07/08/2014

JOSÉ LUÍS SEIXAS






O passarinho de Maduro

Noticiaram ontem os jornais que um passarinho se abeirou do presidente da Venezuela e lhe terá dito – certamente, trinado – que o Comandante Chávez estava muito feliz com a lealdade do seu povo.

O fenómeno seria insólito se Nicolás Maduro não revelasse uma propensão para os diálogos com a alma de Chávez utilizando recursos ornitológicos. Enquanto as aves venezuelanas trinam com o presidente, o céu português encobre-se e as andorinhas teimam em migrar. As coisas não estão para menos.

O início do estio revelou os prejuízos do BES. E fez descobrir a surpresa que estes causaram às próprias entidades reguladoras. Circunstância digna de espanto e, até, de substantiva perplexidade. O buraco que se adivinhava era, afinal, um rombo brutal com impactos incontroláveis no sistema bancário e na economia.

O grande banco do sistema e do regime parece indiciar muitas histórias mal contadas e muito facto por apurar. Não se fale apenas da família, do seu poder majestático ou da sua cupidez. A mão que obteve não pode agora ignorar a mão que propiciou.

E houve, certamente, muitas mãos a dar e muitas outras a receber neste caso que pode provocar um abalo significativo e impor o segundo resgate.

Esperar que um dia tudo se descubra será pedir muito. Sabíamos já que neste último decénio a idiossincrática concupiscência dos poderes, das influências e dos favores atingiu superlativos patamares. Portugal foi um imenso monopólio. E muitos foram os que participaram no jogo.

Acreditar que a banca agiu isolada e diletantemente é considerar verosímil a história do passarinho de Maduro.

IN "DESTAK"
29/07/14


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