25/08/2014

EZEQUIEL MOTTA MOREIRA DA SILVA

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Vergonhoso

Pensionistas, funcionários públicos, professores, PME’s e trabalhadores (etc) sofrem com a austeridade enquanto Ricardo Salgado paga três milhões de fiança e sai em liberdade. 

O contribuinte contribui mas o banqueiro refugia-se numa legalidade deveras nauseabunda. Os factos transformam-se subitamente numa densa neblina. Nós, cidadãos, vislumbramos apenas um simulacro labiríntico da realidade. Fala-se muito mas sabe-se muito pouco acerca dos contornos desta colossal trama financeira. A nefasta teia de cumplicidades que este escândalo evidencia parece transcender as fronteiras retilíneas da partidocracia vigente. 

São muitos os envolvidos e nem todos pertencem á mesma tribo. Nada parece escapar á força gravitacional da suspeita que alastra-se inexoravelmente pela sociedade. A cumplicidade dos muitos envolvidos dificulta a interpretação lúcida dos eventos. Nada é claro. O real parece uma mensagem encriptada. A linguagem que molda a narrativa é bizarra e alienante: “steering committee”, “time-line”, etc. A crença de que existe um mundo para além deste, paradoxalmente ocultado pela “transparência democrática”, depressa transformar-se numa certeza revoltante. Os céticos sentem-se vindicados, os ingénuos ultrajados. 

O Primeiro-Ministro Passos Coelho já percebeu que o futuro eleitoral da coligação depende em grande parte do desenrolar deste imbróglio. É verdade que não pode intervir em questões do foro judicial mas deve e pode fazer tudo para que não seja o estado Português (isto é, todos nós) a pagar pela irresponsabilidade e ganância dos senhores que criaram este problema. Não pode ser ou parecer negligente ao lidar com este delicado assunto. 

O Presidente Obama emprestou biliões de dólares á banca americana. Conseguiu assim impedir a mui temida “contaminação sistémica”. Não hesitou ajudar os banqueiros mas exigiu que todos os fundos disponibilizados pelo estado a Wall Street fossem pagos atempadamente e com juros. Além disso, criou um novo e mais austero sistema de regulação financeira. Os bancos pagaram as suas dívidas e adaptaram-se á nova moldura legal. É absolutamente imperativo que o governo Português aja de forma similar. Não apenas por interesse próprio mas em nome da legitimidade da democracia em que vivemos. Bem vistas as coisas, esta pode ser uma oportunidade de ouro para o Primeiro-Ministro. Só tem que ser justo, corajoso e resoluto. Não é pedir muito.

IN "AÇOREANO ORIENTAL"
19/08/14


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