros políticos - há menos de um ano juntou as mais diferentes personalidades, na Aula Magna, numa acção contra o governo -, participa em conferências, dá entrevistas e escreve artigos regularmente. A família preferia que o ex-Presidente da República, por motivos de saúde, tivesse outros cuidados. Mas Soares não abdica de uma vida cheia. "Levanta-se de manhã e pensa política, e vai ser até à morte", diz na biografia de Vieira, o ex-assessor cultural em Belém José Manuel dos Santos. 

* Apesar de não sermos seguidores de Mário Soares, nem de ninguém, reconhecemos-lhe uma enorme força e inteligência para ter a vida cheia. Há por aí gentinha que até chega a dizer que Soares está gágá, uns pedaços de asno.

.

Sem comentários:

Enviar um comentário