23/08/2014

JOSÉ ANTÓNIO LIMA

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 Marinho Pinto 
na Casa dos Segredos

Dois meses depois de ter sido eleito para o Parlamento Europeu, Marinho Pinto veio revelar que abandonará o cargo já em 2015, cumprindo apenas um dos cinco anos do seu mandato.

«Tenciono candidatar-me à Assembleia da República, onde faço mais falta para resolver os problemas políticos dos portugueses», confessa com a sua habitual modéstia. «Isto sem prejuízo de, depois, poder também candidatar-me às presidenciais» que ocorrem logo daí a três meses, avisa Marinho. E fica a sensação de que poderá ainda concorrer à presidência da Liga de Futebol, que está vaga, ou a um lugar de destaque na Casa dos Segredos. Qualquer coisa que lhe dê notoriedade, audiências e visibilidade pública. Sabe-se que o ex-bastonário dos advogados gosta de subir a qualquer palco e de se mostrar ao povo.

Ora, Estrasburgo tem palco, mas não lhe dá grandes hipóteses de protagonismo, sendo ele apenas mais um no meio de 751 figurantes que compõem o PE. Ao perceber isso, Marinho Pinto ainda mal chegou e já está de saída. À primeira vista, faz lembrar as eurodeputadas socialistas Ana Gomes e Elisa Ferreira que, em 2009, concorreram em simultâneo às europeias e às autárquicas, sabendo que só poderiam cumprir um desses cargos.

Mas, num segundo momento, Marinho torna inevitável a comparação com Fernando Nobre. Que deixou uma votação presidencial episódica subir-lhe à cabeça e, apesar de encher os seus discursos de proclamações éticas e declarações de princípios, viria a desistir do seu lugar de deputado mal viu que não conseguia ser eleito presidente da AR e que não teria o protagonismo prometido.

Tal como Nobre, Marinho tem feito a sua curta carreira na política à base de um posicionamento pseudo-independente, supostamente antissistema, em tom justiceiro e de cariz populista, sem ideias políticas mas com muitas denúncias de interesses e injustiças. Rende dividendos e dá votos, mas esgota-se e esvazia-se em pouco tempo.

Marinho Pinto argumenta que vai abandonar o seu lugar em Estrasburgo porque «os problemas nacionais são mais graves que os europeus». Sem esquecer, claro, no seu caso, que os problemas pessoais ainda são mais graves que os nacionais.


IN "SOL"
18/08/14


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